Bolsonaro manda Exército liberar caminhões para 7 de Setembro; governador diz que barrará
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) determinou nesta terça-feira (6) a liberação de caminhões para acesso à Esplanada dos Ministérios, desautorizando uma ordem das forças de segurança (SSP-DF, PM-DF e Comando Militar do Planalto) que vetaram a entrada desses veículos como medida de segurança no 7 de Setembro.
A ordem foi enviada para os organizadores do evento. Fontes envolvidas nas comemorações informaram ao jornal Folha de S.Paulo, sob reserva, que os caminhões devem ficar estacionados na Esplanada dos Ministérios durante desfile militar. Militares do Exército já estão cadastrando cerca de 60 veículos que devem entrar na Esplanada.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), porém, afirmou à Folha de S.Paulo que vai proibir a entrada de caminhões na Esplanada. "Não vai entrar [nenhum caminhão]. A segurança é do Governo do Distrito Federal. Eles só vão entrar se for por ato de força, o que não vamos permitir", disse.
"A Esplanada está fechada [para o trânsito de veículos] e só vai entrar caminhão se depender de minha ordem. Vão entrar pessoas, como estava definido. A Polícia Militar está lá e a ordem é não entrar ninguém", completou.
Ibaneis ainda disse que a segurança do 7 de Setembro foi "combinada com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o STF (Supremo Tribunal Federal), com participação da Presidência da República". O governador, que é aliado político do presidente, afirmou que não conversou com Bolsonaro sobre o assunto.
Na noite de segunda (5), a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal bloqueou preventivamente a Esplanada após detectar a tentativa de acesso de caminhoneiros ao local.
De acordo com pessoas envolvidas na segurança do 7 de Setembro, mais de dez caminhões tentaram driblar as proibições e ingressar na área bloqueada para esse tipo de veículo.
O veto à entrada dos veículos na Esplanada era uma das prioridades da segurança do STF para o 7 de Setembro.
No ano passado, caminhoneiros apoiadores de Bolsonaro romperam as barreiras de segurança na véspera do Dia da Independência e pressionaram para invadir o prédio do Supremo.
À época, o presidente do STF, Luiz Fux, ligou para diversas autoridades ligadas à segurança do 7 de Setembro para garantir que teria apoio contra a investida dos caminhoneiros.
Fux conversou com Ibaneis Rocha, com o então comandante militar do Planalto, general Rui Yutaka Matsuda, e o secretário de Segurança Pública local, Júlio Danilo.
A decisão foi não forçar a retirada dos veículos e encontrar uma saída negociada com as lideranças. Os caminhoneiros deixaram o local na madrugada do dia 9 de setembro.
Para este ano, a segurança envolveu um número maior de servidores da Secretaria de Segurança Pública, além de militares e funcionários de outros órgãos públicos e tribunais superiores.
O movimento de apoiadores de Bolsonaro em Brasília começou a crescer nesta terça, e os tratores que irão desfilar na cerimônia do Bicentenário da Independência chegaram à cidade.
A expectativa é que 27 tratores estejam presentes no desfile, um representando cada estado do país. Eles vieram com apoio do movimento Brasil Verde e Amarelo e foram custeados pelos ruralistas do grupo em Goiás, Bahia, Tocantins e São Paulo.
O 7 de Setembro, quando tradicionalmente ocorre uma apresentação cívico-militar, vem sendo usado por Bolsonaro para inflamar seus apoiadores e energizar sua campanha à reeleição. A presença de tratores, por exemplo, é um aceno dele ao agronegócio, setor onde tem forte apoio.
Da cidade de Jataí (GO) saíram pelo menos três tratores. O ex-vereador da cidade pelo PSDB, Victor Priori, foi um dos que contribuiu com um veículo. Ricardo Caleffi, produtor rural e empresário da região, afirmou que o custo do envio da máquina é de cerca de R$ 9.000.
O produtor rural Vanderlei Secco, membro do Sindicato Rural de Rio Verde (GO), disse que gastou de R$ 7.000 a R$ 8.000 com a operação, mas ressalta que ele já era dono do trator que transportou o veículo até a capital, o que reduziu as despesas.
"Em outros governos a gente vinha para Brasília para protestar. Agora viemos pela quarta vez para fazer um movimento social, para fazer desfile e principalmente porque queremos um país livre", afirmou ele, que disponibilizou um trator usado no plantio de soja e milho.
Há previsão que Bolsonaro participe dos desfiles militares em Brasília e também no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, os atos se concentrarão em Copacabana. O presidente deve ficar numa estrutura montada pelo Comando Militar do Leste, com a participação de ministros, comandantes das Forças e aliados.
A programação prevê salvas de canhão, parada com navios militares e demonstração da Esquadrilha da Fumaça, além de salto de paraquedistas e apresentação de banda militar. Depois do evento oficial, haverá uma manifestação política em apoio a Bolsonaro.
Em Brasília, o ato político acontecerá na mesma Esplanada dos Ministérios que será palco do desfile. O movimento Brasil Verde e Amarelo pagou para expor cartazes nos arredores da capital federal convocando para o ato.
O ativista Dom Werneck, 45, integra movimentos intervencionistas que defendem a ditadura militar (1964-1985) e afirma que muitos alinhados a ele, sobretudo da região Sul, estarão presentes nos atos.
Werneck critica a recente decisão do ministro Edson Fachin, do STF, que suspendeu medidas de Bolsonaro para facilitar o acesso a armas; e também a do ministro Alexandre de Moraes, que atuou contra o grupo de empresários que defendeu num aplicativo de mensagens um golpe militar no país.
Desde segunda-feira (5), a reportagem passou pelos quatro pontos da cidade onde se espera que os apoiadores do presidente se concentrem em ônibus, trailers e barracas.
A chegada de seguidores do presidente se intensificou a partir da tarde desta terça, com forte presença de bolsonaristas também nos hotéis centrais da capital. Também houve quem aproveitou a véspera do ato oficial para visitar a Esplanada dos Ministérios, que está com o trânsito fechado.
Antes, na tarde de segunda, os locais estavam praticamente vazios, o que contrasta com o 7 de Setembro de 2021, quando dias antes do ato oficial, centenas de pessoas já se reuniam ?vale lembrar, no entanto, que no ano passado a data caiu em uma terça, o que possibilitou que muitos emendassem o feriado.