Discuti com ela como um cidadão negro, diz homem perseguido por Carla Zambelli

Por DANIELA ARCANJO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornalista Luan Araújo, 32, contra quem a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) apontou uma arma na tarde deste sábado (29), em São Paulo, diz que não empurrou a bolsonarista, como ela alega.

Ele conta que voltava de um chá de bebê com amigos quando viu a deputada pedir voto no candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao recepcionista de um bar e reagiu com um xingamento a ela.

Os seguranças de Zambelli, então, começaram a filmá-lo, e a briga escalou quando ele disse "te amo, espanhola", em uma referência à fala do senador e presidente da CPI da Covid Omar Aziz (PSD-AM).

Em 2019, na CPI das Fake News, a também deputada Joice Hasselmann disse o presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia lhe perguntado se Zambelli foi prostituta durante o período em que esteve na Espanha.

Nesse momento, de acordo com Luan, a deputada começou a correr atrás dele e um tiro foi disparado.

"Eu ouvi um tiro e não sei se passou perto da minha perna, mas eu senti a bala chegando perto. E saí correndo do bar. Eles tentaram me colocar no chão, como se fossem policiais mesmo", conta.

Além dela, outros dois seguranças estavam armados, e um deles chegou a apontar a arma no rosto de um de seus colegas, segundo relatam.

Quando entraram no bar, a deputada pediu que Luan deitasse no chão e pedisse desculpas.

"Eu falei: 'você não é policial, eu não vou ficar no chão para você'. Aí começou um bate-boca muito grande e ela disse que ia chamar a polícia", diz ele que, por fim, pediu desculpas para ir embora.

"O susto que eu passei hoje foi enorme. Eu pensei na minha mãe, que é sozinha. Eu sou preto, eu sou periférico, da zona leste de São Paulo. Eu pensei muito na minha namorada. Eu pensei muito na minha vida e eu acho que a gente está em uma situação extrema, não é uma situação normal. Não é uma situação saudável."

"Fui eu como um cidadão negro que discuti com ela. Não foi ninguém, não foi PT. Fui eu, um cidadão comum", afirmou Araújo.

Carla Zambelli (PL) disse que atirou para o alto após ter sido agredida antes de entrar armada no bar.

Segundo legislação eleitoral, o porte de arma e de munição é proibido nas 24 horas que antecedem e sucedem o dia de votação. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovada em setembro determina que o descumprimento da regra pode acarretar prisão em flagrante por porte ilegal.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, a deputada disse que um homem negro, bastante exaltado, a ofendeu com palavrões. "Eu estava almoçando com meu filho no bar, um homem começou a me xingar e falar que o Lula iria ganhar. Eu tenho porte federal de armas, [mostrei] até para ele parar", disse.

Em sua página no Instagram, a deputada aparece ofegante ao lado de um policial e afirma que registrou boletim de ocorrência. "Fui agredida agora pouco, me empurraram no chão. Eram vários. Eles usaram um homem negro para vir para cima de mim", disse Carla no vídeo.