Funk rock

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Funk rock
Juliano Nery 20/4/2013

Funk rock

Ah, as quermesses de cidades pequenas!... Os meses mais frios do ano sabem contar quanta festa acontece por todo estado. De exposição de gado leiteiro e rodeio até agradecimento pela próspera colheita de algum fruto ou leguminosa, sem esquecer o sem número de padroeiros... Santas farras ou farras santas? – Cada uma carrega as dores e as delícias do sagrado e do profano. Quanto a mim, mineiro à flor da pele, sempre fui afeito a participar, seja o que estiver acontecendo. Principalmente, se estiver acontecendo algum show musical de arena... Afeito a um bom rock and roll, não me acanho em dizer que já fui em apresentações musicais dos mais variados estilos, como o sertanejo, o pagode, o forró e qualquer outro som que estiver em voga e que se aventurem nas exposições do inverno mineiro.

E no ano passado estive em Mar de Espanha, município que se tem algo de litoral, ficou apenas no nome, para atender ao gentil convite do amigo, Enrico Loures, para assistir ao espetáculo do Detonautas Roque Clube, aberto para toda a população, gratuitamente, no parque de exposições. Vale menção o fato de que, na noite anterior, a cidade pôde curtir a apresentação dos irreverentes pagodeiros do Grupo Molejo, comprovando o ecletismo que impera nessas festividades, que segue também em relação ao público participante. Todos participam, ainda mais quando é de graça. E não se importam com o estilo musical que sai lá das caixas de som. O importante é aproveitar, já que outra festa desse porte, somente no ano seguinte...

Foi por ocasião do show da banda carioca de rock, que rolou algo bem interessante e inusitado. Fazia algum tempo que eu havia flagrado um grupo de jovens, composto por uns dez rapazes, com seus bonés, topetes e adereços, que poderiam rivalizar com os do atacante Neymar, dançando com passos irreverentes, ao som mecânico do DJ. Foi quando tocou um funk, que percebi a que estilo àqueles passos pertencia: para um cara que, como eu, não sabe dançar, ver dez caras, dançando de forma sincronizada, era interessante. Quando o DJ mudou para um eletrônico, eles continuaram na mesma. O que se repetiu em outros estilos mais dançantes.

Somente o silêncio ante a entrada da banda os fez parar. Quando a banda começou a despejar pesados riffs de guitarra e o vocalista todo tatuado insuflou a galera a pular, os rapazes olharam um para o outro, como que se perguntando o que fazer. Estariam intimidados? – A resposta veio logo a seguir, quando o primeiro puxou a dança. É, aquela mesma dança que fizeram no funk, na música eletrônica... E que aposto que fizeram na noite anterior, lá no show do Molejo. É bem provável que seja o mesmo espírito que me faz frequentar as quermesses do inverno mineiro. Não há barreiras sonoras que impeçam o funkeiro, o roqueiro, a dona de casa ou quem quer que seja de participar das santas farras ou das farras santas, que temos por aqui.

Juliano Nery acredita que Minas Gerais é mais que um Estado. É um estado de espírito. Mar de Espanha pode ser encontrada na latitude 21° 52' 01" S e longitude 43° 00' 36" O.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.


* Ilustração: Lucí Sallum