Após pedir investigação, ministro de Bolsonaro usa pesquisa do Datafolha para defender governo

Por CÉZAR FEITOZA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, usou neste sábado (15) a última pesquisa Datafolha para defender que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está mais próximo da vitória no segundo turno da eleição.

A publicação foi feita uma semana após o próprio Torres enviar à PF (Polícia Federal) um pedido de investigação contra os institutos de pesquisa.

"Tudo se ajustando... e a hora da virada, chegando! #VamosEmFrente", escreveu o ministro. A postagem é acompanhada por um gráfico que mostra que a reprovação de Bolsonaro caiu para 39%, enquanto a aprovação subiu para 38%.

m 4 de outubro, após o resultado das urnas divergir das pesquisas de intenção de voto, o ministro mandou à PF pedido de abertura de inquérito.

Nas redes sociais, Torres justificou a investigação por supostas "condutas que, em tese, caracterizam a prática de crimes perpetrados por alguns institutos".

O inquérito foi barrado na quinta-feira (13) pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

Em despacho, ele alegou ausência de justa causa e "incompetência absoluta" da PF e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para uma investigação do tipo no período eleitoral.

O ministro da Justiça foi procurado para comentar a publicação, mas não respondeu até o momento.

Neste sábado, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, determinou que Anderson Torres e o presidente do Cade, Alexandre Cordeiro, expliquem, em três dias, os pedidos de investigação de institutos de pesquisas.

A ofensiva de Bolsonaro e aliados contra os institutos de pesquisa se intensificou após o primeiro turno das eleições.

No Congresso, a base governista também tem tentado desacreditar os institutos com argumentos que ignoram características de pesquisas eleitorais.

A tese defendida pelo grupo político liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é que institutos devem acertar o resultado das eleições, desconsiderando que pesquisas eleitorais medem declaração ou intenção do eleitor no dia da sondagem --não o efetivo voto dado no pleito.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), apresentou um projeto de lei para criminalizar a publicação de pesquisas, nos 15 dias que antecedem a eleição, que não acertem o resultado do pleito. A pena, segundo o texto, será de quatro a dez anos de prisão.

Com o cerco contra os institutos, o Datafolha esclareceu que não é objetivo das pesquisas eleitorais antecipar o resultado da eleição.

"Cada pesquisa é a fotografia de um determinado momento. O resultado final é só na urna", disse Luciana Chong, diretora do Datafolha, no começo deste mês.

Ela refuta a tese de que tenha havido algum tipo de erro metodológico. Para Chong, é bastante provável que tenha emergido nas horas antes das eleições um voto útil pró-Bolsonaro oriundo dos eleitores que antes declaravam preferência por Simone Tebet (MDB) e, principalmente, por Ciro Gomes (PDT). O temor de que Lula fosse eleito no primeiro turno pode, segundo ela, ter contribuído para esse comportamento.