Escolha de nome para o TCE expõe fraturas na base de Tarcísio na Alesp
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A disputa para a indicação do novo conselheiro do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) revela fraturas na base aliada do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A próxima vaga será aberta em setembro, com a aposentadoria do conselheiro Edgard Camargo Rodrigues, e a indicação parte da Alesp. O cargo na corte que julga as contas do governo e das prefeituras é um dos mais cobiçados na política paulista.
O candidato escolhido em um acordo do secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD), com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é o deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP) ?nome chancelado por Tarcísio na Assembleia.
O assunto, porém, tem sido marcado por rebeliões e insatisfações na base, que vê na imposição de um nome mais uma mostra da desarticulação política do governo. A dificuldade do governo com o assunto indica que a administração deve ter trabalho para aprovar projetos de peso previstos para o segundo semestre.
Há relatos de que o governo chegou a encorajar mais nomes a buscar a vaga, o que causou mágoas e colocou lenha no clima de revolta no Legislativo.
Até o momento, circulam diversos nomes pela Casa, incluindo os dos deputados estaduais Ricardo Madalena (PL) e Gilmaci Santos (Republicanos). Entre os candidatos que correm por fora, quem tem o cabo eleitoral mais forte é o advogado Maxwell Vieira, apoiado pelo ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A reportagem conversou com diversos deputados que afirmam que, embora Bertaiolli seja favorito devido ao poder do governo, o jogo ainda não está ganho. Há quem diga que o movimento de contrários ou indecisos pode superar metade dos membros da Casa, que são 94 no total ?o indicado ao TCE passa por sabatina e precisa ter o nome aprovado em plenário.
O governo tem entrado em campo com mais força, com cobranças sobre a base e alimentando a expectativa de nomeações para o segundo escalão. Por ora, a lista de insatisfeitos inclui gente no partido do próprio governador, o Republicanos, e também o PL, que tem a maior bancada da Casa (19 integrantes).
A situação não é melhor na União Brasil, partido com oito deputados que foi escanteado por Tarcísio.
O candidato visto como do governo, Marco Bertaiolli, tem feito um intenso trabalho de conversas junto a diversos partidos. Apesar de ser do PSD de Kassab, é conhecida sua proximidade com Valdemar Costa Neto, do PL.
O líder da sigla chegou a levar Bertaiolli a uma reunião com os deputados da bancada, gerando uma saia-justa com Ricardo Madalena.
Há uma guerra de narrativas sobre adesões às candidaturas, que indicam que alguns sinalizaram apoio para mais de uma pessoa.
Madalena, membro da sigla, não retirou a candidatura mesmo após o gesto do presidente do partido. Entre bolsonaristas, a imposição vinda de Valdemar não foi engolida por parte da bancada.
O Republicanos, partido do governador, também não fechou com Bertaiolli.
O candidato interno de parte da bancada é Gilmaci Santos.
Se Gilmaci deixasse o mandato, quem assumiria no seu lugar seria o agente federal Danilo Campetti (Republicanos), que atuou na equipe de segurança de Tarcísio na campanha e esteve presente no dia em que houve um tiroteio na favela da Paraisópolis, durante o segundo turno.
Ele chegou a ser assessor de Tarcísio, mas foi obrigado a sair após ser transferido pela PF ?recentemente, a corporação o afastou do cargo.
A chance de ajudar um homem de confiança em situação desfavorável é vista como um ativo para convencer o governador, seja para a vaga de agora ou para as próximas que surgirão nos próximos anos.
A relação de Tarcísio com o Republicanos, porém, está estremecida desde quando começaram articulações para que o partido assuma um ministério no governo Lula (PT). O governador é um dos principais nomes do campo antipetista, cogitado pela direita para as eleições presidenciais de 2026, e esse movimento poderia fazer com que ele saísse do partido.
Correndo por fora, o advogado Maxwell Vieira conta com um lobby poderoso, do ministro do STF André Mendonça. A reportagem apurou que o magistrado se envolveu no corpo a corpo da indicação, inclusive ligando a alguns deputados para defender a escolha.
A aposta da cadidatura dele é que o ministro consiga apoio de bolsonaristas, evangélicos e até da oposição, interessada em impor uma derrota a Tarcísio.
Vieira foi diretor-presidente do Detran em São Paulo durante a gestão Geraldo Alckmin e João Doria, ambos na época do PSDB. Ele também atuou no no Ceagesp na gestão de Jair Bolsonaro (PL), sendo sempre próximo de Mendonça.
Em um cenário confuso, os partidos de esquerda sabem que podem fazer a diferença. O PT, o PSOL e a Rede, juntos, têm uma bancada de 25 deputados na Alesp. Nenhum nome, inclusive o apoiado pelo governo, é descartado.
Procurado, Paulo Fiorilo, líder do PT na Alesp, disse à reportagem que a bancada deve tratar do tema nesta semana em reunião com a presença do presidente estadual, Kiko Celeguim.
Para a oposição, é importante ter uma boa relação com os conselheiros do TCE, uma vez que a corte analisa contas de prefeituras e também os ofícios de pedido de fiscalização do governo. Por isso, se a vitória de Bertaiolli for vista como inevitável, ele pode acabar levando os votos desse bloco.
No entanto, a impressão hoje é que o governo está desarticulado na Alesp e que há um movimento de descontentamento crescente. Mesmo entre sua base, há a percepção de que uma derrota passaria um recado importante ao governo em momento crucial.
No segundo semestre, a administração Tarcísio pretende votar vários projetos importantes.
Tarcísio indicará um total de quatro vagas, sendo três de indicação da Alesp e uma de escolha dele. As negociações agora, portanto, podem incluir a escolha de alguns dos atuais candidatos para postos remanescentes.
O assunto pode contaminar o clima para votações importantes previstas para os próximos meses. As prioridades devem ser a reforma da administrativa com cortes de cargos e a proposta que permite remanejamento da educação para a saúde.
Até o momento, o governo penou para aprovar projetos muito menos polêmicos.