Esquerda tem de dialogar com sentimento 'antissistema', diz Dilma sobre junho de 2013
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) diz que as manifestações de junho de 2013 mostraram à esquerda que é preciso entender e dialogar com o sentimento "antissistema" que existe na sociedade.
A análise foi feita em artigo publicado por ela na última edição da revista Focus, da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Dilma era a presidente durante as manifestações e se diz surpresa com o tamanho que elas adquiriram. Segundo ela, a direita tinha um discurso falso contra o sistema, mas que acabou tendo respaldo em grande parte da sociedade.
"Um dos grandes desafios estratégicos da esquerda brasileira é reconstruir uma perspectiva antissistema, de radicalização da democracia como ferramenta para a soberania e a justiça social", escreve ela, atualmente presidente do Banco dos Brics, sediado em Xangai, na China.
De acordo com a ex-presidente, "o espírito antissistema está disseminado em nossa sociedade: seria erro imperdoável deixar que o neofascismo continue apoderado desse sentimento, para manipulá-lo de forma reacionária", declara.
Ela diz ainda que as manifestações não foram iniciadas pela direita, mas que acabaram sendo capturadas por ela.
"As forças mais conservadoras, contando com meios muito superiores de comunicação, além de recursos financeiros e conexões internacionais, puderam assumir uma relativa dianteira e explorar as mobilizações para arremetê-las contra o governo, trocando as aspirações originais por um difuso e fabricado discurso contra a corrupção", afirma.