Disputas regionais travam federação com PSB, PDT e Solidariedade
SALVADOR, BA, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - A negociação para uma federação entre PSB, PDT e Solidariedade, iniciada em março, esbarra na falta de sintonia entre os partidos para as eleições municipais previstas para o próximo ano.
A despeito de serem do mesmo campo político e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os três partidos têm interesses conflitantes nas disputas de prefeituras de capitais como São Paulo, Salvador, Fortaleza, Recife, Natal e Curitiba.
Federação partidária é a união de dois ou mais partidos que devem atuar, por ao menos quatro anos, como se fosse um partido único. A regra vale inclusive para a atuação nos Legislativos e para disputas eleitorais durante a vigência.
As eleições municipais são vistas como estratégicas para os partidos ampliarem o número de prefeitos e vereadores, que atuariam como cabos eleitorais de candidatos a deputado em 2026.
Em São Paulo, principal colégio eleitoral em disputa no próximo ano, os interesses são divergentes.
O PSB quer lançar a deputada federal Tabata Amaral à prefeitura, o PDT apresentou a pré-candidatura do apresentador José Luiz Datena e o Solidariedade faz parte da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e tende a apoiar a sua reeleição.
O conflito faz com que dirigentes partidários apostem em uma aliança apenas na eleição de 2026.
Presidente estadual do PDT, Antonio Neto defende que os partidos formem um bloco parlamentar no Congresso como uma espécie de ensaio para a federação: "A ideia é fazer o noivado primeiro para só depois pensar em um casamento".
Ele ainda afirma que há resistência no partido a um possível apoio à candidatura de Tabata Amaral, que já foi filiada ao PDT e deixou o partido de forma ruidosa em 2021 em meio a conflitos internos.
Na Bahia, PDT e PSB estão em campos opostos. Enquanto o PSB é aliado histórico do PT baiano, o PDT apoiou a candidatura de ACM Neto (União Brasil) ao Governo da Bahia no ano passado.
A disputa pela Prefeitura de Salvador em 2024 seria um novo entrave entre as duas siglas.
O PDT é o partido de Ana Paula Matos, vice-prefeita na gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil). Ambos devem concorrer à reeleição no próximo ano. O PSB, por sua vez, lançou a pré-candidatura da deputada federal Lídice da Mata, que já foi prefeita da cidade de 1993 a 1996.
Presidente do PDT na Bahia, o deputado federal Félix Júnior defende que os partidos com mandato no Executivo tenham prioridade na federação.
Lídice da Mata, presidente do PSB baiano, antecipa as dificuldades: "Estamos em lados diferentes na Bahia. Um dos lados vai ter que ceder e vou lutar para que não seja o meu".
Em Curitiba, são ao menos quatro os pré-candidatos à prefeitura nos três partidos que negociam a federação: o deputado federal Luciano Ducci (PSB), o senador Flávio Arns (PSB), o deputado estadual Goura (PDT) e o deputado federal Luizão Goulart (Solidariedade).
Presidente do PSB no Paraná, Luciano Ducci defende a federação já em 2024 e diz que o debate não pode ser prejudicado por questões locais: "Todas as pendências são perfeitamente resolvíveis. Basta ter bom senso e seguir critérios objetivos".
Outro imbróglio está no Rio Grande do Norte, onde os três partidos estão em lados opostos. O mais cotado do PSB para disputar a Prefeitura de Natal é o ex-deputado Rafael Motta, que perdeu a disputa para o Senado em 2022. Um dos rivais foi o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), que pode disputar o pleito municipal da capital novamente.
A situação no estado é tida como uma das mais delicadas, em razão das rivalidades acirradas entre PDT e PSB.
No Recife, o PDT é aliado do PSB, partido do prefeito João Campos, que quer disputar a reeleição e é favorável à federação já em 2024. Já o Solidariedade é comandado pela ex-deputada federal Marília Arraes, derrotada no segundo turno para o Governo de Pernambuco em 2022.
Uma eventual federação poderia colocar os primos de segundo grau juntos. Adversários em 2020 na eleição para a prefeitura, João Campos e Marília Arraes não são próximos politicamente. A situação ficou menos tensa após o apoio dele à ex-petista no segundo turno da eleição estadual de 2022.
Marília Arraes não tem sinalizado intenção de disputar a prefeitura da capital novamente. Uma parte dos seus aliados defendem que ela pleiteie a Prefeitura de Olinda.
Em Fortaleza, o prefeito Sarto Nogueira (PDT) está com relação estremecida com o PSB ?dois vereadores do partido romperam com a gestão e migraram para oposição nas últimas semanas. O vice-prefeito Élcio Batista deixou o PSB e migrou para o PSDB.
PDT e PSB ensaiaram uma aproximação nas eleições municipais de 2020, quando fecharam alianças em 45 cidades com mais de 100 mil habitantes, incluindo dobradinhas em ao menos oito capitais.
A parceria era para ser uma espécie de laboratório para as eleições de 2022, mas os dois partidos seguiram caminhos distintos na eleição presidencial: o PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes, enquanto o PSB compôs a chapa liderada por Lula que saiu vitoriosa das urnas.
As cúpulas de PSB, PDT e Solidariedade têm praticamente um consenso em torno da federação para as eleições de 2026. Para 2024, há divergências internas nas três legendas.
No Solidariedade, o principal defensor é o ex-deputado Paulinho da Força, enquanto a bancada na Câmara resiste ao vínculo já para o próximo ano. No PSB, João Campos, influente no comando do partido, é entusiasta da federação já para 2024.
O ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, está cético quanto à federação para o próximo ano, de acordo com integrantes da Executiva do partido. Mas uma ala da bancada na Câmara, encabeçada pelos deputados federais do Ceará, defende a construção.
O objetivo dos partidos com a federação é criar musculatura nas negociações com o governo federal, além de terem maior robustez para atingir a cláusula de desempenho nas próximas eleições. Em 2022, o Solidariedade elegeu quatro deputados federais e não conseguiu superar a cláusula. Para alcançar o patamar mínimo, incorporou outra legenda: o Pros.
PSB e PDT, por sua vez, tiveram desempenho aquém do histórico das legendas no Congresso. Os pedetistas elegeram 17 deputados federais e os pessebistas viram sua bancada cair para 15 parlamentares na Câmara.
Os partidos estão em processo de consultas internas e discutem quais seriam os critérios para escolher quem comandará a federação em cada estado. Um dos critérios seria o maior número de votos na última eleição para deputado federal. Mas haveria prevalência dos partidos nos locais onde eles elegeram o governador ou o prefeito da capital.