Episódios de violência e tensão se acumulam desde a pré-campanha eleitoral no Brasil
SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Episódios ligados a ameaças, ataques e tensão relacionados à disputa eleitoral têm se acumulado no Brasil desde a pré-campanha.
Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).
Dias depois, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.
Já nesta quinta (8) um homem que defendia o ex-presidente Lula foi morto por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).
O autor do crime passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva de Rafael de Oliveira, 24. Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política.
De acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime, ainda filmou o corpo.
A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano.
Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça, que tratava genericamente da necessidade de a corporação proteger aqueles que disputassem o Palácio do Planalto.
Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer.
Relembre a seguir alguns desses casos, em meio a mais uma eleição polarizada no país.
BOLSONARISTA É PRESO EM MT APÓS MATAR APOIADOR DE LULA
Um homem que defendia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi morto nesta quinta (8) por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).
O autor do crime passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva de Rafael de Oliveira, 24. Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política.
De acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime, ainda filmou o corpo.
O assassinato ocorreu na madrugada em uma fábrica de cerâmica localizada na zona rural do município de 32 mil habitantes. A decisão da prisão preventiva foi assinada pelo juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes e divulgada em audiência de custódia na tarde desta quinta.
Na decisão, o magistrado afirma haver, com base nos depoimentos dos policiais que realizaram a prisão e na confissão de Oliveira, "prova da materialidade e indícios suficientes" da autoria do crime.
CAMINHADA INTERROMPIDA NO RIO DE JANEIRO
Um ato político no Rio de Janeiro terminou com tensão no dia 16 de julho. Lideranças políticas e militantes de partidos de esquerda afirmam que um grupo encabeçado pelo deputado estadual bolsonarista Rodrigo Amorim (PTB) fez ameaças e interrompeu uma caminhada com a participação do deputado federal Marcelo Freixo (PSB). Freixo é pré-candidato ao governo estadual.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais. Políticos e militantes dizem ter sido encurralados por Amorim e outros homens na Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte do Rio. O local foi escolhido como ponto de encontro da agenda com Freixo durante a manhã.
Houve relatos de empurrões e xingamentos. Apoiadores do pré-candidato ao governo estadual também disseram que homens armados estavam na praça e que bandeiras foram rasgadas.
Amorim afirmou via assessoria que não houve violência física no episódio. O parlamentar argumentou que estava na praça da Tijuca porque o local era ponto de partida para um evento do PTB em São Cristóvão, também na zona norte do Rio.
MILITANTE PETISTA ASSASSINADO
O militante petista Marcelo de Arruda foi assassinado no dia 9 de julho quando comemorava seu aniversário com uma festa de temática do PT, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Ele foi baleado pelo policial penal federal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, que ficou ferido.
Em nota, o PT diz que ele foi vítima da "intolerância, do ódio e da violência política".
Arruda era tesoureiro do PT na cidade e foi candidato a vice-prefeito em Foz do Iguaçu nas eleições de 2020. No partido havia mais de dez anos, ele concorreu a vereador e a vice-prefeito pela sigla em eleições municipais recentes.
Segundo os relatos à polícia, Guaranho passou de carro em frente ao salão de festas dizendo "Aqui é Bolsonaro" e "Lula ladrão", além de proferir xingamentos. Ele saiu após uma rápida discussão e disse que retornaria.
De acordo com as testemunhas, Arruda então foi ao seu carro e pegou uma arma para se defender.
Guaranho de fato retornou, invadiu o salão de festas e atirou em Arruda. O petista, já ferido no chão, também baleou o bolsonarista. Uma câmera de segurança registrou o crime.
BOMBA CASEIRA EM ATO DE LULA
Um ato com apoiadores do ex-presidente Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo na noite de 7 de julho de um artefato explosivo que agravou a tensão na pré-campanha do petista, alvo de seguidos episódios de ataques nos últimos meses.
A bomba caseira, aparentemente feita de garrafa PET, foi lançada do lado de fora da área isolada em frente ao palanque, antes da chegada de Lula.
O suspeito de ter jogado o artefato teve a prisão em flagrante convertida em preventiva neste sábado (9). André Stefano Dimitriu Alves de Brito, 55, disse em audiência de custódia que é pescador, ganha R$ 180 por pesca e não completou o ensino fundamental.
Ele também informou que reside no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste carioca, com a família.
À polícia ele havia afirmado que não possui inclinação política e que teria jogado a bomba caseira como forma de protesto a uma alegada polarização ideológica que prejudicaria o futuro do país.
ATAQUE A JUIZ
O juiz federal Renato Borelli, que decretou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro em junho, foi alvo de um ataque em 7 de julho.
O carro do juiz foi atingido por fezes de animais, ovos e terra, em Brasília. O ataque ocorreu enquanto Borelli dirigia o veículo, saindo de casa em direção ao trabalho.
O material foi arremessado no para-brisa. Mesmo com a visibilidade prejudicada, Borelli conseguiu seguir até um local seguro. Ele não se feriu.
