Saiba quem já foi ministro da Defesa e conheça as atribuições da pasta

Por LUCAS BRÊDA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Criado em 1999, o Ministério da Defesa já era assunto ao menos desde a eleição de 1994 para presidente. Então candidato pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva defendia a existência da pasta, que reuniria todas as Forças Armadas sob o mesmo guarda-chuva.

Na época, Exército, Marinha, Aeronáutica e Emfa (Estado-Maior das Forças Armadas) eram comandados por um ministro cada. A ideia era criar um ministério para racionalizar e unir toda a estrutura da área militar.

Vencedor nas urnas em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era mais comedido em relação ao assunto. Na eleição, chegou a afirmar que não via sentido na criação do ministério num regime presidencialista.

Mas o tucano, que tomava cuidado para não entrar em conflito com setores militares resistentes à ideia, também defendeu a unificação. Depois de eleito, afirmou que, no "mundo moderno", se "marcha para a criação do Ministério da Defesa".

A ideia avançou ao longo do primeiro mandato de FHC, que delegou ao Emfa os estudos para a criação da pasta. No fim de 1998, o presidente enviou o projeto de criação do ministério, que foi gestado e aprovado ao longo de 1999.

Com a nova pasta, os ministros militares passaram à condição de comandantes das respectivas Forças. Eles passaram a responder ao senador Elcio Alvares (PFL-ES), que conduziu a transição e foi o primeiro ministro da Defesa.

Hoje, o Ministério da Defesa é o órgão do governo federal responsável por coordenar o preparo e o emprego das Forças Armadas, além da articulação entre elas e delas com os demais órgãos do Estado. É também quem destina à cada Força os recursos, a partir de seu orçamento.

Desde sua criação, o Ministério da Defesa já foi comandado por 14 ministros.

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Elcio Alvares (1999 a 2000)

Indicado por FHC, foi o primeiro ministro da Defesa a assumir a pasta, que havia acabado de ser criada, marcando o momento em que as Forças Armadas passaram a estar submetidas a um civil. Vindo do PFL, Alvares era o líder do governo tucano no Senado, além de ter sido governador do Espírito Santo. Ficou menos de um ano no cargo, depois de ser alvo de denúncias de participação no crime organizado, e de ser considerado "sem pulso" para comandar as Forças Armadas.

Geraldo Magela Quintão (2000 a 2003)

Geraldo Magela Quintão era advogado-geral da União desde 1993 quando foi nomeado por FHC para comandar a pasta. O então presidente preferiu escolher alguém da área jurídica para evitar outro nome político e também para não comprar briga com os militares indicando um diplomata. Ficou marcado como um ministro "figurante" e durou até o fim do mandato de FHC.

José Viegas Filho (2003 a 2004)

Era embaixador do Brasil na Rússia, e foi escolhido por Lula para compor seu ministério em dezembro de 2002. Por ser um diplomata, a nomeação de Viegas causou algum mal-estar entre os militares. Depois de uma crise provocada por uma nota do Exército defendendo o golpe militar de 1964, o ministro tentou se impor, defendendo a demissão do então comandante do Exército, Francisco Albuquerque. Ele acabou queimado pelos militares, e pediu demissão em novembro de 2004.

José Alencar (2004 a 2006)

O então vice-presidente da República assumiu o cargo para apaziguar os ânimos nas Forças Armadas. Ele foi escolhido por ter, nas palavras do então presidente Lula, uma "autoridade inquestionável", além de uma boa relação com o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, que entrou em rota de colisão com o ministro anterior. Em 2005, disse que seu perfil era "inadequado para a Defesa" porque "minha cultura é empresarial". "Eu não entendo do assunto", afirmou. Pediu para deixar a pasta no começo de 2006, para poder disputar as eleições daquele ano.

Waldir Pires (2006 a 2007)

Em 2006, Exército e Aeronáutica preferiam o nome do ex-ministro da Educação Tarso Genro (PT) para o Ministério da Defesa, mas Lula acabou realocando Waldir Pires, que já havia sido exilado político, e estava na Controladoria Geral da União. Deixou o cargo após o desgaste por dez meses de crise aérea e pelo acidente com um avião da TAM, que matou quase 200 pessoas em São Paulo.

Nelson Jobim (2007 a 2011)

Após recusar diversos convites de Lula para assumir o cargo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça de FHC, aceitou em 2007 a nomeação para substituir Waldir Pires. Ficou mais de quatro anos no Ministério da Defesa, mas deixou a pasta já no governo de Dilma Rousseff, após desavenças com a presidente e declarações de que havia votado em José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais de 2010.

