Tarcísio e Haddad nacionalizam debate com vitrines e vidraças de Bolsonaro e Lula

Por FELIPE BÄCHTOLD E CARLOS PETROCILO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro debate no segundo turno na eleição de São Paulo, promovido pela TV Bandeirantes nesta segunda-feira (10), foi marcado por uma discussão nacionalizada entre os candidatos Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).

O bolsonarista e o petista em diversos momentos repetiram argumentos usados por seus padrinhos políticos que se enfrentam no segundo turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Logo na primeira pergunta do programa, Tarcísio e Haddad debateram declarações dos presidenciáveis, como uma de Lula criticando a aproximação de Bolsonaro com policiais e outra do presidente que abordava suicídios na pandemia.

"Ele [Bolsonaro] chamou de gripezinha uma doença que matou 700 mil brasileiros", disse o candidato do PT, que criticou problemas nacionais como a redução da cobertura da vacinação e o descontrole com o armamento da população.

Tarcísio relembrou declaração do presidenciável petista. "Queria começar comentando uma frase infeliz do candidato Lula em que ele diz: 'Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial."

O petista disse: "A característica do presidente Lula é voltar atrás quando comete um erro, como foi o caso."

No primeiro bloco, em determinado momento os candidatos debateram se Bolsonaro zombou ou não da população ao imitar um paciente com falta de ar durante a pandemia da Covid-19.

Haddad tentou explorar a rejeição de Bolsonaro para atacar o seu adversário no estado. Acusou o presidente de ser sádico com artistas, ao vetar benefícios, e de tirar dinheiro dos governadores com finalidade eleitoreira ao articular a redução do ICMS.

"A mão do governo federal salvou milhares de empresas, milhares de empregos", disse o candidato do Republicanos.

As críticas de Tarcísio a Lula foram mais pontuais. Colocou em dúvida como seria eventual relação do petista, se eleito, com um "Congresso que é todo de centro-direita".

"Me surpreendeu outro dia uma declaração do ex-presidente Lula: 'Nós vamos gerar emprego, mas eu não sei como'."

Haddad questionou se o adversário pretende trazer o modelo das emendas de relator do Orçamento para São Paulo, mecanismo que afirmou não existir em nenhum país do mundo por ser ilegal. "Se ficar refém do centrão, nós estamos fritos", disse.

O candidato do Republicanos procurou trazer o tema da segurança pública e defendeu enfaticamente que os policiais militares deixem de usar câmeras nos uniformes.

Disse que o "bandido não pode ter vantagem sobre o policial" e que as câmeras não conseguiram restabelecer a segurança. "Tirar a câmera é uma coisa simbólica", disse.

Também falou de questões que não são de alçada de um governador, como acabar com audiências de custódia e mudar a legislação sobre a maioridade penal.

O candidato do Republicanos fez ainda menção a invasões de terra, em outra fala crítica ao PT, que é tema frequente de Bolsonaro.

Haddad trouxe ao debate o aparelhamento da Polícia Federal promovida no governo de Lula. O petista diz que, se eleito, a Polícia Civil terá o mesmo tratamento.

Tarcísio relembrou a gestão do adversário à frente da Prefeitura de São Paulo para criticá-lo. Haddad respondeu que foi o mais votado na capital no primeiro turno e agradeceu aos eleitores.

O candidato do PT, em diferentes momentos, ironizou a origem carioca do adversário, retomando as críticas de que o candidato não tem ligação com São Paulo nem trajetória política no estado.

"Você está sabendo o que as crianças estão comendo na escola? É suco e bolacha, ou biscoito como vocês chamam no Rio de Janeiro", disse.

Tarcísio voltou a falar de sua ideia de levar a sede do governo para o centro de São Paulo como forma de revitalizar a região. Ao criticar a proposta, Haddad mencionou em tom elogioso projetos do ex-governador tucano José Serra.

O saldo dos governos do PSDB, que está no governo do estado há 28 anos, foi praticamente esquecido no encontro. Uma exceção foi crítica do candidato do PT às brigas entre o tucano João Doria e o presidente da República ao longo do mandato.

O governador Rodrigo Garcia, do PSDB, ficou apenas em terceiro lugar na eleição e declarou apoio a Tarcísio e a Bolsonaro.

O candidato bolsonarista disse que seu governo não será "de cavalo de pau".

Também afirmou que o adversário tem se posicionado contra privatizações e concessões e citou a venda da Eletrobras como exemplo de meio para reduzir tarifas. Disse que a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, prejudicou o sistema elétrico.

Haddad respondeu lembrando que Tarcísio trabalhou no governo Dilma, quando chefiou o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

O programa foi dividido em três blocos, sendo que em dois deles os candidatos puderam debater os temas livremente no modelo de banco de tempo, em que cada um vai usando seu espaço gradualmente como prefere.

O bolsonarista lidera a corrida ao Palácio dos Bandeirantes, segundo o Datafolha publicado na sexta-feira (7), com 50% das intenções de votos, e o petista contabiliza 40%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

No primeiro turno, Tarcísio obteve 42,3% dos votos válidos, e Haddad somou 35,7%

Nos debates que antecederam o primeiro turno, Tarcísio e Haddad também nacionalizaram a discussão, mas na ocasião tinham o interesse em tecer críticas ao atual governador Rodrigo Garcia.

Na avaliação do petista, o tucano seria adversário mais indigesto no segundo turno, enquanto Tarcísio e Rodrigo brigavam por uma vaga no segundo turno conforme indicavam as pesquisas de intenções de votos.

Tarcísio, porém, avançou em primeiro lugar, à frente do petista, e Rodrigo ficou de fora.