Infância, amor e idolatria
Infância, amor e idolatria
Pra começar, este pequeno ser quando ainda está no útero sente todas as sensações externas, não só as vindas da mãe, mas também as do meio ambiente. Quando a criança sai do útero se depara com luzes muito fortes, barulho de instrumentos cirúrgicos, equipe médica falando alto e muitas vezes lidando com este bebê de forma rápida e corriqueira. Agora, imagine se esse bebezinho pudesse falar? Imaginemos que alguns diriam - “Por que estão me batendo, eu vim porque quis” ou “por que não conversam comigo e ainda por cima me pegam como se eu fosse um saco de batata” ou “que coisa chata, o que estou fazendo aqui, eu não queria vir, me segurei tanto nas costelas de minha mãe e me puxaram assim mesmo, lá estava muito melhor, com menos barulho e menos claridade”.
E aí começam os excessos de estímulos, enfim vamos crescer – não tem outro jeito. Os estímulos não são apenas auditivos e visuais, mas principalmente os sensitivos. A criança lê o coração de quem os cria. Lê se é adotada ou não, se é rejeitada ou não e principalmente se é amada.
Pais amedrontados muitas vezes amam bastante, mas sentem muito medo porque ainda são filhos e não estão preparados para serem pais. Já outros estão com as regras de criação na ponta da língua, mas o despreparo os faz pecar pelo excesso.
Com recentes descobertas constatou-se que por volta dos 5 anos a criança já é dotada de sensibilidade moral, não sendo um ser meramente obediente. Essa moralidade não está concretizada e varia de acordo com a cultura.
É importante que os pais passem as regras e expliquem o porquê, mostrando a diferença de regra, dever e limite, como “não roubar”- mais por que não se deve roubar?
À medida que a criança vai se desenvolvendo é importante delimitar os papéis dentro da família, para que não ocorra uma inversão.
Devemos lembrar sempre que o amor é uma via de mão dupla e que a idolatria é uma via de mão única e muito perigosa. A criança que é idolatrada vai chegar à adolescência como um pequeno tirano. Já a criança criada com raras manifestações de amor chegará à adolescência frágil e insegura. Por isso, a grande importância do diálogo franco e aberto entre pais e filhos.
A proximidade emocional é a chave da educação, a base da segurança. Mas nunca enquanto educadores podemos esquecer que o exemplo é tudo. Podemos ser doutores ou pessoas não qualificadas, não importa. O importante mesmo é que as palavras tornam-se totalmente anuladas diante do exemplo. E nesta hora não há raça e nem credo que desfaça a incoerência. A cabeça da criança é muito mais potente do que podemos imaginar.
Os frutos virão – amor sim – idolatria não.
Ana Stuart
é psicóloga e terapeuta familiar