Castro tenta conter desgaste com ataques, e aliados veem erros e queda nas pesquisas
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A crise na segurança pública do Rio de Janeiro tem causado um desgaste político na imagem do governador Cláudio Castro (PL), conforme avaliam aliados próximos ao chefe do Palácio Guanabara.
Ouvidos pela reportagem, integrantes do entorno de Castro dizem que a escalada de violência fará com que o governador tenha um derretimento de popularidade.
Diante do cenário, o governador já traça estratégias para contornar o desgaste. Além de ouvir a cúpula de segurança do governo, Castro também tem sido aconselhado por marqueteiros e políticos sobre qual é a melhor forma de se posicionar em relação à crise.
Uma das orientações que recebeu é repetir o mote do "siga o dinheiro", que ganhou fama no caso americano Watergate.
Na terça-feira (24), Castro anunciou um grupo de trabalho para investigar a lavagem de dinheiro de criminosos. O trabalho será tocado pelo governo do estado em conjunto com o Ministério Público e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Na segunda (23), 35 ônibus e um trem foram incendiados na zona oeste do Rio em represália à morte de um miliciano. É a notícia mais recente do aumento de tensão causada por grupos criminosos na região metropolitana da capital do estado.
A avaliação de aliados do núcleo duro do governo é a de que o desgaste se dá principalmente pelas decisões tomadas por Castro no combate ao crime organizado. Eles dizem que as medidas foram equivocadas e não conseguiram trazer à população uma resposta efetiva nem eficaz.
?BANDA PODRE?
Um exemplo citado é a operação da Maré, que visava desarticular o Comando Vermelho do complexo de favelas da zona norte do Rio. Elogiada pelo governador, a ação não conseguiu prender os líderes da facção ?apenas 6 de 100 mandados de prisão foram cumpridos no primeiro dia da incursão, quando dois helicópteros foram atingidos por tiros e um policial civil ficou ferido.
Na operação, a prisão mais importante foi a de um PM que transportava cerca de 100 kg de cocaína nas proximidades do complexo da Penha. O militar da ativa, lotado no Batalhão de Santa Cruz, é apontado como homem de confiança de um dos chefes do Comando Vermelho, o Wilton Quintanilha, conhecido como Abelha.
O policial não foi o único agente das forças de segurança do estado envolvido com o crime organizado nas últimas semanas. No dia 19, a Polícia Federal prendeu quatro policiais civis suspeitos de cobrar propina de traficantes. No dia seguinte, um delegado também foi alvo da PF após a denúncia de ter extraviado 280 kg de cocaína.
Os três casos reforçaram a ideia de que, mesmo após três anos como governador, Castro ainda não conseguiu expurgar o que é chamado de "banda podre" da polícia. Isso, segundo aliados, enfraquece a imagem que o governador tenta passar de estar combatendo o crime organizado.
Outra avaliação é que, embora Castro faça pronunciamentos tão logo as ações policiais acontecem, o desempenho nas últimas entrevistas coletivas foi ruim.
O entorno do governador aponta que Castro não consegue fazer uma fala firme, apesar de apostar em frases de efeito. Em comparação, essas características puderam ser aproveitadas de forma positiva na campanha de reeleição, em que conseguiu a vitória já no primeiro turno.
Agora, porém, mesmo declarações mais incisivas estão tendo o efeito oposto. Na segunda-feira, enquanto o governador afirmava ter dado um "golpe duro na milícia", ações do grupo criminoso paralisavam a zona oeste, uma das principais regiões da cidade.
"O crime organizado que não ouse desafiar o Estado", disse Castro no momento os ataques afetavam 2,5 milhões pessoas e causaram um prejuízo avaliado em R$ 38 milhões.
DIVIDIR RESPONSABILIDADE
Para contornar o desgaste, um dos conselhos que Castro tem ouvido é que ele deve dividir a responsabilidade com as demais esferas de poder. É por isso que o governador tem reforçado que o crime organizado não é um problema endêmico do Rio e que o governo federal precisa cooperar para combatê-lo.
A orientação que recebeu é a de que ele não deve se restringir apenas ao Ministério da Justiça, mas também instar a ajuda da Receita Federal e do Coaf. Segundo um dos conselheiros do governador, conseguir mostrar as movimentações financeiras dos criminosos já será uma resposta eficaz no combate às milícias e facções ?além de ajudar de forma efetiva nas investigações.
Outra frente para contornar o desgaste é tentar uma união entre os parlamentares do Rio, inclusive de oposição, para montar uma aliança ampla na contenção à escalada de violência. Isso, nos desejos do governador, ajudaria a pressionar o governo federal por mais ajuda ao estado e faria Castro ter uma imagem de agregador em meio a crise.
Porém, para os próprios aliados, essa frente é mais difícil de conseguir. O governador é bastante criticado pela esquerda justamente por sua política de segurança pública.
Já entre os aliados no Rio, Castro está enfraquecido e sofre pressão da base governista para acatar as indicações para cargos na gestão. Foi o que fez o governador trocar, em menos de um mês, o secretário da Polícia Civil. No final de setembro, José Renato Torres foi nomeado ao cargo. Na semana passada, ele foi exonerado e substituído pelo delegado e influenciador digital Marcus Amim, ligado ao presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Barcellar (PL).
ENDURECER DISCURSO
Na véspera de um ano eleitoral, em que Castro tenta indicar seus aliados como candidatos, há um receio na cúpula do governo de que o desgaste causado pela crise possa impactar em seu poder eleitoral. Para avaliar a opinião pública, a equipe do governador tem feito pesquisas frequentes.
Um dos resultados obtidos é de que Castro mantém uma base conservadora que tem como uma de suas prioridades o tema da segurança. São eleitores que defendem um pulso firme no combate à criminalidade.
Para não perder sua força em meio a esse eleitorado e conquistar novos apoiadores, temerários à escalada de violência, Castro também aposta em um tom belicoso e que traz de volta a ideia de inimigo número um do estado. É o que ele faz ao anunciar como alvo o nome dos três líderes das principais organizações criminosas do Rio: os milicianos Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, e Danilo Dias Lima, o Tandera, e o traficante Abelha.