O problema dos RPGs (ou seriam os RPGs eletr?nicos RPGs de fato?)
O problema dos RPGs (ou seriam os RPGs eletrônicos RPGs de fato?)
Uma das minhas paixões nerds e talvez uma das mais importantes na minha vida é o RPG. Jogo RPG desde que eu tinha, sei lá, 10 anos de idade. Posso afirmar com toda certeza do mundo que ele faz parte da minha vida. Sempre acompanhei novidades do meio, fossem os tradicionais de mesa ou os eletrônicos (os quais sou muito fã também).
Eis que ultimamente me acometeu um pensamento um tanto quanto estranho... Seriam os RPGs realmente RPGs?
Ok, vamos do básico. RPG é uma sigla inglesa para Role-Playing Game (numa tradução livre seria Jogo de Interpretação de Personagens). É um jogo que é normalmente jogado com papel, lápis, borracha e dados (alguns gostam de miniaturas também) em que os jogadores criam personagens fictícios e os interpreta. Existe uma INFINIDADE de cenários para RPG, fictícios ou reais, mas o mais famoso deles, sem dúvida, é o Medieval Fantástico. Inspirado em contos de Mitologias e livros como Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia, o estilo de jogo ficou famoso graças ao lendário Dungeons and Dragons, cujo objetivo era explorar masmorras, matar monstros e resgatar tesouros.
O mais legal do RPG não é só o cenário, que normalmente é super elaborado, como o nacional Tormenta (que aliás, já tem 16 anos de estrada) mas é que apesar do mundo seguir em frente, quem fornece as histórias e a evolução real de um mundo são os jogadores. Existem lendas de que grupos jogam campanhas (uma série mais longa de várias sessões de jogo) do Dungeons and Dragons clássico até hoje. E fazem com que seus personagens mudem conforme suas ações e feitos pelo mundo. Legal né?
Mas vemos algo diferente nos RPGs eletrônicos, em especial nos japoneses. Você guia o personagem por uma história, passa por alguns pontos que não pertencem a linha histórica de fato do jogo e pronto. Claro que temos o HP, o MP, o XP. Os brilhos, as spells e skills, mas... cadê a interpretação? Cadê a magia (com o perdão do trocadilho)? Cadê o feeling?
Vemos jogos como Skyrim, Fable, Dragon Age e (mal e mal) Mass Effect com seus ricos diálogos recheados de opções que resultam na mais variada gama de efeitos. Trate mal um personagem e ele te tratará mal. Faça maldades e será reconhecido por isso. Seja um herói e veja as pessoas da cidade te aplaudindo... mas ainda assim, a coisa vai para aquele ponto. Você não pode definir muito bem o histórico do seu personagem, nem a razão dele fazer aquilo. Você TEM que fazer ou não termina o jogo. Você é o Dovahkin, tem que caçar dragões. Você é um Grey Ward, tem que defender o mundo dos Darkspawn. E quem disse que eu quero ser só isso? "Ah, mas tem sidequests" é claro que tem. E você vai fazê-las. Mas você ainda VAI chegar à quest principal. O grande charme dos RPGs de mesa é justamente ver se essa "campanha", a "quest principal" é atraente para o seu personagem e caso não seja, não fazer. Simples assim.
Eu sei que a quest principal é uma história e deve ser seguida para que haja um final. O que estou tentando apontar nesse texto, no entanto, é a ironia de você ser capaz de montar um personagem tanto na sua mente, traçando seu psicológico a partir de escolhas feitas nos games supracitados, quanto no próprio jogo e ainda assim ter um final que envolve derrotar o mesmo vilão, sob circunstâncias diferentes, e pronto. Fim de jogo.
E aí que jogos como Terraria, Minecraft e Starbound brilham. Você é o que você quiser e fazer (quase) o que quiser, e podem rir de mim, mas eu normalmente faço diários de meus personagens, contando suas histórias e imaginando e me colocando em suas peles. Tenho trocentos desses por aqui. Esses jogos sim, merecem muito mais a alcunha de "RPG" do que muitos outros por aí.
"Ué, mas esses que você falou tem objetivos também, oras! Você enfrenta os chefes e etc". Se quiser. Esses objetivos, como os bosses de Terraria e Starbound e o Ender Dragon de Minecraft são apenas milestones – marcos – que o jogador pode alcançar e mais importante do que isso: São meramente opcionais. Assim como no RPG de mesa, você pode optar por eles ou não. Eventualmente você precisará enfrentar vilões da trama, mas no geral, quem decide é o jogador.
Não entendam errado, eu amo RPGs eletrônicos, mas acho que já passou da hora de termos mais RPG nos nossos RPGs.
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Leon Cleveland é formado em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. É fã de desenhos animados, mitologias, heavy metal, culinária, gastronomia, bacon e é completamente apaixonado por games. Tão apaixonado que sua Tese de Conclusão de Curso foi "O uso da Linguagem Cinematográfica nos Games". Já escreveu para várias publicações, analógicas e digitais, sobre o assunto e planeja se especializar na recente área de "Crítica de Videogames".