Comandante de batalhão do Planalto troca de cargo mesmo sob inquérito por inação nos atos golpistas
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O comandante do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial), tenente-coronel Jorge Paulo Fernandes da Hora, vai deixar a função nesta semana e será realocado para cargo no Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.
A mudança ocorre enquanto a conduta de Fernandes durante os ataques às sedes dos Poderes, no dia 8 de janeiro, é investigada por um IPM (Inquérito Policial-Militar) do Exército.
No lugar dele, assume o comando do BGP o tenente-coronel Nélio Moura Bertolino, militar da arma de infantaria e formado na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1999.
Apesar das pressões para que Fernandes deixasse o cargo de comando, a mudança já estava prevista desde maio de 2022, segundo documentos internos obtidos pela reportagem.
A troca faz parte das novas designações previstas para o Exército para o biênio 2023-2024 --Fernandes estava no comando do batalhão desde 2021 e deixa a função em 27 de janeiro.
A situação de Fernandes deve ser esclarecida nesta terça-feira (24) pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, para os demais 15 generais que compõem o Alto Comando da Força.
A reunião do colegiado começará oficialmente na tarde desta terça, apesar da maioria dos generais estarem desde a manhã em conversas no QG do Exército, em Brasília.
O tenente-coronel Fernandes entrou na mira e virou alvo de processo de fritura após circularem vídeos, feitos por policiais, durante a invasão de vândalos ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.
As gravações mostram o militar discutindo com os policiais sobre a prisão dos extremistas. Na versão que circula no Palácio do Planalto, Fernandes teria dificultado a prisão dos bolsonaristas radicais --o que poderia demonstrar conivência do militar com os atos golpistas.
No Exército, Fernandes afirmou a interlocutores que não agiu com leniência. Segundo relatos feitos à reportagem, o militar tem defendido que atuou daquela forma após os golpistas estarem todos contidos, sentados no chão do segundo andar do Palácio.
A versão na caserna defende que o tenente-coronel discutiu com os policiais porque eles estariam exaltados após um colega deles, que fazia policiamento a cavalo, ter sido espancado por golpistas instantes antes da invasão ao Planalto. Por essa razão, segundo a guerra de versões, Fernandes teria tentado conter o ímpeto dos policiais quando a situação estava sob controle.
O inquérito também avalia como foi a coordenação da segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro com o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
A pasta, comandada pelo general Gonçalves Dias, não preparou um plano de segurança especial para o dia dos ataques às sedes dos Poderes. As tropas do BGP só chegaram, em números reduzidos, a partir das 13h do domingo.
Além do caso de Fernandes, o Alto Comando do Exército irá iniciar as discussões nesta terça sobre a manutenção da nomeação do tenente-coronel Mauro Cid para o comando do 1º Batalhão de Ações de Comando, em Goiânia --um dos batalhões de elite do Exército, sediado a cerca de 200 km de Brasília.
Ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Cid é alvo de investigação da Polícia Federal por transações suspeitas realizadas em favor da família presidencial, como revelou a Folha de S.Paulo.