Haddad e Tarcísio repetem alvo em Rodrigo, que mira bolsonarista em debate

Por BRUNO B. SORAGGI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No terceiro debate entre candidatos a governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB) voltou a ser o alvo preferencial dos rivais Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Reportagem da Folha mostrou que parte da equipe do ex-prefeito prefere enfrentar Tarcísio, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno. Já Rodrigo e Tarcísio estão em uma disputa pela vaga no segundo turno da disputa, o que fez o governador mirar no ex-ministro.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (15), Haddad segue na liderança, com 36% (ele tinha 35% em 1º de setembro). Mas Rodrigo, que estava em terceiro, avançou de 15% para 19% e agora empata tecnicamente com Tarcísio (que foi de 21% para 22%) em segundo lugar.

Também participaram do debate realizado pelo SBT e uma série de veículos os candidatos Elvis Cezar (PDT) e Vinicius Poit (Novo). No debate anterior, realizado por Folha, UOL e TV Cultura, na última terça-feira (13), Rodrigo também foi o mais atacado pelos demais.

Haddad e Rodrigo se enfrentaram diretamente em uma pergunta do petista sobre o porquê do tucano ter aumentado impostos durante a pandemia --crítica também feita por Tarcísio ao governador ao longo do debate.

Haddad lembrou a retirada do passe livre para quem tem mais de 60 anos durante o governo atual, je João Doria (PSDB) e Rodrigo.

O tucano afirmou que vai retomar os benefícios fiscais que foram retirados pela sua gestão com Doria, assim como o passe livre. Ele acusou Haddad de aumentar impostos quando prefeito de São Paulo e quando participou da gestão de Marta Suplicy, que ficou conhecida como "Martaxa".

"Quem entende de imposto, taxa, de cobrar a população é você", disse Rodrigo. "Você vai se arrependendo do que fez com idosos, aposentados e vai voltando atrás em vez de assumir que errou", rebateu Haddad.

O petista ainda afirmou que Rodrigo esconde sua participação nas gestões de Celso Pitta, Gilberto Kassab (PSD) e Doria --"os três piores da história de São Paulo".

Num segundo embate direto, Rodrigo ressaltou que Haddad "perdeu para brancos e nulos em São Paulo" e afirmou que o ex-prefeito aumentou as filas de creche.

"A impressão que dá é que você quer varrer o passado que não te interessa. E que, quando dá errado, fala que está há cinco meses no governo. [...] Quem assinou o fim do passe do idoso foi você", disse Haddad.

"O Rodrigo tenta se apropiar do que não é dele, evocando 28 anos de tradição tucana, da qual ele não faz parte. Está há pouco mais de um ano no PSDB", completou.

O governador, por sua vez, acusou Haddad de ser conivente com o crime e com invasões de terras e de prédios. "Aqui é tolerância zero contra o crime", ressaltou.

Quando Haddad afirmou que a entrega de novas linhas de metrô "não caminha na velocidade desejada", Rodrigo respondeu citando o ex-governador Geraldo Alckmin, vice de Lula (PT) na chapa presidencial.

"Você tem andado no interior do estado de mãos dados com o ex-governador Alckmin. Poderia pergunta para ele como é difícil tirar as obras do papel", disse.

Tarcísio também teve Rodrigo como alvo no debate, acusando-o de anunciar medidas favoráveis a servidores apenas no período eleitoral. "Esse tempo todo tinha dinheiro em caixa e nada foi feito. E isso me surpreende", disse.

"Tarcísio, você chegou agora aqui. [...] Você não conhece, não viveu São Paulo", rebateu o tucano, referindo-se ao fato de o ex-ministro ser carioca.

O principal enfrentamento entre Tarcísio e Rodrigo, porém, se deu com relação às mulheres. Durante o debate, o governador buscou atingir o bolsonarista, seu adversário direto na briga pelo segundo turno.

Tarcísio também foi alvo dos rivais por conta de seus aliados, tema que Rodrigo já tem explorado na propaganda da TV.

Elvis afirmou que o candidato bolsonarista "anda com deputado que bate em mulher", em referência a Douglas Garcia (Republicanos), que hostilizou a jornalista Vera Magalhães no último debate; com deputado que "fala mal do papa", em referência a Frederico D'Ávila (PL); e "corrupto", em referência a Eduardo Cunha (PTB).

Douglas, que não chegou a agredir a jornalista fisicamente, foi ao debate passado como convidado de Tarcísio, que depois tentou se desvencilhar de qualquer elo com o deputado.

O candidato do PDT mencionou ainda o apoio de Tarcísio a Fernando Collor (PTB). Ao chegar para o debate, Tarcísio afirmou que não avaliou direito o risco de gravar um vídeo de apoio ao ex-presidente.

"Às vezes isso acaba respingando, gente não reflete no risco. A gente faz de boa-fé. Foi o que fiz", disse ele.

Também pegando carona no episódio do ataque de Douglas à Vera, mas sem mencioná-lo especificamente, Rodrigo listou suas medidas para as mulheres --público em que Bolsonaro não tem bom resultado.

Ao exaltar as mulheres, Rodrigo busca provocar um desgaste para Tarcísio. Num ato simbólico, o governador foi ao debate deste sábado com uma comitiva só de mulheres --sua esposa e filha, além de secretárias do seu governo.

Questionado sobre o episódio de Douglas, Tarcísio afirmou repudiar ataques às mulheres e prometeu uma secretaria de política para as mulheres, além de estimular o empreendedorismo feminino.

No debate, os candidatos tentaram reforçar suas marcas. Rodrigo afirmou não ter padrinhos e disse que ele é quem vai mandar no governo, não seus aliados, em referência a Haddad e Tarcísio.

Tarcísio, por sua vez, mencionou Bolsonaro na tentativa de colar em seu padrinho e listou entregas do Ministério da Infraestrutura em São Paulo --embora tenha sido criticado por Elvis pelo baixo volume de investimentos.

Poit voltou a dizer ser empreendedor e contrário à corrupção e aos privilégios da classe política. Em crítica ao STF (Supremo Tribunal Federal) que reproduz o discurso bolsonarista, o candidato do Novo afirmou que "a postura ditatorial não pode vir do STF".

Em contraponto a Poit e Bolsonaro, Haddad pregou respeito às instituições e aos demais Poderes. "Se o chefe do Executivo não respeitar a Justiça e o Parlamento, ele vai estar concorrendo para um regime autoritário", disse.