Tebet termina campanha mais forte, mas com desafio de se manter relevante
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A candidata Simone Tebet (MDB) termina a sua primeira eleição presidencial como uma personagem política mais forte do que a que entrou na corrida e com o desafio de se manter relevante para os próximos pleitos.
A senadora de 52 anos, que já foi professora e advogada, começou sua caminhada com 1% das intenções de voto e agora aparece tecnicamente empatada com Ciro Gomes (PDT) --ela com 6%, ele com 5%, segundo o Datafolha deste sábado (1º).
Outro desafio será sobreviver a crises dentro do seu partido que foram aprofundadas durante o período eleitoral.
Quando o MDB realizou evento para lançar sua pré-candidatura, no dia 8 de dezembro de 2021, Tebet talvez fosse uma das poucas pessoas presentes a acreditar que seu nome estaria nas urnas eletrônicas quase um ano depois.
A senadora por Mato Grosso do Sul tem enfrentado desde então uma ferrenha resistência de uma ala do partido que pressionava pelo abandono de uma candidatura pouco competitiva para apoiar um dos favoritos --o movimento mais forte, capitaneado por Renan Calheiros (MDB-AL) e outros caciques da região Nordeste, era em favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As iniciativas fizeram ressurgir fantasmas do passado da relação de Tebet com o MDB, como quando ela terminou abandonada pelo partido na eleição para a presidência do Senado em 2021 e concorreu como avulsa.
O MDB também se viu envolvido na inicialmente promissora articulação para lançar um candidato único e forte representando a terceira via. A novela se arrastou por meses, viu a defecção do União Brasil e a briga interna do PSDB, que resultou na saída da corrida do ex-governador de São Paulo João Doria.
Oficializada candidata, Simone Tebet demorou para avançar nas pesquisas de intenção de voto, aparecendo por meses com apenas um traço, abaixo de 1%. Mas ela ganhou força durante o primeiro debate presidencial, quando teve um enfrentamento com Jair Bolsonaro (PL) e foi vítima de machismo.
A emedebista saiu de 2% para 5% na pesquisa Datafolha subsequente e alcançou 6% no último levantamento do primeiro turno. Em alguns estados, como São Paulo, sua intenção de voto chegou perto dos dois dígitos nas intenções de voto.
Os debates se tornaram um trunfo, com Tebet sendo apontada como dona do melhor desempenho em pesquisas qualitativas com eleitores indecisos. Aliados avaliam que os encontros a ajudaram, por exemplo, na manutenção de seu patamar de intenção de votos mesmo durante a campanha pelo voto útil em favor de Lula.
Apesar das frequentes declarações públicas de otimismo com o resultado, sua campanha sempre teve em mente que o objetivo inicial era fazer de Tebet a emedebista mais votada em uma eleição presidencial, superando os 4,7% de Ulysses Guimarães em 1989.
Passar Ciro se tornou uma obsessão na reta final. O terceiro lugar na contagem final reforçaria a perspectiva de que Simone Tebet deixa essa eleição mais forte e como um ator importante para os próximos pleitos presidenciais.
"Não tenho dúvida que Simone será um personagem político relevante depois dessa eleição", afirma o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB), coordenador do seu programa de governo e um dos principais aliados.
Para tanto, porém, precisará de palco. O mandato de Tebet de oito anos no Senado termina em fevereiro do próximo ano.
Um aliado teme o efeito Marina Silva (Rede). Personagem importante da política após duas votações expressivas nas eleições de 2010 e 2014, a ex-ministra, sem mandato, terminou o pleito de 2018 com 1% dos votos.
A mesma pessoa acrescenta que, em parte, o destino de Tebet dependerá da postura do presidente do MDB, Baleia Rossi. De acordo com esse aliado, Baleia deveria manter Tebet em evidência e seguir associando a imagem do partido à da senadora, com uma mensagem de renovação.
A posição da candidata em um eventual segundo turno da eleição presidencial neste ano também é considerada decisiva para o seu futuro. A parlamentar já declarou recentemente que não vai se omitir e que estará em um palanque "defendendo a democracia".
Um apoio a Lula no segundo turno pode abrir as portas para que ela seja convidada a assumir algum ministério no governo caso o petista, favorito nas pesquisas, seja eleito. As pastas apontadas hoje como possíveis são as da Agricultura e da Justiça, mas sua campanha rechaça qualquer hipótese de negociação no momento.
Ficar atrás somente de Lula e Bolsonaro fortaleceria o poder de barganha não só dela como do MDB.
Esse mesmo aliado, no entanto, defende que convites petistas sejam avaliados com muito critério para que a imagem de independência construída durante a campanha não se desfaça facilmente.
Tebet também vai precisar fazer as pazes --ou mesmo enfrentar-- o "velho MDB".
Durante a campanha, a senadora criticou diversas vezes a ala lulista do MDB por ter tentado "puxar o seu tapete". Também desagradou muitos ao criticar os membros de seu partido que estiveram envolvidos em casos de corrupção.
O cenário de provável vitória de alguns caciques pesa como complicador.
Renan Calheiros, por exemplo, deve conseguir eleger o governador de Alagoas e seu filho, Renan Filho (MDB), para o Senado. Além disso, caso Lula seja eleito, aqueles que ela acusou de tentarem derrubá-la vão se fortalecer.
O que Tebet disse
[O MDB] é um partido ético, que tem, sim, uma meia dúzia que esteve envolvida no petrolão do PT, e hoje não estão conosco. Inclusive, tentaram puxar o meu tapete há pouco tempo
Simone Tebet candidata do MDB à Presidência, em sabatina do Jornal Nacional
Candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?
Simone Tebet candidata do MDB à Presidência, em debate
Nós queremos que o eleitor não vote pelo medo e sim pela esperança e pela certeza. Não vote no menos pior e sim naquele ou naquela que pode representar a esperança e um futuro digno para a população
Simone Tebet candidata do MDB à Presidência, sobre a campanha pelo voto útil
Mente tanto que acredita na própria mentira Simone
Tebet candidata do MDB à Presidência, sobre Jair Bolsonaro, em debate
O que Tebet propõe
- Ministério paritário entre homens e mulheres
- Poupança Mais Educação: bonificação financeira a alunos que completarem o ensino médio
- Zerar fila de exames e cirurgias represados por causa da pandemia da Covid-19
- Poupança semelhante ao FGTS para trabalhadores informais e formais de baixa renda
- Instituir benefício de renda mínima para eliminar a extrema pobreza
- Reajustes anuais do salário mínimo, baseados pelo menos na inflação
- Promover desestatizações, privatizações, concessões e parcerias público-privadas
- Recriar os Ministérios da Cultura e da Segurança Pública