Haddad tem rota tortuosa no interior de SP em disputa contra Tarcísio
RIBEIRÃO PRETO, SP, E CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - Com votação concentrada na capital e em cidades da região metropolitana, o candidato do PT ao Governo de São Paulo, Fernando Haddad, tem dificuldade para conseguir entradas no interior paulista para derrotar seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no domingo (30), data do segundo turno da eleição.
Conforme relatos de lideranças políticas do interior, maioria oposicionista, o caminho petista em municípios menores é mais complicado do que ganhar terreno em grandes centros, notadamente no entorno da capital.
Prefeitos paulistas afirmam que o discurso de Haddad fala muito com as grandes cidades -priorizadas nos últimos dias-, mas falha ao não dialogar com problemas ligados à população do interior ou do litoral, especialmente dos municípios pequenos.
Em contrapartida, seu adversário tem buscado em sua campanha se aproximar dos moradores do interior, gravando peças de campanha na TV em meio a lavouras, por exemplo, e defendendo o agronegócio -que em quase sua totalidade está com ele.
"Não há sintonia acentuada do eleitor com o PT e principalmente com o Haddad no interior. Na moldura do interior não cabe a fotografia do Haddad", disse o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), que anunciou, no dia seguinte ao primeiro turno, apoio a Tarcísio.
Tarcísio fechou a primeira fase da disputa com 42,32%, ante 35,70% de Haddad, graças ao interior.
Na capital, o petista obteve 44,38% dos votos válidos, ante 32,56% do rival. A diferença de 747.019 votos em São Paulo foi tirada no restante do estado, já que Tarcísio fechou o primeiro turno com 9,88 milhões de votos, 1,54 milhão a mais que Haddad.
De todos os votos de Haddad no primeiro turno, 33,64% foram na capital, enquanto a votação em São Paulo de Tarcísio representou 20,82% de seu total.
Além da capital, entre as 20 cidades mais populosas do estado o petista venceu em São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco, Mauá, Diadema, Carapicuíba e Itaquaquecetuba, todas na região metropolitana.
Nas dez maiores cidades do interior e litoral, no entanto, Tarcísio venceu em todas -Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Sorocaba, São José do Rio Preto, Santos, Jundiaí, Piracicaba, Bauru e São Vicente.
"O interior é mais conservador, de centro, e o PT está correndo atrás do centro para tentar ver se consegue virar o voto que está com Tarcísio. Mas o partido não tem muita identidade com o interior, não tem muita militância, o PT é um partido mais dos grandes centros, da região metropolitana, que ficou conhecido como cinturão vermelho da capital, que também está mudando", disse Nogueira.
Segundo o Datafolha, Haddad tem 33% das intenções de voto no segundo turno no interior, ante 56% do seu adversário.
Buscar votos no interior, portanto, é vital, embora a prioridade tenha sido consolidar a votação nos lugares de bom desempenho no último dia 2. Nesta terça (25), Haddad esteve em Ribeirão para ato de campanha.
A maior cidade do interior com vitória do PT no primeiro turno foi Araraquara (240 mil habitantes), uma espécie de fortaleza petista na região central do estado.
O município é governado por Edinho Silva (PT), coordenador de comunicação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência e que tem atuado como um contraponto ao bolsonarismo na região.
"Você quer São Paulo que valorize mais armas do que livros? Você quer São Paulo que desdenhe da vida das pessoas quando elas ficam doentes?", questionou Edinho no fim de semana em suas redes sociais.
A apontada ausência de militância petista forte no restante do estado pode ser vista em Guarujá, onde o prefeito Válter Suman (PSDB) disse não ter sido procurado pelo candidato do PT nem por sua campanha para pedir apoio.
Embora se declare em "campo neutro", ele afirmou ter boa relação em especial com Tarcísio, que tem usado imagens gravadas em terminais portuários em sua propaganda na TV.
"No contexto de Guarujá, uma cidade que abriga quase a metade dos terminais do Porto de Santos, e que aguarda maciços investimentos para um franco desenvolvimento e diante da grande procura de investidores, sobretudo no campo da logística portuária, seu discurso faz mais eco no eleitorado local", disse.
A tentativa de avanço da campanha de Haddad esbarra num sentimento antipetista arraigado em parte do interior, segundo o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado (PSDB), que apoia Tarcísio.
"Como exemplo, tem esse sentimento que o interior do estado tem de que o Haddad poderia ser mais tolerante com relação à criminalidade. Não estou dizendo que seja verdade nem que seja mentira, mas é um sentimento que impera no interior do estado, que é mais conservador, inclusive na segurança pública. Então isso é absolutamente rechaçado pelo interior do estado."
Machado avalia que Tarcísio tenha mais penetração no interior em relação a Haddad porque o eleitor fez uma troca do PSDB por ele, que representa valores mais conservadores.
"Enquanto São Paulo viveu no PSDB o sentimento antipetista, o PSDB avançou. À medida que o estado entendeu, por exemplo, no Bolsonaro, no Tarcísio, a representação desses valores, substituiu o PSDB na preferência."
Já o prefeito de Sumaré, Luiz Alfredo Dalben (Cidadania), afirmou que a composição das alianças não ajuda Haddad no interior e que a nacionalização da disputa influencia na decisão da população.
"A concentração partidária do partido dele é mais na região da capital. Já o Tarcísio goza de mais apoio no interior também por questões partidárias. O rol de alianças do Tarcísio tem mais influência no interior."
Dalben disse que foi procurado pela campanha dos dois candidatos e que apoia Tarcísio, mas elogiou Haddad.
"O Tarcísio conseguiu juntar mais apoio político. Foi mais rápido [...] Mas acho que o discurso do Haddad está até muito bom, falando de isentar o imposto da carne, dos alimentos da cesta básica também, eu acho que isso é muito importante."
Com a avaliação interna de que o ideal é investir onde o partido foi bem no primeiro turno, para tentar ampliar a votação no interior, a campanha petista tem apostado em aliados como o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice de Lula.
Pesquisa Ipec divulgada na terça (25) mostrou empate técnico entre os candidatos, com 46% para Tarcísio e 43% para Haddad -margem de erro de dois pontos percentuais. O instituto ouviu 2.000 pessoas presencialmente de domingo (23) a terça em 83 cidades paulistas, sob o registro SP-06977/2022.