Cunha, Collor e Jucá, caciques em seus partidos, saem derrotados das eleições

Por JOÃO GABRIEL E RANIER BRAGON

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As eleições de 2022 tiveram sabor de derrota para alguns caciques influentes da política brasileira.

Um deles foi o carioca Fernando Collor (PTB), 73, que ocupou o Palácio do Planalto entre 1990 e 1992. Desde 2007, ele tem um assento no Senado, por Alagoas, estado onde fez carreira política, e se aproximou do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), de quem já foi crítico.

A ligação entre os dois se consolidou nos últimos anos: o senador marcou presença nas visitas do presidente a Alagoas e dividiu palanque com ele.

Foi com apoio de Bolsonaro que Collor tentou se eleger governador de Alagoas, cargo que já ocupou entre 1987 e 1989. Na campanha, ele compartilhou vídeos de pessoas que o apoiam, como o candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-jogador de vôlei e candidato a deputado federal por Minas Gerais Maurício Souza (PL) e o empresário Luciano Hang.

No entanto, amargou o terceiro lugar, com cerca de 15% dos votos válidos em Alagoas. Ficou atrás de Rodrigo Cunha (União Brasil) e Paulo Dantas (MDB), que foi eleito no primeiro turno com o apoio do senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Pivô do impeachment de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha (PTB-SP), 63, usou na campanha o slogan de que ia "tirar o PT de novo" do poder, numa referência a uma eventual vitória do ex-presidente Lula, mas não foi eleito deputado federal.

Sua candidatura, aliás, chegou a estar em xeque. Ele se beneficiou de uma decisão do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que permitiu que ele entrasse na Justiça Federal de Brasília com uma ação para anular a cassação de seu mandato de deputado, em 2016 --após sua atuação no processo de impeachment.

Em um processo que ainda está em tramitação, Cunha concorreu amparado por uma decisão do TRE-SP, que no último dia 14 decidiu a seu favor, permitindo a ele disputar as eleições.

Nas urnas, no entanto, seu desempenho foi ruim. O ex-deputado conquistou pouco mais de 5.000 votos e não conseguiu ser eleito.

Isso não significará, no entanto, que ele ficará muito distante do Congresso. Se ele não conquistou a vaga, sua filha, Danielle Cunha (União Brasil-RJ), teve desempenho 15 vezes melhor. Ela conquistou cerca de 75 mil votos e foi eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro.

Quem também tentou retornar ao Congresso, mas não teve sucesso foi Romero Jucá (MDB-RR), 67, senador entre 1995 e 2018.

Um dos mais influentes parlamentares dos governos do PT, ele foi vice-líder de governo com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e líder de governo com Luiz Inácio Lula da Silva, que também o alçou a ministro da extinta pasta da Previdência Social. Também ocupou um ministério no governo de Michel Temer (MDB), o do Planejamento, mas por um rápido período de menos de um mês.

Em 2022, o cacique teve pouco mais de 91 mil votos, ou 35,7% do total de votos válidos, mas não conseguiu se eleger. Ele perdeu a vaga no Senado para o Dr Hiran (PP), que foi escolhido por 118.760 eleitores, ou 46,4%.

Outro que tentou ser governador, mas acabou derrotado no primeiro turno foi o petista Roberto Requião, 81. Ele, que já comandou o Executivo do Paraná duas vezes (entre 1991 e 1994 e entre 2006 e 2010) acabou derrotado Ratinho Junior (PSD).

Requião teve pouco mais de 26% dos votos válidos para o estado, um total de 1.598.149 votos, cerca de 2,7 milhões a menos que seu adversário.

Outros caciques da política brasileira acabaram barrados na Justiça e não puderam concorrer. É o caso de José Roberto Arruda (PL), 68, ex-governador do DF e que teve sua candidatura barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por ter duas condenações por improbidade administrativa.

Também Roberto Jefferson (PTB), 69, pivô do escândalo do mensalão, tentou concorrer, em vão. Ele iniciou a campanha para presidente, mas o TSE negou o registro de sua candidatura.

Jefferson ainda cumpre prisão domiciliar por decisão de Alexandre de Moraes no inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) das milícias digitais.

Para o seu lugar, o partido escalou Padre Kelmon (PTB), que em que pese ter sua nomeação como padre contestada pela Igreja, ganhou fama no debate presidencial da TV Globo.