Entenda fragilidades no relatório da campanha de Bolsonaro sobre rádios
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao menos sete fragilidades já foram identificadas nas afirmações da campanha de Jair Bolsonaro (PL) de que rádios omitiram inserções de propaganda política do presidente.
As alegações foram feitas na noite de segunda-feira (24) e serviram para Bolsonaro insinuar, nesta quarta (26), que poderá não aceitar o resultado da eleição no próximo domingo (30).
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes, deu 24 horas para a campanha do presidente detalhar as afirmações.
Em resposta, os advogados de Bolsonaro enviaram ao tribunal um relatório com dados compilados pela empresa Audiency, de Santa Catarina. Em menos de um dia, uma série de suspeitas de erros e inconsistências foi apontada no material.
Nesta quarta, Moraes rejeitou a ação da campanha de Bolsonaro, citou tentativa de tumultuar a eleição e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das "milícias digitais" no STF (Supremo Tribunal Federal).
Entenda algumas das fragilidades do relatório da campanha de Bolsonaro:
1) Base de dados A Audiency afirma realizar o monitoramento das transmissões divulgadas pelas emissoras por streaming, ou seja, pela internet. O problema é que, nessa modalidade, a veiculação da propaganda política não é obrigatória. Além disso, eventual falha técnica na veiculação online faz com que inserções efetivamente reproduzidas pela antena da rádio não apareçam no relatório da empresa.
2) Números Na segunda-feira (24), a campanha de Bolsonaro falou que teve 154 mil inserções de rádio a menos do que deveria ao longo de duas semanas do segundo turno. Instada por Moraes a detalhar as alegações, apresentou no dia seguinte representação em que especifica apenas oito emissoras de dois estados, além de enviar listagens apenas com dados brutos de outras rádios.
3) Frequência errada Uma das oito emissoras citadas na representação da campanha de Bolsonaro ao TSE, a rádio Bispa, do Recife, informou que não funciona na frequência que foi apontada pelo relatório. A rádio usa a frequência 98.7, mas o documento cita a 97.1.
4) Dados que não batem Rádios citadas no relatório disseram ainda que exibiram sim as inserções de Bolsonaro e que podem provar.
A rádio Integração FM, com sede em Surubim (PE), informou que fez um levantamento de todas as inserções de Lula e Jair Bolsonaro na programação da rádio e confrontou com a gravação da programação dos dias apontados pela Audiency, identificando divergência entre o que a relatório apresenta e o que foi veiculado.
A rádio Hits, do Recife, destacou a afirmação da Audiency de que, no dia 7 de outubro, a emissora veiculou apenas 23 das 25 inserções da coligação de Bolsonaro. No entanto, a emissora diz ter averiguado em seu software, o Pulsar, que as 25 inserções foram veiculadas.
Elas afirmam ter armazenado a transmissão, o que permitirá a conferência.
5) Suspeita de erro de detecção Estudo do pesquisador Miguel Freitas, do departamento de Telecomunicações da PUC-Rio, detectou nove inserções omitidas pela análise da Audiency, usando como amostragem as inserções de apenas um dia na Rádio Bispa.
6) Horário A rádio Integração FM, com sede em Surubim (PE), aponta inconsistência no fato de a Audiency informar que, no dia 10 de outubro de 2022, a emissora teria veiculado uma inserção do PL às 7h05. Isso porque, nesse horário, todas as emissoras estão exibindo a propaganda em bloco do horário eleitoral gratuito e era exatamente o que estava sendo transmitido pela rádio.
7) Omissão da campanha de Bolsonaro A direção da Rádio JM FM. de Minas Gerais, atrelou, em nota divulgada nesta quarta-feira (26), a não veiculação de inserções de Bolsonaro à falta de envio do material pelo PL, partido do presidente.
A rádio Viva Voz, de Várzea da Roça (BA), informou que passou a receber o material de todas as coligações no dia 6 de outubro, com exceção da campanha de Bolsonaro, que enviou a partir de 10 de outubro. A rádio publicou prints dos emails enviados pelas campanhas para a emissora.