Entidades criticam ataques de Bolsonaro à imprensa e fazem ato em defesa de jornalismo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Assédio judicial, divulgação de dados pessoais e agressões físicas ou virtuais são violências sofridas por jornalistas e que aumentaram depois do início do governo Jair Bolsonaro (PL), segundo organizações ligadas à comunicação e aos diretos humanos.
Na noite desta terça-feira (27), 16 entidades fizeram um ato na PUC (Pontifícia Universidade Católica), na zona oeste de São Paulo, em defesa do jornalismo e da democracia.
O evento foi organizado por entidades como Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Federação Nacional dos Jornalistas, ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e Associação de Jornalismo Digital, com apoio de organizações como a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Grupo Tortura Nunca Mais e Comissão de Justiça e Paz.
"Em situações normais, o jornalismo não é e não poderia ser uma profissão de risco", afirmou Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), que discursou em nome de todos os organizadores do manifesto.
"O fato é que no Brasil dos últimos anos a violência contra os profissionais é uma preocupação constante e crescente da categoria inteira", disse.
Segundo ele, os profissionais também são agredidos, em grande medida, por Bolsonaro e por apoiadores incentivados pelas ações do presidente.
Zocchi citou levantamento da Fenaj de acordo com o qual em 2018 foram registrados 135 casos de agressões a jornalistas, contra 430 em 2021.
A Abraji registrou 353 ataques a jornalistas entre o início deste ano e a semana passada. Outra entidade do setor, a Repórteres Sem Fronteiras, contabilizou no primeiro mês de campanha eleitoral mais de 2,8 milhões postagens com conteúdos ofensivos a jornalistas brasileiros.
A repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello participou do evento e fez relatos sobre as agressões que tem sofrido nos últimos anos. Ela foi vítima de ataques sexistas de Bolsonaro.
Patrícia é autora de uma série de reportagens que revelou um esquema de contratação de empresas para realizar disparos em massa durante as eleições de 2018, que fizeram dela alvo preferencial de bolsonaristas nas redes sociais.
"É muito estranho que, desde 2018, nós jornalistas, nós repórteres, tenhamo-nos transformado em alvo. Em um país democrático, supostamente democrático, que tem um governo eleito democraticamente, mas que a imprensa se transformou em um alvo, especialmente as mulheres", disse Patrícia.
Ela lembrou os ataques que recebeu, entre eles, ligações, e ameaças de agressão física. Ela também recebeu muitas mensagens com conteúdo pornográfico.
Além de Patrícia, Bianca Santana, Juliana dal Piva, Flávia Oliveira, Carla Vilhena e outras jornalistas de diversos veículos de todo o Brasil participaram do evento com depoimentos em vídeo.
As profissionais contaram alguns dos casos de ataques sofridos e falaram sobre as consequências das agressões. Medo de exercer a profissão, depressão, e danos a saúde mental, foram alguns dos efeitos relatados.
Daniela Cristóvão, da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB, também esteve no evento e afirmou que quando um jornalista é ameaçado no desenvolvimento da sua profissão a cidadania de todos está ameaçada.
Na mesma linha ocorreu a participação de Ana Amélia, advogada e membro do grupo Prerrogativas.
"A liberdade de imprensa é essencial ao jornalismo. Não existe democracia sem a liberdade de imprensa e sem o papel essencial, sério, informativo do jornalista", disse.
"A principal aliada é a imprensa na luta pelos direitos humanos", disse Ariel de Castro, do Tortura Nunca Mais. "Imagina o que acontece com os jornalistas que estão na periferia, no interior, que não estão em grandes órgãos de imprensa. E o assédio judicial?", questiona.