Fofos de Destruição em Massa
Fofos de Destruição em Massa
As batalhas são simples: monstro(s) contra monstro(s), cada um tem sua vez. Os mestres escolhem a técnica que o Pokémon vai usar e pronto. Os poké (sem o "s" no plural. É estranho...) contam com um arsenal bem completo de técnicas, contando com Sopro de Chamas, Nevascas, Tempestades Elétricas, raios ao estilo Kamehameha, chifradas, bicadas, cortes, arremessos de pedra, terremotos, gases tóxicos, envenenamento e auto-destruição (!!!). Seu monstrinho foi derrotado? Relaxe! Só leva-lo ao Centro Pokémon e eles estarão novinhos em folha. Essa premissa simples, aliada de um excelente design de monstrinhos torna o jogo realmente cativante para todas as idades, em especial a galera mais nova, que parece ser o "público-alvo" da franquia.
Mas existe algo que não percebemos enquanto jogamos (ou que talvez a Nintendo não queira isso seja percebido) e é meio subjetiva para um game que tem como conceito principal a batalha.
Eu tô falando de violência.
Mas calma, calma. Não há necessidade de começar um motim. Esse não será um texto exatamente a respeito da violência e que games violentos deveriam ser banidos, não. Esse texto tem com objetivo salientar algo que passa tão despercebido pela gente, que quando nos atinamos nela, ficamos até aturdidos. Mas o que isso tem a ver? Tudo. E vou mostrar para você como Pokémon é (ou deveria ser) violento na realidade.
Peguemos como exemplo o Rhydon, que é um Rinoceronte com a pele dura como pedra (capaz de resistir até 2000 graus centígrados de temperatura), mede 1,90m em média e tem um chifre que funciona exatamente como uma broca. Sua descrição na Pokédex diz que ele é capaz de triturar diamantes. Agora, imagine que um Eevee, que parece uma mistura de esquilo e chihuahua, enfrentando o grandalhão. Ele inutilmente ataca com mordidas, arranhões e cabeçadas. O Rhydon então usa seu chifre-furadeira e vence o Eevee. E então, a mensagem "Eevee desmaiou!" brotaria na tela do seu portátil, mas na realidade... confesso que tenho pena – e nojo – de imaginar a cena de um bichinho fofo como um eevee sendo massacrado, retorcido e reduzido a uma pilha asquerosa de sangue, carne e ossos Eu poderia continuar com os exemplos: Voltorbs e Electrodes se explodem, Arboks cospem toxinas, Charizards cospem chamas explosivas, Raichus descarregam mais de 10 mil volts de eletricidade (o suficiente para fritar sua pele e músculos), Golems causam terremotos e avalanches de pedra, Alakazans que controlam a mente e usam rajadas psíquicas (pense em algo como uma forte dor de cabeça que acomete na hora) e Gengars que amaldiçoam e COMEM os sonhos de suas vítimas depois de hipontizá-las. Uma loucura.
"Ué? Mas e toda essa violência? A Nintendo simplesmente desaparece com ela?"
Todo o gore, morte e violência envolvida nos golpes de Pokémon ficam apenas na mente das pessoas, aberta a interpretação. Isso é suprimido de uma forma sutil – até mesmo inocente – dos jogos. Talvez, como citado antes, em parte pelo "público-alvo" da franquia, mas definitivamente por causa de marketing.
Não só um game: Pokémon é uma franquia antiga (vinte e poucos anos) e que rende bilhões anuais à Nintendo com toda uma sorte de colecionáveis e um desenho animado que é quase tão antigo quantos os games. Outra razão, essa talvez ainda mais óbvia – porém inerente à questão do marketing e da marca, é a postura da Nintendo em relação ao seus produtos de entretenimento: Sempre orientados para a família, como um todo. De fato, Pokémon possui níveis de imersão e dificuldade para qualquer um, do menos ao mais aficionado. O assunto mais polêmico em Pokémon fica com a Morte em si: ela é pouco (ou quase nunca) diretamente citada nos games, mas elas existem, sejam naturais ou não. Afinal, além do cemitério visto na cidade de Lavender, de onde você acha que os Pokémon do tipo fantasma vêm?
Mas não podemos esquecer de uma coisa: não importa quantos monstrinhos fofinhos e legaizinhos aparecerem, no final das contas – como fica bem explícito no neologismo que compõe seu nome – ainda são Monstros de Bolso. Talvez as únicas coisas bonitinhas sejam a Chansey e seus ovinhos que curam e o Togepi
Leon Cleveland é formado em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. É fã de desenhos animados, mitologias, heavy metal, culinária, gastronomia, bacon e é completamente apaixonado por games. Tão apaixonado que sua Tese de Conclusão de Curso foi "O uso da Linguagem Cinematográfica nos Games". Já escreveu para várias publicações, analógicas e digitais, sobre o assunto e planeja se especializar na recente área de "Crítica de Videogames".