União Brasil encerra contrato de R$ 45 mil com Marcos Cintra depois de ataque às urnas

Por MÔNICA BERGAMO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do União Brasil, Luciano Bivar, decidiu encerrar o contrato do partido com o economista Marcos Cintra (União Brasil-SP) depois de ataques que ele fez às urnas eleitorais.

Filiado à legenda, Cintra ganhava R$ 45 mil por mês para prestar consultoria na área tributária. Os recursos, públicos, vinham do fundo partidário.

Cintra foi secretário da Receita Federal no governo de Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice-presidente na chapa de Soraya Thronicke, que concorreu à Presidência da República pelo União Brasil.

A decisão de Bivar foi tomada depois que o economista divulgou fake news ao levantar dúvidas sobre o fato de Lula (PT) ter obtido a totalidade de votos em algumas urnas no Brasil.

O mesmo ocorreu com Jair Bolsonaro, mas, em suas publicações, o economista divulgou a informação falsa de que não havia "uma única urna em todo o país onde Bolsonaro tenha tido 100% dos votos".

De acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Bolsonaro teve 100% dos votos em pelo menos quatro urnas ?duas delas, em Caracas, na Venezuela, e outras duas em território brasileiro.

Já Lula obteve consenso especialmente em aldeias indígenas e comunidades quilombolas.

Bivar afirmou à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que Marcos Cintra "não fala pelo partido".

"Nós já parabenizamos o Brasil e o Tribunal Superior Eleitoral [TSE] pelas eleições, que foram impecáveis", diz o presidente do União. "Como agora o Marcos Cintra faz um desatino desses, distorcendo dados para criar dúvidas sobre as eleições?", segue.

Bivar diz ainda que, se uma pessoa está sem camisa numa praia do Guarujá, é absolutamente previsível. Mas se a mesma pessoa anda sem camisa no meio da avenida Paulista, algo está errado com ela e não pode ser visto com naturalidade.

Bivar já disse que há uma tentativa de se colocar as eleições em xeque para que seja criado "o caos" no Brasil.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que a conta de Cintra no Twitter fosse retida. As postagens foram apagadas e ele terá que dar explicações em 48 horas à Polícia Federal.

As afirmações do economista, com erros em relação às urnas, alimentaram afirmações golpistas em grupos bolsonaristas de que houve fraudes nas eleições presidenciais.

Elas foram reproduzidas com o selo de virem de "pessoa pública, respeitada e famosa", um "professor e PhD em Harvard".

A especialidade do professor, no entanto, é política fiscal e tributária, sem relação eleições e comportamento do eleitorado.

O professor diz que viu os dados sobre as urnas em redes sociais. "Verificou" a veracidade deles por conta própria no TSE e foi ao Twitter fazer os questionamentos. Disse, entre outras coisas, não ver "explicação para o JB [Jair Bolsonaro] ter zero votos em centenas de urnas".

O jornal O Globo publicou no domingo (6) reportagem que mostra que Lula ou Bolsonaro tiveram todos os votos válidos em 147 seções eleitorais, apesar da polarização que se viu no país. O número corresponde a 0,027% do total de urnas do país.

O placar foi favorável a Lula em 144 urnas. Bolsonaro conquistou a unanimidade em quatro urnas eleitorais.

Nos locais onde estavam as urnas que registraram consenso pró-Lula, segundo a reportagem, 22 tinham "aldeia" no nome, 27, "comunidade", e outras 51, "povoado".

Em Quiterianópolis, no Ceará, os indígenas Tabajaras deram 100% dos votos a Lula.

Bolsonaro teve a unanimidade dos votos, por exemplo, num colégio do município de Chaves, no Pará, além de vencer com 100% de votos em duas urnas da Venezuela.

Em seu Twitter, o professor da FGV afirmou que "quilombolas e indígenas não explicam esses resultados, sob pena de admitir que comunidades foram manipuladas". E disse que o TSE devia "explicações".

"Acredito na legitimidade das instituições. Não admiti que o TSE seja cúmplice, no caso de descobrirem algum bug no sistema. Mas, sim, se tornará cúmplice se não se debruçar sobre esses fatos e esclarecer tudo", disse ele.

Depois de ter a conta retida, ele afirmou estar "triste" e "preocupado" com a censura no país.