Gleisi pode integrar governo Lula, e PT se divide sobre sucessor no comando do partido

Por CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO

Gleisi Hoffmann

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A eventual nomeação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), em ministério do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva abrirá uma disputa pelo comando do partido em sua maior corrente, a CNB (Construindo um Novo Brasil).

Tendência liderada por Lula, a CNB já é palco de rivalidade mesmo sem que o nome de Gleisi tenha sido confirmado para qualquer cargo do futuro governo.

Ministra-chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, ela é uma das coordenadoras da equipe de transição de Lula e é citada para diferentes funções da Esplanada.

A deputada federal está na presidência do partido há cinco anos -e seu mandato acaba em 2024. O artigo 33 do estatuto do PT proíbe o acúmulo de funções e, em caso de nomeação, determina a convocação de nova eleição entre os membros do diretório em até 60 dias. De imediato, assume um dos vice-presidentes.

Dentro do PT, a avaliação é que não existe um sucessor natural de Gleisi, que reúne apoio da militância e confiança do presidente eleito.

Dois nomes despontam nas apostas: o do deputado José Guimarães (CE) e o do coordenador financeiro da campanha de Lula, o deputado Márcio Macedo (SE).

Mas, após atuar na coordenação da vitoriosa campanha do PT no Ceará e costurar apoios no Nordeste, Guimarães tem sido também cogitado para a área de articulação política do terceiro mandato de Lula. Seu nome tem sido lembrado para a liderança do governo no Congresso.

Há até quem aposte na sua escolha para a pasta da articulação política, caso o senador eleito Camilo Santana (PT-CE) e a governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido), não sejam escalados para um ministério.

Guimarães, no entanto, carrega a imagem negativa de um caso que envolveu um assessor dele e que ficou conhecido como o dos "dólares na cueca". Em 2005, José Adalberto Vieira da Silva foi flagrado no aeroporto de Congonhas carregando US$ 100 mil na cueca e mais R$ 209 mil em uma maleta.

Em 2012, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que não havia provas suficientes para demonstrar o envolvimento de Guimarães no episódio. Em agosto de 2021, a Justiça Federal declarou a prescrição do caso.

Macedo conta, por sua vez, com o apreço de Lula, laço esse fortalecido durante seus 580 dias de prisão em Curitiba. Um dos organizadores das caravanas lideradas por Lula em 2017 e 2018, foi presença constante na vigília às portas da superintendência da Polícia Federal quando o petista estava preso.

Ele enfrenta, porém, resistência na bancada petista. Parlamentares reclamam de sua atuação como tesoureiro da campanha de Lula.

Os candidatos também se queixavam da dificuldade de localizar Macedo para autorizar despesas da campanha, já que ele acompanhava as comitivas de Lula nas viagens pelo país.

Ainda segundo petistas, Lula já demonstrou simpatia pelo nome do líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), para a presidência do partido.

A opção por Reginaldo representaria uma retribuição ao seu papel na campanha em Minas Gerais, onde Lula derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) nos dois turnos da corrida presidencial.

Essa avaliação não é consensual no PT de Minas. Petistas derrotados na disputa pelo Legislativo cobravam maior empenho dele como cabo eleitoral, mesmo tendo trabalhado contra a pretensão de Reginaldo de concorrer ao Senado.

Outro nome cogitado por petistas é do ex-ministro e deputado federal reeleito Alexandre Padilha (SP). Ele, no entanto, tem sido mencionado na bolsa de apostas para encabeçar algum ministério.

Além disso, Padilha enfrentou o atual secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, pelo direito de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2020. Tatto foi o escolhido -mas amargou um fiasco na corrida municipal.

Apesar de derrotado, Tatto mantém influência no partido, e hoje faz discreta oposição a Gleisi. Essa disputa corrói a corrente que tem Lula como principal líder.

Para a sucessão de Gleisi, também são citados os nomes dos deputados Paulo Teixeira (SP) e Rui Falcão (SP), que foi presidente nacional do PT de 2011 a 2017, mas não integram a força interna majoritária do partido.

A palavra final sobre quem comandará o PT deverá ser de Lula.