Ministro dos DH reclamou com presidente de Conselho da Criança após nota contra BC

Por FÁBIO ZANINI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, reclamou com o então presidente do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), Ariel de Castro, de uma suposta falta de articulação do órgão após a divulgação de nota crítica ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Formado por representantes do governo e da sociedade civil, o Conanda é uma instância que tem independência.

Em 16 de fevereiro, o conselho publicou nota repudiando uma fala de Campos Neto ao Roda Viva. No programa, ele elogiava o pix dando como o exemplo o fato de que até crianças que vendiam produtos em restaurantes aceitavam essa forma de pagamento.

Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o Conanda considerou que Campos Neto naturalizou o trabalho infantil no país.

No dia seguinte, o ministro cobrou Castro, que também era secretário da Criança e do Adolescente da pasta.

Almeida não reclamou do teor da nota em si, mas "determinou" que fosse avisado previamente sobre futuros posicionamentos que pudessem ter impacto no governo. Disse que era preciso haver mais articulação interna por parte de Castro.

Embora tenha reforçado que o Conanda seguiria sendo independente, Almeida disse que o ministério estava num momento de afirmação dentro da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, e que era preciso proceder com cuidado.

O então secretário respondeu ao superior hierárquico que tomou todas as cautelas e que a nota foi um pleito das entidades da sociedade civil representadas no Conanda. Citou ainda que houve unanimidade na decisão.

Ele foi demitido na semana passada, após um longo processo de desgaste. Como mostrou o Painel, um dos episódios que desagradaram Almeida foi o fato de uma reunião do então secretário com a primeira-dama, Janja Lula da Silva, sobre proteção à infância, ter sido marcada sem conhecimento prévio do gabinete ministerial.

Procurada, a assessoria do ministro não se manifestou até a publicação deste texto.