Fique por dentro
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Ricardo Corr?a
Rep?rter
24/03/2006
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Isso deixa claro que, at? ter?a-feira, alguns candidatos v?o esperar, com tens?o e expectativa, a sa?da da listinha que pode mudar suas
vidas. E esse ano vem com um ingrediente a mais. A UFJF n?o divulgou a ordem
dos excedentes por nome, ent?o a expectativa pela presen?a ou n?o dos nomes
na lista ? ainda maior. Quem conhece muito bem essa ansiedade ? a estudante do curso de Letras,
Tatiane Abrantes da Silva (foto acima). Isso porque n?o foi uma, mas duas vezes
que ela ficou como excedente. Viveu as duas situa?es. A frustra??o de n?o
conseguir entrar por muito pouco, e a felicidade de ter uma segunda chance,
que est? aproveitando at? hoje. Mas demorou meses at? que isso acontecesse.
E n?o foi f?cil.
Muitas coincid?ncias
No vestibular de 2002, a chegada na segunda fase foi tranq?ila. Na hora do resultado final, no entanto, n?o faltaram dois pontos. N?o faltou sequer um ponto. Mas faltaram 4 d?cimos. Diferen?a pequena, mas suficiente para que ficasse apenas como quinta excedente. O tempo passou, alguns candidatos desistiram, mas parecia que n?o era ainda a vez de Tatiane. Chamaram os quatro primeiros excedentes. E ela sobrou, na ponta da fila, para fazer vestibular de novo. Tatiane lembra do pior: fez vestibular para o curso diurno. E se tivesse tentado o noturno passaria.
Em 2003 Tatiane resolveu mudar a t?tica. Ao inv?s do diurno, tentou vestibular para o noturno. E n?o ? que, assim como Tatiane, as notas tamb?m mudaram?! Mais uma vez ela n?o passou e amargou saber que, se tivesse tentando o diurno, como no ano anterior, teria passado.
Excedente de novo |
"Eu minha m?e resolvemos fazer matr?cula para come?ar no primeiro semestre. Na UFJF era para o segundo semestre. Resolvi esperar mais um pouco. Fiz a matr?cula, mas tranquei porque era uma pessoa s? que precisava desistir. Nem podia, mas conversei, expliquei a hist?ria", contou a estudante que aguardava a reclassifica??o que seria divulgada no meio do ano. Foi um dos momentos mais marcantes, que Tatiane se lembra como se fosse hoje.
"No segundo semestre saiu uma reclassifica??o. Muita gente desistiu. Mas eu fui olhar a lista e passava direto de hist?ria para matem?tica. Eu pensei que estava errado. Fui olhar de novo. Ia olhando, olhando e n?o tinha ningu?m. N?o tinha Letras. Chorava uma quantidade, mas n?o teve jeito", conta a estudante que s? a? resolveu passar a freq?entar as aulas na faculdade particular, j? sem acreditar que a vaga da UFJF poderia surgir.
Como ela mesmo diz, "deixou quieto" aquele assunto e passou a se dedicar ? sua nova faculdade. Isso era em agosto, mas logo em seguida a UFJF entrou em greve. E durante a greve, as coisas mudaram. Um estudante de Letras passou em um concurso p?blico e deixou a faculdade. A vaga estava aberta. Depois de tanto sofrimento, Tatiane n?o acreditou de cara.
"Cheguei e disseram que era l? mesmo. Que j? era para fazer a matr?cula
porque tinha que come?ar no outro dia j?. E foi at? estranho porque me
disseram que um outro cara j? tinha ido l? antes e que a vaga era dele. Na
verdade era meu namorado que foi l? para saber antes. Foi uma confus?o",
diverte-se hoje.
Vaga conseguida, Tatiane n?o se esqueceu do motivo. Deu um jeito de arranjar
o telefone de Andr?, o aluno que tinha desistido do curso por causa da
aprova??o no concurso p?blico, abrindo assim a vaga para ela.
"Liguei para ele, agradeci, desejei sucesso onde ele estava. Ele disse que
passou em um concurso e eu disse quase chorando que tinha sido eu que entrei
no lugar dele", conta Tatiane, que hoje est? no terceiro per?odo e n?o se
arrepende da escolha pelo curso de Letras. "Isso s? me fez gostar mais, Dar mais valor. Quando cheguei na faculdade,
estava todo mundo j? meio inteirado. J? tinha tido choppada, calourada. S?
conhecia uma pessoa que estudou comigo h? muito tempo atr?s.Cheguei a
trancar matr?cula de algumas disciplinas. Eu tinha prova de latim no dia
seguinte. E nunca tinha feito latim na minha vida. Tranquei. Estou devendo
latim at? hoje", diz ela que v? at? um lado bom nisso tudo.
"At? pensei fazer psicologia, mas acredito que se tivesse passado n?o teria
aproveitado tanto quanto agora. Nao tinha muita no??o. Os meus pais n?o
t?m terceiro grau. Ent?o n?o tinha base pra saber o que era uma faculdade.
Depois ? que eu comecei a entender porque eu deveria fazer e vi que
psicologia n?o era uma boa pra mim. E Letras ? um curso muito interessante",
conta a estudante, que at? planejava fazer vestibular novamente, caso n?o
fosse chamada. Mas sem fazer cursinho, e sem que as pessoas soubessem. N?o
foi necess?rio.
Conto de fadas
L?cia fez vestibular para administra??o em uma faculade particular de Juiz de Fora. Na ?poca, n?o existiam tantas, e por isso era bem mais dif?cil conseguir entrar. Anunciado o resultado, L?cia n?o tinha sido aprovada. Ficou como d?cima excedente, mas acabou conseguindo entrar, cerca de um m?s depois, porque outros aprovados passaram na UFJF e desistiram da matr?cula. At? l?, L?cia esperou confiante.
"Eu fiquei na esperan?a porque em Juiz de Fora ? dif?cil as pessoas prestarem um ?nico vestibular. N?o s? aqui, mas em outras faculdades da regi?o. Ent?o eu fiquei torcendo para que algumas dessas pessoas passassem e a? eu teria a chance. Eu n?o estava desejando mal para ningu?m. Estava desejando bem. E queria muito", lembra ela, que foi vendo, aos poucos, os excedentes entrando e suas chances aumentando.
"O pior de tudo foram os ?ltimos quatro. Eu rezava ligava para l? todo dia, at? que me disseram que s? tinham mais quatro na minha frente. Mas faltavam s? 15 dias para come?ar as aulas e eu ficava pensando: 'imagina se eu n?o consigo'. At? que consegui. E depois de mim s? entraram mais dois", conta L?cia Fortini.
Tanta demora e tens?o at? chegar o resultado fizeram com que L?cia desse ainda mais valor ? conquista. Na verdade ela n?o sabe medir isso, por dizer que n?o fez outro vestibular para saber. Mas a felicidade, n?o s? com o an?ncio da aprova??o, mas com o in?cio das aulas, ? mais do que uma prova de quanto ela esperou esse momento.
"No meu primeiro dia, parece que foi ontem. Eu olhava aquele pr?dio branco e n?o acreditava. Ningu?m da minha fam?lia nunca tinha ido para a faculdade. A fam?lia veio da ro?a, tinha muitos primos, muitos parentes, mas aquilo era algo novo para a fam?lia. Para a maioria das pessoas ? comum, mas para mim foi t?o dif?cil entrar, pagar cursinho e tudo, que foi emocionante", explica a administradora, que faz a compara??o com um conto de fadas para dizer, docemente, como se sentiu. "Eu me sentia a Cinderela no Baile".