Bolsonaro cita gesto da 'degola' e pede ao TSE para afastar Moraes de ação sobre lives

Por MATEUS VARGAS

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Três dias antes do primeiro turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para afastar o ministro Alexandre de Moraes do julgamento de ação que vetou a transmissão de lives eleitorais do Palácio da Alvorada.

Bolsonaro afirma que Moraes revelou "comportamento parcial" ao passar o dedo pelo pescoço, lembrando uma degola, durante votação deste caso em sessão da corte na terça-feira (27).

O TSE ainda não se manifestou oficialmente sobre o gesto do ministro, mas interlocutores de Moraes dizem que o sinal foi uma brincadeira dirigida a um assessor e não teve relação com Bolsonaro.

O chefe do Executivo pede, no documento apresentado nesta quinta-feira (29), para o tribunal derrubar decisão liminar (urgente e provisória) que impediu a realização das lives na residência oficial da Presidência, enquanto não houver julgamento final sobre o pedido de declarar Moraes suspeito no caso.

O requerimento está sob a relatoria do ministro Ricardo Lewandowski.

O questionamento a Moraes foi apresentado no momento em que escala o atrito entre Bolsonaro e o presidente do TSE.

Na terça-feira (27), o chefe do Executivo disse que Moraes "ultrapassou todos os limites" com a decisão de quebra de sigilo bancário de seu principal ajudante de ordem, tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, por ter atingido gastos da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Moraes ainda reagiu, no dia seguinte, a um documento apresentado pelo partido de Bolsonaro com contestações às urnas e levou o caso ao Inquérito das Fake News, que ele mesmo relata no STF (Supremo Tribunal Federal).

No pedido apresentado ao TSE, Bolsonaro afirma que é "notória a animosidade" entre ele e Moraes.

"Diversos são os veículos de comunicação social que divulgam, diuturnamente, conflitos pessoais e de posicionamentos entre os envolvidos".

O gesto foi compartilhado por Bolsonaristas, como o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Bolsonaro afirma ao TSE que o gesto da "degola" foi feito quando o julgamento estava 2 a 1 para derrubar o veto às lives.

"Conforme já relatado, por ocasião do referido julgamento, durante a colheita dos votos dos demais Ministros e antes de proferir seu voto sobre a matéria controvertida, o e. Ministro Presidente externalizou um gesto de "degola", passando o dedo em seu pescoço, em clara manifestação antecipada, refletindo um nítido interesse pessoal na solução da demanda", afirma a ação de Bolsonaro.

A decisão do TSE foi tomada a partir de um pedido do PDT, partido de Ciro Gomes. A decisão impede lives com atos de apoio a Bolsonaro ou a aliados, mas não veta transmissões para divulgar atos de governo.

Bolsonaro diz que Moraes "praticou ato público e objetivo em flagrante contradição com sua condição imparcial de magistrado".

"Ao demonstrar, através do gesto de degola, animosidade e interesse pessoal em desfavor do então Representado, Presidente Jair Bolsonaro, o excepto afastou-se da impositiva imparcialidade judicial, consagrada como uma das bases da garantia do devido processo legal, sujeitando-se à presente arguição", diz ainda o pedido do chefe do Executivo.

O veto a lives eleitorais onde Bolsonaro mora havia sido dado no sábado (24) pelo corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, e foi chancelado por 4 a 3 pelo plenário do tribunal na terça (27).

Bolsonaro já chamou de "estapafúrdia" a decisão. Ele tem feito transmissões de um local não identificado após a proibição.

"Eu não tenho ascendência, eu não mando no TSE. Argumento, mas não tem como convencê-los. Por exemplo, estou proibido de fazer live dentro da minha casa oficial, tem que ir para casa de alguém. Perseguição política", disse ainda Bolsonaro na segunda-feira (26).