O ataque foi relatado ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). O caso foi revelado pelo site O Antagonista e confirmado pela Folha de S.Paulo.
Renato Borelli é juiz federal da 15ª Vara de Justiça Federal de Brasília. Foi ele quem autorizou a Operação Acesso Pago, da PF (Polícia Federal), que prendeu Milton Ribeiro e outros quatro, em 22 de junho, por suspeitas de corrupção no Ministério da Educação.
Logo após a prisão, Borelli recebeu centenas de ameaças de grupos de apoio ao governo Jair Bolsonaro (PL), que foram comunicadas à PF no dia seguinte à operação.
PROTESTO DA ESQUERDA IMPEDE PALESTRA
O protesto que impediu o vereador paulistano Fernando Holiday e outros pré-candidatos do partido Novo de falar em evento na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) trouxe à tona novamente o debate sobre quão tolerantes com opiniões divergentes são alguns setores da esquerda.
O grupo do Novo falaria em evento sobre cotas e financiamento organizado pela UJL (União Juventude e Liberdade), entidade estudantil liberal, no dia 29 de junho.
Sob o som de tambores e os dizeres "recua, fascista, recua, a Unicamp nunca vai ser sua", estudantes ligados à UJC (União da Juventude Comunista) protestaram contra a presença dos palestrantes, que disseram ter sido agredidos e que tiveram o microfone cortado.
Após o tumulto, o evento acabou não acontecendo.
Procurada pela reportagem, a universidade condenou o ocorrido. "A Unicamp é historicamente reconhecida como um espaço aberto ao debate de ideias, onde as divergências sempre estiveram subordinadas ao respeito às diferenças", disse a instituição em nota.
ATAQUE COM DRONE A ATO DE LULA
O agropecuarista Rodrigo Luiz Parreira, 38, apontado como um dos autores do ataque com drone a um ato com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foi preso no início de julho a pedido do MPF (Ministério Público Federal), que investiga o caso.
A prisão ocorreu não diretamente por causa do uso do drone, mas pela aquisição irregular de armas de fogo identificada pelo MPF. Rodrigo está no Presídio Uberlândia 1, segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).
O agropecuarista já tem condenação por estelionato em Minas Gerais e por roubo em Goiás.
O ato com Lula em Uberlândia aconteceu no dia 15 de junho e teve também a presença do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Foi a primeira aparição conjunta depois do anúncio da aliança dos dois partidos em Minas Gerais para a disputa das eleições de 2022.
Rodrigo e outros dois homens utilizaram o drone para lançar um líquido que seria veneno para matar moscas sobre militantes que aguardavam o início do ato. O produto é utilizado no meio rural em estábulos, por exemplo. Atingidos afirmaram que o líquido tinha cheiro de fezes e urina.
Os três foram detidos em flagrante no dia do ato por uso irregular de drone e liberados depois de assinarem um termo circunstanciado de ocorrência. Não havia licença para a operação do aparelho, que foi apreendido.
INVASÃO DE BOLSONARISTAS
Em junho, o ato de lançamento das diretrizes do programa de governo da chapa Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), em São Paulo, foi marcado pelo protesto de bolsonaristas que entraram no local.
O manifestante Caíque Mafra, pré-candidato a deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos, entrou no salão do evento, em um hotel nos Jardins (região central), durante os minutos finais da fala de Lula e chamou o ex-presidente de corrupto. O petista foi surpreendido, mas não deu resposta.
O bolsonarista também gritou em direção a Alckmin uma frase sobre "voltar para a cena do crime", em alusão a uma fala do ex-governador sobre o PT quando ainda era adversário.
O grupo de manifestantes era formado por outros dois detratores do petista. Eles foram encaminhados para a delegacia.
Em uma rede social, Mafra confirmou que era ele na cena e escreveu: "Questionei o corrupto do Lula e o Alckmin por sua fala e também chamei o corrupto de corrupto".
Após o protesto, os manifestantes foram retirados por assessores e seguranças, e a polícia foi chamada. Lula chegou a interromper sua fala e abreviou seu discurso. Alckmin ficou em silêncio, com o semblante sério. "Eu nem sei o que...", disse o petista sobre a situação, virando-se para o vice.
BOLSONARISTAS CERCAM CARRO DE LULA
Em maio, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por bolsonaristas na cidade de Campinas, interior de São Paulo.
Usando camisetas da seleção brasileira de futebol e segurando bandeiras do Brasil, o grupo xingou o petista enquanto o veículo em que ele estava tentava passar.
A manifestação ocorreu em frente a um condomínio onde Lula esteve no local para um almoço. O incidente ocorreu no momento em que ele deixava o local.
Nas imagens, o momento mais agitado ocorre quando um dos seguranças de Lula retira uma faixa que estava pendurada em um carro estacionado. Na faixa estava escrito "Lula Lixo". Alguns manifestantes perseguiram o segurança com xingamentos, o que elevou a tensão.