Manifestantes ocupam Câmara Municipal em apoio a v?deo da UFJF com drag queen
Manifestantes ocupam Câmara Municipal em apoio a vídeo da UFJF com drag queen
Centenas de manifestantes contrários aos pedidos de moção de repúdio dos vereadores de Juiz de Fora, ao Colégio de Aplicação João XXIII, ocuparam e protestaram no plenário da Câmara Municipal na tarde desta terça-feira, 17 de outubro. Durante a reunião, José Fiorilo (PTC) optou por retirar, já André Mariano (PSC) suspendeu provisoriamente o pedido para esclarecer a questão, inicialmente, com as partes envolvidas. Os pedidos de moção foram apresentados na segunda, 16, devido a polêmica causada pelo vídeo institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) 'Hora do Lanche', que teve participação da drag queen Femmenino em comemoração ao Dia das Crianças. Com faixas, cartazes e palavras de ordem, os manifestantes deixaram a reunião inflamada e precisou ser interrompida em alguns momentos por causa dos protestos do público.
O artista Nino de Barros, que interpreta a drag Femmenino, diz que por um lado, a repercussão é positiva, pois desperta questões que precisam ser discutidas na sociedade. “Acho que esta luta não é só minha. Assim, temos mais espaço para discutir este problema e tentar resolvê-lo, dar um passo à frente em coletivo, com direito para todos! Mas, infelizmente vemos vereadores usando disso para jogos políticos”, destaca
Em relação a toda polêmica criada sobre o vídeo institucional, que teve participação, o artista acredita que tenha ocorrido por desinformação das pessoas em relação as discussões ligadas ao gênero. “Ideologia de gênero é um conceito que nem existe, usado por pessoas que não entendem de gênero, confundem com a sexualidade e orientação sexual. Criam como se fosse um bicho de sete cabeças. Isso é fruto da desinformação”, completa.
O representante do Partido Conservador de Juiz de Fora Alexandre Leonel, que também estava presente na Câmara, diz que era a favor da moção de repúdio. “Nós não devemos impor uma agenda, querer empurrar a ideologia de gênero, que é o que a Escola Sem Partido defende. Escutar a esquerda e a direita. Só não queremos a imposição, o respeito aos homossexuais é o mesmo”, diz.
Polêmica
A polêmica toda começou na segunda-feira, 16, logo depois o conselheiro tutelar Abraão Fernandes protocolar no Ministério Público Federal (MPF) um pedido de providencia sobre o vídeo da UFJF em que uma drag queen visita o Colégio de Aplicação João XXIII em uma ação em comemoração ao Dia das Crianças.
Segundo a denúncia, o vídeo desrespeita o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e o Plano Municipal de Educação, sancionado em março deste ano.
Notas
O Colégio de Aplicação João XXIII publicou no site oficial da instituição uma nota de esclarecimento aos alunos, pais e familiares para esclarecer o que se segue a respeito de atividade programada pela Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, postada em vídeo no site da UFJF. Leia a nota na íntegra.
Já a Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, responsável pelo programa gravado no Colégio de Aplicação João XXIII, diz em nota, mostrar-se surpresa com a proporção tomada. "A Administração Superior da Universidade manifesta o total apoio ao trabalho desenvolvido pelo apresentador Nino de Barros e ratifica a política voltada para uma educação cada vez mais inclusiva e de respeito à diversidade.
A UFJF tem compromisso com uma educação pública, democrática, de qualidade e inclusiva, tanto nos seus cursos na educação superior quanto na educação básica.
O Colégio de Aplicação João XXIII é uma Unidade Acadêmica da UFJF vinculada ao sistema federal de colégios de aplicação e possui, em seu projeto político-pedagógico, o objetivo de assegurar ao educando a formação indispensável ao exercício efetivo da autonomia com a estruturação de uma sociedade justa e democrática".
Manifestações
Devido a grande polêmica firmada em torno do assunto, algumas instituições representativas também se posicionaram contra a denúncia ao MP e à moção de repúdio:
O Movimento Gay de Minas e o PDT/Diversidade da cidade Juiz de Fora vêm a público aplaudir e apoiar a UFJF pelo vídeo institucional, apresentado pelo artista Nino de Barros. Entre outros temas, o artista debate com os alunos sua expectativa em relação à data e o que os estudantes levavam na merendeira.
"Entendemos que é função das universidades e escolas, sobretudo as escolas públicas, promoverem o desenvolvimento do pensamento crítico sobre as questões sociais, econômicas, de cidadania e direitos humanos entre seus alunos, acadêmicos e formandos.
O Brasil é campeão de assassinatos de pessoas em razão de sua orientação sexual e a discussão de igualdade de gênero é fundamental nos ambientes escolares, familiares e sociais. Nesse sentido, está de parabéns a UFJF por exercer, de forma competente, o seu papel de educadora e promotora do debate de temas atuais, históricos e fundamentais de nossa sociedade.
Lamentamos que pessoas usando de suas funções públicas se utilizem dessa posição para fomentar o ódio, a discórdia e um debate falacioso, populista e sensacionalista. Queremos um pais de cidadãos livres. Repudiamos toda forma de censura seja ela artística, social ou de direitos humanos".
As Comissões de Direitos Humanos e Cidadania da OAB/JF e de Defesa dos Direitos das Crianças, Adolescentes e Jovens da OAB/JF também prestaram apoio à Universidade, ao João XXIII e a Nino de Barros.
"Fomentar reflexão sobre gênero nas escolas é contribuir para a desconstrução da cultura do machismo, que produz das mais diversas violências contra as mulheres, desde a mais tenra idade; para o combate à LGBTfobia, que mata diariamente seres humanos no Brasil; é contribuir para o reconhecimento da diversidade e respeito aos direitos humanos. Trata-se de construir uma educação socialmente referenciada; de observar normas constitucionais: “art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CF/88)” . Leia a carta na íntegra.