'Tô na UTI, não morri ainda', diz Bolsonaro sobre inelegibilidade
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comparou sua inelegibilidade, declarada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última sexta-feira (30), com estar na UTI, e disse que ainda não morreu politicamente.
A declaração foi dada durante entrevista à Jovem Pan, nesta segunda-feira (3).
"Eu tô na UTI, não morri ainda. [Não é justo] Alguém já querer dividir meu espólio", afirmou Bolsonaro.
"Que que eu vejo aqui [em] nomes nacionais, não tem nome ainda de um conhecimento do Brasil todo para fazer o que fiz ao longo desses quatro anos", completou, referindo-se a um potencial sucessor em 2026.
Ele disse ainda que ajudou a criar novas lideranças, contudo. Citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), cotados como sucessores na direita.
"Outros bons nomes apareceram, mas não tem ainda esse carimbo para falar para o Brasil todo que estamos juntos em 2026. Espero um pouco mais", disse ainda.
Além dos dois nomes citados pelo próprio presidente, há ao menos mais dois citados por aliados: a senadora Tereza Cristina (PP-MT) e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).
O ex-chefe do Executivo disse ainda que há, na eleição municipal de São Paulo, uma tendência de apoio seu e do seu partido, PL, ao atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
"Se tiver candidato nosso, com chance de ganhar, a gente vai com ele. Até o momento, não apareceu com todo respeito que tenho ao Ricardo Salles. Há tendência hoje em dia de ficar com Ricardo Nunes. Não está batido o martelo", afirmou.
Durante a entrevista, Bolsonaro também disse não temer ser preso, "só se for na base da arbitrariedade". Mas, depois, seguiu dando exemplo do que seriam arbitrariedades que já ocorrem no Brasil.
Dentre as principais, citou as prisões de golpistas que depredaram a sede dos três poderes em 8 de janeiro. Bolsonaro costuma de dizer que eram idosos com "bíblia debaixo do braço e bandeira nas costas".
Também elencou as prisões dos seus três principais auxiliares: tenente-coronel Mauro Cid, capitão do Bope Max Guilherme de Moura e o capitão da reserva Sérgio Cordeiro. Cid vai depor na PF (Polícia Federal) na terça-feira (4).
Bolsonaro também disse que a busca e apreensão realizada pela PF na sua casa, no âmbito da operação que prendeu seus auxiliares, ocorreu não para procurar cartão de vacina, mas para pegar seu telefone.
O TSE decidiu, na semana passada, declarar o ex-presidente inelegível até 2030. O julgamento ocorreu seis meses após sua saída do cargo e tem como foco uma ação movida pelo PDT contra a chapa devido à reunião com os embaixadores.
Aliados do ex-presidente dizem que a decisão do TSE é um tiro no pé do ponto de vista político e garante a ele holofote pelos próximos anos.
Em linhas gerais, tratam o tema como injustiça e destacam que ele continuará com o papel de líder da direita.
O entorno do ex-presidente classifica o julgamento como político, mas já esperava o placar da corte eleitoral -foram favoráveis ao ex-presidente os ministros Raul Araújo e Kassio Nunes Marques.
Seus aliados dizem acreditar, contudo, que o eleitor tem percepção de que há excesso de ativismo judiciário e que isso deve repercutir no voto daqui em diante. Para eles, o TSE agiu para tirar Bolsonaro da disputa eleitoral, mas o eleitor continuará próximo dele.
Há ainda uma avaliação de que um julgamento como este é de difícil compreensão para a população. É muito difícil traduzir os motivos da sua cassação, de forma que, simplificadamente, fica a pergunta: "Por que não posso votar no Bolsonaro?". A narrativa do ex-presidente seria de mais fácil entendimento.