UPAs desafogam em 30% atendimentos no HPS e no PAI Desde que UPAs de Santa Luzia e São Pedro foram criadas, atendimento em outras unidades têm diminuído. No entanto, o tempo de espera é maior
Repórter
10/9/2010
Mesmo com a falta constante de médicos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) em Juiz de Fora, a chegada das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) desafogaram o atendimento de dois dos principais pontos de concentração de reclamações por parte da população: o Hospital de Pronto Socorro (HPS) e o Pronto Atendimento Infantil (PAI). Desde janeiro, enquanto a quantidade de atendimentos nas UPAs cresce, nas outras unidades têm caído, o que representa melhorias para os usuários da rede.
A UPA de Santa Luzia foi inaugurada em 20 de janeiro e completou, em setembro, sete meses de funcionamento. A de São Pedro teve sua inauguração em 27 de maio e completou três meses agora este mês. A proposta das UPAs é oferecer atendimento de emergência, baixa e média complexidade, 24 horas por dia. Em relação às unidades semelhantes no município, desde quando as populações dessas duas regiões começaram a utilizar do serviço, a média de atendimentos no PAI e no HPS caiu de 20% a 30%, segundo afirmam os administradores (confira tabela abaixo).
De acordo com o diretor geral do HPS, Geraldo Dilly, após a criação das UPAs houve uma diminuição de cerca de 20% na quantidade de atendimentos clínicos prestados no hospital. "Na atenção primária, como a UPA já trabalha com o protocolo [de Manchester], ela devolve os pacientes para as Uaps [Unidades de Atenção Primária à Saúde]. Lá eles fazem o encaminhamento", explica. Dilly ressalta a recomposição do quadro de médicos. "Estamos com o quadro quase completo de médicos na rede clínica. Meses atrás tínhamos apenas um. Hoje, temos três ou quatro", define.
Para a diretora do PAI, Fernanda Cell de Miranda, o percentual de queda nos atendimentos chegou a 30% em julho, mas devido às faltas recorrentes de médicos, não se pode afirmar, com certeza, que a queda refere-se ao serviço das UPAs. "Nessas áreas de abrangência, a procura dos usuários têm sido menor. Entretanto, ficamos sem médico em junho e julho nos plantões de final de semana. Em abril, quando as regionais Leste e Norte ficaram sem médicos, a demanda de pediatria aumentou 43%", explica, para ilustrar a variação nos dados. Em dias de semana, o PAI faz cerca de 60 atendimentos diários e nos finais de semana, a média sobe para 130.
Para a usuária Márcia de Oliveira, que foi apenas uma vez na UPA de Santa Luzia, a primeira impressão permaneceu como positiva, já que estava acostumada a ser atendida no HPS. Ela afirma que pôde perceber que as principais diferenças entre os locais são o tempo de atendimento e o modo como foi tratada. "No HPS espero quatro horas e na UPA sou atendida entre 30 minutos e 1 hora. Lá fui bem recebida e o médico foi bastante atencioso. No HPS, eles não têm nenhuma atenção com os pacientes", afirma. No entanto, ela aponta uma desvantagem percebida na UPA: o atendimento de urgência. "Acredito que a UPA não está preparada para prestar atendimento de emergência, como o HPS."
Número de atendimentos | |||||
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Santa Luzia | São Pedro | HPS | |||
Mês | Atendimentos | Mês | Atendimentos | Mês | Atendimentos |
Janeiro | 1.711 | - | - | Janeiro | 4.070 |
Fevereiro | 4.519 | - | - | Fevereiro | 4.214 |
Março | 6.650 | - | - | Março | 3.405 |
Abril | 8.699 | - | - | Abril | 3.229 |
Maio | 9.032 | - | - | Maio | 3.786 |
Junho | 7.467 | Junho | 3.415 | Junho | 2.752 |
Julho | 7.327 | Julho | 3.990 | Julho | 2.835 |
Agosto | 7.582 | Agosto | 4.507 | Agosto | 3.176 |
Fonte: Secretaria de Saúde, HPS
Pelos dados apresentados pela Secretaria de Saúde (SS) e pelo HPS, é visível a variação da quantidade de atendimentos quando comparadas as três unidades da tabela. Nos meses de funcionamento da UPA de São Pedro e a de Santa Luzia, o percentual de atendimentos no HPS caiu 31%.
Dez horas esperando?
Ao contrário de Márcia, que aguardou cerca de 1 hora para ser atendida em Santa Luzia, a vendedora Maria Cristina Gomes não teve tanta sorte. Nas vezes em que precisou ser atendida na UPA, Maria Cristina elogiou bastante o atendimento prestado pelos médicos, mas repreendeu o tempo de espera. Segundo ela, estava sob suspeita de dengue e chegou ao pronto atendimento às 10h e foi atendida somente às 20h. Na segunda vez, o problema foi semelhante: ficou das 20h até 1h da madrugada do dia seguinte. "Mesmo com a fita vermelha, a pessoa espera bastante. Uma mulher até desmaiou. Uma amiga minha estava com prioridade e ficou lá mais tempo do que eu", desabafa.
Para o presidente do Conselho Regional de Saúde da região sanitária de Santa Luzia, Mauro Humberto Lote, essa demora no atendimento é comum e um dos motivos é a falta de conscientização da população acerca do funcionamento da UPA. "A Upa não substitui as Uaps e também não é hospital por não ter internação. Uns pensam que vão para ser consultados, outros para pegar remédio e há os que procuram internação."
Reclamações no atendimento
As reclamações acerca do tempo de demora na UPA de Santa Luzia e na de São Pedro são identificadas pela Ouvidoria Municipal de Saúde. Segundo estatísticas, desde janeiro, a UPA Sul (Santa Luzia) recebeu 25 reclamações, enquanto a Oeste (São Pedro), sete. Segundo a ouvidora Samantha Borchear, as reclamações com relação às UPAS estão relacionadas à demora no atendimento, principalmente quando ocorreu o surto de dengue (confira tabela).
Número de reclamações | |||||||
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Mês | Santa Luzia | São Pedro | HPS | PAI | |||
Janeiro | - | - | 8 | - | |||
Fevereiro | 2 | - | 21 | 1 | |||
Março | 5 | - | 4 | - | |||
Abril | 7 | - | 3 | - | |||
Maio | 3 | - | 5 | - | |||
Junho | 4 | - | 11 | 1 | |||
Julho | 3 | 7 | 10 | 2 | |||
Agosto | 1 | - | 5 | - |
Fonte: Ouvidoria Municipal de Saúde
Sobre o HPS, as queixas referem-se ao mau atendimento, demora na obtenção de transferência e demora na retirada de pinos (procedimento pós-cirúrgico ortopédico). Em relação à UPA de São Pedro, a unidade teve dias de atendimento sem o quadro médico completo, o que motivou as críticas pelos usuários.
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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