Infância, amor e idolatria

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Ana Staurt 4/11/2009

Infância, amor e idolatria

Lendo diversos artigos publicados em livros e revistas, pude parar para pensar no quanto a modernidade fala sobre a infância e no quanto ainda se tem para falar. Quanta coisa ainda não se descobriu.

Pra começar, este pequeno ser quando ainda está no útero sente todas as sensações externas, não só as vindas da mãe, mas também as do meio ambiente. Quando a criança sai do útero se depara com luzes muito fortes, barulho de instrumentos cirúrgicos, equipe médica falando alto e muitas vezes lidando com este bebê de forma rápida e corriqueira. Agora, imagine se esse bebezinho pudesse falar? Imaginemos que alguns diriam - “Por que estão me batendo, eu vim porque quis” ou “por que não conversam comigo e ainda por cima me pegam como se eu fosse um saco de batata” ou “que coisa chata, o que estou fazendo aqui, eu não queria vir, me segurei tanto nas costelas de minha mãe e me puxaram assim mesmo, lá estava muito melhor, com menos barulho e menos claridade”.

E aí começam os excessos de estímulos, enfim vamos crescer – não tem outro jeito. Os estímulos não são apenas auditivos e visuais, mas principalmente os sensitivos. A criança lê o coração de quem os cria. Lê se é adotada ou não, se é rejeitada ou não e principalmente se é amada.

Pais amedrontados muitas vezes amam bastante, mas sentem muito medo porque ainda são filhos e não estão preparados para serem pais. Já outros estão com as regras de criação na ponta da língua, mas o despreparo os faz pecar pelo excesso.

Com recentes descobertas constatou-se que por volta dos 5 anos a criança já é dotada de sensibilidade moral, não sendo um ser meramente obediente. Essa moralidade não está concretizada e varia de acordo com a cultura.

É importante que os pais passem as regras e expliquem o porquê, mostrando a diferença de regra, dever e limite, como “não roubar”- mais por que não se deve roubar?

À medida que a criança vai se desenvolvendo é importante delimitar os papéis dentro da família, para que não ocorra uma inversão.

Devemos lembrar sempre que o amor é uma via de mão dupla e que a idolatria é uma via de mão única e muito perigosa. A criança que é idolatrada vai chegar à adolescência como um pequeno tirano. Já a criança criada com raras manifestações de amor chegará à adolescência frágil e insegura. Por isso, a grande importância do diálogo franco e aberto entre pais e filhos.

A proximidade emocional é a chave da educação, a base da segurança. Mas nunca enquanto educadores podemos esquecer que o exemplo é tudo. Podemos ser doutores ou pessoas não qualificadas, não importa. O importante mesmo é que as palavras tornam-se totalmente anuladas diante do exemplo. E nesta hora não há raça e nem credo que desfaça a incoerência. A cabeça da criança é muito mais potente do que podemos imaginar.

Os frutos virão – amor sim – idolatria não.



Ana Stuart
é psicóloga e terapeuta familiar