Celso Amorim (2011 a 2015)

Ex-ministro das Relações Exteriores, durante o governo Lula, Celso Amorim assumiu o Ministério da Defesa no começo do governo Dilma. A exemplo do antecessor, contudo, ele passou quatro anos à frente do órgão, e teve de lidar com a insatisfação de setores militares com a Comissão Nacional da Verdade, que propunha a revisão histórica da ditadura militar.

Jaques Wagner (2015 a 2015)

Ex-governador da Bahia, Wagner assumiu o Ministério da Defesa logo em janeiro de 2015, mas deixou o órgão em setembro, quando Dilma enfrentava uma crise política. Na ocasião, a presidente realocou Wagner para outro ministério, o da Casa Civil.

Aldo Rebelo (2015 a 2016)

Rebelo (à época, no PC do B) era ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil quando foi puxado por Dilma para o Ministério da Defesa. Em 2015, a presidente fazia uma reforma em seu Ministério para tentar resistir à profunda crise política que culminou em seu impeachment, no ano seguinte, quando Rebelo deixou o cargo.

Raul Jungmann (2016 a 2018)

Jungmann era deputado federal (PPS-PE), além de ex-ministro de FHC quando foi nomeado pelo novo presidente, Michel Temer (PMDB), vice que assumiu após o afastamento de Dilma em 2016. Na Defesa, ele ganhou protagonismo à frente do processo de intervenção federal no Rio de Janeiro, quando as Forças Armadas assumiram as atividades de segurança do Estado, em 2018. Temer então deslocou Jungmann da Defesa e o nomeou para o então recém-criado Ministério da Segurança Pública.

Joaquim Silva e Luna (2018 a 2019)

Com a troca de Jungmann, Temer deixou à frente da Defesa o secretário-geral Joaquim Silva e Luna, general do Exército, marcando a primeira vez que um militar assumiu a pasta. A princípio, ficaria de maneira interina no cargo, mas durou até o governo de Jair Bolsonaro (então no PSL), que ganhou a eleição de 2018 e assumiu no ano seguinte.

Fernando Azevedo e Silva (2019 a 2021)

General da reserva e ex-assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, Azevedo e Silva foi nomeado como ministro da Defesa por Bolsonaro. Assumiu defendendo uma separação das Forças Armadas em relação à política, e teve de lidar com uma crise institucional em 2020, quando o presidente foi a atos que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Deixou o cargo por resistir à pressão de Bolsonaro por apoio político ao governo nas Forças e por rejeitar combater medidas de restrição à circulação do novo coronavírus. Em sua nota de saída, Azevedo e Silva disse que considera ter preservado as Forças Armadas como instituições de Estado até ali.

Walter Braga Netto (2021 a 2022)

A demissão de Azevedo e Silva fez com que, pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas pedissem renúncia conjunta por discordar do presidente da República. Foi em meio à maior crise militar desde 1977 que o general da reserva do Exército Walter Braga Netto deixou a Casa Civil para assumir a Defesa. Deixou a pasta no começo de 2022 para ser vice de Bolsonaro na eleição de 2022.

Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (2022 a 2023)

Com a saída de Braga Netto, o general, então comandante do Exército, foi promovido ao Ministério da Defesa. A ideia da troca na pasta, segundo integrantes do governo falaram à época, era colocar à frente das três Forças um nome que agradasse o Exército, que reúne o maior número das tropas, e acomodar à frente da Força terrestre alguém alinhado ao Palácio do Planalto. Esteve à frente do relatório do Ministério da Defesa, enviado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), fiscalizando o sistema eletrônico de votação -sem nenhuma evidência ou indício de que possa ter ocorrido fraude na eleição. Deixa o cargo após o fim do governo Bolsonaro.

José Múcio Monteiro (2023 a 2026)

Engenheiro civil e ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), José Múcio Monteiro Filho, 74, é de uma família tradicional na política e no eixo empresarial em Pernambuco. Ele é sobrinho do ex-ministro do Trabalho do governo João Goulart, Armando Monteiro Filho (1925-2018), e primo de Armando Monteiro Neto (PSDB-PE), ex-senador e ex-ministro do Desenvolvimento Econômico do governo Dilma Rousseff.

Mais de 30 anos após começar a carreira política no campo da direita, como vice-prefeito e depois prefeito de Rio Formoso (cidade de 23 mil habitantes no interior de Pernambuco), Múcio deu uma guinada na trajetória ao se aliar a Lula. Foi líder do governo do petista na Câmara dos Deputados e, depois, ministro das Relações Institucionais.