Tarcísio acumula novas derrotas na Assembleia, e deputado da base critica falta de experiência
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) acumulou novas derrotas na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta semana e até deputado estadual da base do governo subiu à tribuna para criticar a falta de experiência do chefe do Executivo.
Em meio à insatisfação da base, o governo não vem conseguindo aprovar projetos de seu interesse, enquanto deputados aprovaram projetos de sua autoria.
Na terça-feira (28), o governo tentou, sem sucesso, conseguir quórum para votar um projeto que aumenta o valor das taxas processuais do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) de 1% para 1,5%. Embora a autoria seja do TJ, o governo comprou a pauta para si e tentou mobilizar a base.
O projeto necessitava de ao menos 48 votos dos 94 deputados ?no entanto, só houve 41 votos a favor e três contra. A desmobilização partiu de diversos deputados que, em tese, pertencem à base de Tarcísio.
O deputado estadual Conte Lopes (PL) subiu ao plenário nesta quinta-feira (31) e fez críticas ao governador, enquanto citou como exemplo positivo o traquejo político do presidente Lula (PT).
"[Tarcísio] é um homem muito competente, muito inteligente, mas na verdade ele está na política há oito meses. É diferente do presidente Lula", disse, citando que o presidente "cria ministérios à vontade".
"Ele [Lula] é político, ele sabe até trabalhar nesse sentido. O outro não, está há oito meses na política, o Tarcísio de Freitas. Colocou um secretariado de técnicos, ele mesmo disse. E evidentemente está conduzindo o governo do estado de São Paulo. Não está satisfazendo a muitas pessoas? Talvez não. Deixa de atender à classe política e esse é um defeito de todo aquele que não é político", completou.
O deputado é policial militar aposentado e pertencente à bancada da bala na Alesp.
Ele disse que técnicos têm ojeriza a políticos, mas defendeu que este grupo tem que ser ouvido porque conhece a "alma do eleitor". O deputado ainda sugeriu que o PL, com 19 deputados, deveria ser melhor tratado e ter mais poder político.
"O cara tem que abrir um pouco para o lado da política. Talvez isso esteja faltando um pouco ao Tarcísio. A gente viu na imprensa que não conseguiu aprovar projeto aqui na Casa, né? A insatisfação, porque não ouve, infelizmente, tem que ouvir mais a classe política."
O governo Tarcísio não conseguiu fazer avançar um projeto de sua autoria que ratifica acordo firmado com São Paulo e outros estados para a criação do Cosud (Consórcio de Integração dos Estados do Sul e Sudeste do Brasil).
Por outro lado, porém, aprovou pacote com dezenas de projetos de autoria dos deputados que pode levar dor de cabeça a Tarcísio, uma vez que alguns deles podem acabar vetados por questões técnicas e causarão ainda mais desgaste ao governador.
A aprovação dos projetos faz parte de uma promessa do presidente da Casa, André do Prado, de que os deputados teriam ao menos um projeto aprovado neste ano.
Tarcísio já vinha sofrendo para aprovar projetos "mamão com açúcar" e já era alvo de fogo amigo de deputados bolsonaristas.
Eles cobram cargos, emendas, alinhamento e influência ?querem que a gestão Tarcísio seja uma versão local do governo Jair Bolsonaro. O governador resiste.
A prioridade do governo é votar neste ano projetos muito mais polêmicos que os que não passaram ainda ou foram aprovados após percalços. Entre eles estão o remanejamento de verba da educação para a saúde e uma reforma administrativa com corte de cargos no funcionalismo.
Segundo deputados da base, as indicações para cargos na administração estão travadas e as pautas e prioridades da gestão Tarcísio não são apresentadas com clareza no Legislativo.
Parte das críticas pela desarticulação recaem sobre o líder do governo, Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), que muitos de seus pares veem como alguém sem perfil para esse tipo de cargo.
O governador convidou o tucano Carlão Pignatari para o Republicanos. Ex-presidente da Casa na gestão do PSDB, ele passaria a exercer as funções do Xerife do Consumidor.
A assessoria do governador Tarcísio nega que Carlão tenha sido convidado para o Republicanos e para atuar como líder do governo na Alesp.
Além disso, a disputa para a indicação do novo conselheiro do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) na Alesp revela fraturas na base aliada.
A próxima vaga será aberta em setembro, com a aposentadoria do conselheiro Edgard Camargo Rodrigues, e a indicação parte da Alesp.
No entanto, há insatisfação na base com a imposição de um deputado federal, Marco Bertaiolli (PSD), escolhido em um acordo do secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD), com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e chancelado por Tarcísio.
Nesta semana, o candidato rival, Maxwell Vieira, apoiado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça, ganhou fôlego na Alesp. O magistrado colocou o time em campo por seu indicado, fazendo ligações para alguns dos deputados.
O PT, que tem 19 deputados, decidiu que não apoiará Bertaiolli na disputa para o conselho. Isso dá força à candidatura de Vieira, que visa deputados da base de Tarcísio com perfil bolsonarista e evangélicos.