Ala do PT vê Gleisi como provável ministra e abre debate sobre sucessão no partido

Por JULIA CHAIB

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma ala do PT vê movimentações de Lula (PT) para que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), seja incorporada ao time de ministros. Nos bastidores, petistas já iniciaram o debate sobre quem seria o melhor nome para sucedê-la à frente do partido.

Segundo aliados, Lula demonstrou vontade de ter uma mulher no comando do Ministério da Justiça e precisa de um nome de confiança, por isso Gleisi aparece como forte cotada. Mesmo que não assuma esse cargo, petistas acreditam que ela pode ser chamada a chefiar outra pasta.

A presidente do PT viajou nesta semana para o Rio para um encontro com Lula. A expectativa de integrantes do governo é que o assunto seja debatido.

Uma das possibilidades é Gleisi ir para o lugar de Márcio Macêdo na Secretaria-Geral. Nesse cenário, Macêdo é cotado tanto para presidir o PT como para ser candidato à Prefeitura de Aracaju.

Outra hipótese é a presidente do PT substituir Rui Costa à frente da Casa Civil ou Wellington Dias no Ministério do Desenvolvimento Social. Há expectativa de que Lula promova uma nova reforma ministerial no início do ano que vem.

O principal entrave para Gleisi ser ministra é a dificuldade de se encontrar um sucessor natural para o comando do PT. Lula tem a preocupação de que o partido não fique desfalcado, sobretudo num ano eleitoral.

Um dos pontos levantados é que o ano eleitoral demanda que o PT seja conduzido por um nome com autoridade. Além disso, aliados de Gleisi dizem que ela própria demonstra resistência a assumir determinados cargos.

Pessoas próximas ponderam que ela teme sofrer desgaste caso seja ministra da Justiça, posição extremamente delicada por abrigar órgãos como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Em outra frente, dizem que na presidência do PT ela tem mais visibilidade do que ministérios de menor porte, como a Secretaria-Geral.

Gleisi chegou a ser cotada ainda na transição para assumir um ministério, mas Lula argumentou que precisava dela no comando do partido.

Na ausência de um sucessor natural no PT, os nomes do líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Rui Falcão (SP), e do senador Humberto Costa (PE) têm ganhado força como cotados para o comando do partido.

O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, também passou a ser considerado e tem o apoio de parlamentares. Reservadamente, petistas dizem que ele tem cacife para chefiar o partido e representaria uma renovação da sigla.

Segundo petistas, a escolha do futuro presidente do PT dependerá do aval de Lula e da simpatia da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.

A presença de Gleisi no governo reforçaria o time dos críticos à política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Gleisi tem defendido a revisão da meta fiscal, ideia rejeitada por Haddad.

Apesar dos cenários tratados, integrantes do governo têm dúvidas se Lula pretende já resolver a questão do Ministério da Justiça.

Lula congelou as tratativas sobre o futuro da pasta e disse a aliados que só tratará do tema depois da sabatina de Flávio Dino no Senado, na próxima quarta-feira (13). O ministro foi escolhido pelo petista para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Há ainda a possibilidade de que o mandatário deixe o assunto para o ano que vem, uma vez que o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, tem indicado que a posse do novo integrante da corte ficará para meados de fevereiro.

Dessa forma, o próprio Dino deve seguir no comando do ministério até que Lula encontre seu sucessor ou até a posse no STF.

Além de Gleisi, há outros cotados para a Justiça. Um dos principais, o ministro Jorge Messias (AGU), que também disputou a vaga do STF, já indicou que prefere continuar onde está.

Segundo interlocutores, além de ter preferência pela AGU, ele só está disposto a mudar se puder ter "porteira fechada", o que não deve ocorrer. Na Polícia Federal, por exemplo, não há nenhuma perspectiva de mudança, uma vez que o diretor-geral, Andrei Passos, é indicação do próprio Lula.

Além de Gleisi, o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski é tido como um dos principais nomes para a sucessão de Dino.

O nome de Lewandowiski também aparece nas apostas para a Defesa, caso o titular, José Múcio, deixe o cargo no ano que vem.

Hoje consultor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), ele esteve ao lado de Lula nos últimos dias durante viagens internacionais no Oriente Médio e na Alemanha. Interlocutores de Lula, contudo, negam que tenha havido um convite ou mesmo sondagem.

Aliados do ex-ministro dizem que ele não poderia recusar um eventual convite do presidente.

Se Gleisi tem o peso do partido e o fato de ser mulher a seu favor, uma eventual opção por Lewandowski poderia livrar Lula de um novo problema: a disputa entre siglas aliadas por mais espaço na Esplanada.

Auxiliares palacianos já dão como certo que a sucessão do ministro da Justiça, filiado ao PSB, não deve ser por um nome do partido.

Hoje a legenda tem quatro secretários: Ricardo Cappelli, na secretaria-executiva; Augusto Botelho, secretária nacional de justiça; Tadeu Alencar, na secretaria nacional de segurança pública; e Elias Vaz, na secretaria nacional do consumidor.

O PSB quer garantir que eles permaneçam no ministério, ainda que o titular da pasta seja de outra legenda. Essa costura ainda não chegou a ser discutida com Lula, segundo Carlos Siqueira, presidente do PSB.

"[O] PSB quer manter espaço? Quer. Mas quem vai decidir é o presidente Lula. E ele já disse que não vai tratar desse assunto até que haja a aprovação do nome do Dino no Senado. Antes é só especulação", afirmou.