Divisão entre marqueteiros mostra Bolsonaro propositivo na TV e agressivo nas redes
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma divisão interna entre os núcleos de comunicação da campanha de Jair Bolsonaro (PL) tem repercutido nas peças de divulgação do candidato.
De um lado, o marqueteiro Duda Lima, homem de confiança do partido de Valdemar Costa Neto, tem cuidado das peças do horário de televisão e rádio de Bolsonaro, com uma diretriz mais propositiva e que tendem a construir o candidato como um político com projetos para o país. A ideia é reduzir a rejeição daqueles que não gostam da postura agressiva do presidente.
De outro, Sérgio Lima, mais próximo de Bolsonaro e seus familiares e que produz conteúdo para as redes sociais do candidato com a proposta de enfatizar a faceta raiz, com discurso mais agressivo. Seu objetivo é o de reavivar o sentimento antipetista de 2018 e criar um movimento contra a volta de Lula (PT) ao poder. Em sua visão, quem rejeita Bolsonaro não mudará de ideia agora.
A divisão tem resultado em um Bolsonaro duplo: na TV, mais propositivo e formal. Nas redes, mais incisivo e agressivo, em linguagem mais próxima à que sempre adotou em sua trajetória parlamentar.
Nas inserções televisivas, as peças de Bolsonaro até o momento falam em Auxílio Brasil, Pix e fazem um aceno ao eleitorado feminino, com a presença de primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Nas redes, o núcleo de comunicação bolsonarista fez recortes dos momentos mais incisivos do presidente no debate de domingo (28) e distribuiu nas redes, com foco especial às acusações de corrupção a Lula e às vezes em que chamou o adversário de "ex-presidiário".
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, está em preparação um vídeo para as redes sociais com deslizes do petista. Devem entrar na seleção falas recentes em que Lula defendeu o direito das mulheres ao aborto, sugeriu que policiais são diferentes de pessoas comuns e recomendou a seguidores que fizessem pressão sobre deputados bolsonaristas e suas famílias indo às portas de suas casas.
Na campanha, as avaliações sobre os efeitos da divisão também são variadas. Há quem entenda que os públicos são distintos e que dessa forma Bolsonaro tem uma comunicação adequada para cada um deles, o grande eleitorado e o núcleo fiel.
Quem tem essa interpretação enxerga que essa dissonância pode ser até produtiva ao potencializar a imagem de um Bolsonaro rebelde, que não pode ser controlado pelo marketing.
Mas também há a percepção de que o presidente pode parecer falso ao cultivar imagens que se contradizem.