Lira vê sua reeleição ao comando da Câmara em 2023 virar incógnita
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Detentor de um poder até então incontestável, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi um dos derrotados deste domingo (30) ao ver uma reeleição quase certa ao comando da Casa virar uma incógnita.
O parlamentar figura entre os principais apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), a quem deve a eleição para a chefia da Câmara, e se empenhou fortemente em prol da fracassada reeleição do presidente.
Além do revés nacional, Lira viu seu candidato ao governo de Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil), ser derrotado pelo atual governador, Paulo Dantas (MDB). O emedebista é defendido pelo arquirrival do presidente da Câmara no estado, o senador Renan Calheiros (MDB).
Apesar de ter garantido sua reeleição a deputado federal com a maior votação de Alagoas, Lira já havia sofrido uma derrota no primeiro turno ao não conseguir emplacar seu candidato ao Senado, em mais uma vitória de Renan, que elegeu o filho, o ex-governador Renan Filho.
Em fevereiro, haverá eleição para o comando da Câmara. Apesar das derrotas, Lira tentará reunir apoio para se reeleger. Resta saber se o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrará nessa disputa, com o risco de, em caso de derrota, ter um inimigo na Casa, ou se haverá um acerto com Lira e o centrão.
O atual chefe da Câmara foi a primeira autoridade de peso a parabenizar publicamente o petista, para quem também telefonou. Em discurso, defendeu que Lula ouça a voz de todos, mesmo dos divergentes, para pacificar o país e destacou que, no primeiro turno, os eleitores escolheram o caminho das reformas.
Seja qual for a movimentação de Lira, integrantes de partidos de centro e de direita não alinhados ao bolsonarismo, inclusive do centrão, nutrem a esperança de se tornarem presidente da Câmara.
Esses parlamentares e os do PT apostam na chance concreta de as chamadas emendas de relator --que colocam na mão de Lira a distribuição de bilhões de reais do Orçamento federal a parlamentares-- serem declaradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal) até o final do ano.
Assim, Lula poderia negociar com mais margem um nome de consenso com outras forças de centro. O presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), a ex-governadora Roseana Sarney (MDB-MA), o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e até o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), são citados como potenciais candidatos.
Lira foi eleito para comandar a Câmara em fevereiro de 2021, ocasião em que recebeu 302 votos, número suficiente para vencer a disputa no primeiro turno. A chegada ao posto foi precedida de uma aliança com Bolsonaro, acerto que se deu num momento crítico do governo, em abril de 2020, quando o presidente viu crescer o número de pedidos de impeachment após insuflar manifestações contra o Congresso e o STF.
Para se blindar, Bolsonaro recorreu a partidos do centrão -grupo que ele e seus aliados execravam na campanha de 2018-, negociando cargos em troca da formação de uma base informal na Câmara.
Desde então, Lira comanda na Câmara uma espécie de governo paralelo, definindo a distribuição de bilhões de reais do Orçamento por meio de emendas de relator. O deputado se empenhou na campanha de Bolsonaro e chegou a vestir uma camiseta com o número do presidente na convenção do PL.
Ele também foi crucial na aprovação do aumento do valor do Auxílio Brasil para R$ 600, uma das medidas para tentar catapultar a candidatura de Bolsonaro, e no projeto que baixou o ICMS de combustíveis.