Tarcísio cita estreita relação com governo Lula e fala em carinho por Bolsonaro

Por MICHELE OLIVEIRA

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mostrou-se surpreso nesta terça-feira (6) com a repercussão sobre a relação institucional que vem estabelecendo com o presidente Lula (PT).

Na semana passada, os dois adversários políticos anunciaram, lado a lado, uma parceria para viabilizar a construção do túnel entre Santos e Guarujá, no litoral paulista.

O governador falou à reportagem sobre isso. "Não deveria [virar notícia], porque é uma coisa que não tem nada de mais. Estamos muito focados nos projetos para São Paulo e, obviamente, existe a necessidade de a gente ter uma relação republicana, em função de uma série de atuações conjuntas que os governos têm que ter", disse em Milão, onde participou de reuniões com possíveis investidores em projetos de infraestrutura.

"O túnel Santos-Guarujá é um projeto que o Governo de São Paulo não faz sozinho nem o governo federal sozinho. Se não tiver essa colaboração, quem vai perder é o cidadão, que tem que ser o destinatário final da política pública", afirmou.

Com o acordo entre Lula e Tarcísio, os governos paulista e federal vão dividir uma conta de ao menos R$ 5 bilhões para a construção do túnel, com metade do valor para cada parte. Ainda restará uma parte do custo total da obra, que deve ser desembolsada pela empresa que vencer a licitação.

O túnel faz parte do cardápio de 20 projetos que estão sendo apresentados a empresas europeias dentro do programa de parcerias do governo paulista. A estimativa é realizar 44 leilões até 2026 e atrair mais de R$ 220 bilhões em investimentos. Além de Milão, Tarcísio e sua equipe tiveram encontros em Madri e ficam três dias em Paris, até sexta-feira (9).

Além da obra, o governador citou a importância da afinidade com o governo Lula em temas como SUS, habitação, segurança e o combate à dengue.

"Vamos trabalhar em estreita colaboração nos temas importantes. E não é nada diferente do que disse que ia fazer lá atrás. Sempre que fui perguntado sobre como seria a relação com o governo de oposição, eu disse que a relação seria republicana ?e está sendo."

Sobre possíveis repercussões negativas da relação com o presidente Lula entre os seus apoiadores e os do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse não estar preocupado. "Acho que todo mundo entende o papel do governador de São Paulo, pensando o melhor para o estado. A gente não ganha nada em ter uma relação belicosa com o governo federal. Queremos ter uma relação harmônica", disse.

Tarcísio mostrou apreço por sua relação com o ex-presidente, de quem foi ministro da Infraestrutura (2019-2022). No fim de semana, Bolsonaro se referiu a ele como um "irmão". Para o governador, o sentimento é recíproco.

"Tenho um carinho muito grande pelo Bolsonaro. Foi um cara que me estendeu a mão e me abriu uma grande oportunidade. Se eu estou em São Paulo, é por causa dele. Tenho uma excelente relação, é um grande amigo e vai continuar sendo sempre."

Questionado sobre a investigação da "Abin paralela" e do suposto envolvimento da família Bolsonaro, Tarcísio disse não conhecer os detalhes da investigação, mas que, no papel de um ministro que foi "muito próximo" do ex-presidente, nunca soube de nada.

"Ele nunca comentou nada, nunca vi uma movimentação, uma informação que ele tivesse que viesse de uma? Nunca vi esse interesse por parte dele. É um negócio que me causa certa estranheza."