O psiquismo e a moda

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O psiquismo e a moda

30/10/2001

O comportamento de ir ?s compras na tentativa de aliviar sentimentos de tens?o, tristeza, ang?stia, enfim sentimentos ruins e desconfort?veis ? muito comum. Tal assunto foi abordado com maior ?nfase no artigo do m?s de abril que se entitulava "Consumismo: Ter para Ser, ou Ser para Ter??. Nesse contexto, ent?o, cabe agora uma reflex?o sobre a quest?o da moda, principalmente no que tange ao vestu?rio e suas implica?es.

Todo fim de esta??o e in?cio da seguinte os desfiles de moda surgem ditando o que ser? ?fashion? naquela determinada ?poca do ano. Fazendo uma coloca??o um tanto sat?rica da mudan?a de gosto, pode-se dizer que o que era bonito ontem torna-se feio hoje e inadmiss?vel amanh?. Quem incorrer no erro de vestir-se absolutamente fora da moda, dependendo do tipo de personalidade dessa pessoa, experimentar? um sentimento de exclus?o, de estar de fora.

O que levaria algu?m a sentir-se t?o infeliz, t?o incomodado diante da impossibilidade de possuir algo que est? na moda e imediatamente, quando consegue obter, t?o satisfeito e realizado com a nova aquisi??o?

Um fator consider?vel estaria relacionado ao poder de compra, poder financeiro. O indiv?duo investe-se de poder a partir do momento em que se percebe em sintonia com o que ? atual. Ou ainda faz uma associa??o entre o sucesso e a apar?ncia e imagina que s? ? bem sucedido na vida quem se veste bem. Nesse caso encontrar-se na moda parece tornar-se uma obriga??o.

Tamb?m ? pass?vel de reflex?o fatores que est?o associados ? identidade e ?s identifica?es. Segundo o dicion?rio Aur?lio, identidade ? a qualidade de id?ntico e, de acordo com a etimologia, identificar ? o mesmo que ?ficar idem?. Dessa maneira pode-se pensar sobre a prov?vel necessidade que algumas pessoas t?m de parecer iguais ?s outras.

Pertencer a um grupo, estar igual a seus integrantes pode parecer algo bem confort?vel a partir do momento em que se percebe que o ser humano n?o gosta de se sentir s?. Deparar-se com o desamparo, enquanto criaturas t?o fr?geis e dependentes, vai exatamente de encontro com o sentimento de onipot?ncia infantil dos homens.

Dentro dessa vis?o ? interessante ressaltar que o homem ? o ?nico animal que necessita de cuidado quase que integral durante um grande per?odo de tempo no in?cio da vida. Estar em grupo, sentir-se parte integrante dele, ser aceito por seus componentes pode amenizar essa sensa??o. A forma de vestir aparece como facilitadora dessa integra??o e base para a identifica??o dos iguais que est?o em busca de uma identidade.

De acordo com David E. Zimerman, autor que dissertou muito bem sobre identifica?es, ?com a acelerada mudan?a dos valores ?ticos, morais e ideol?gicos que regem o modo e a finalidade de viver, e inseridos num mundo que, cada vez mais, exige uma velocidade crescente para uma exitosa adapta??o aos padr?es vigentes, os indiv?duos sentem-se algo ansiosos, confusos e perdidos quanto ? sua identidade, isto ?, quem eles s?o, como devem ser, para o que e para quem eles vivem?.

Talvez, vestir-se com uniformidade e a preocupa??o com a tend?ncia ?fashion? seja uma op??o r?pida, mas pouco eficaz, de amenizar os conflitos.

O artigo de Denise Melo foi lido pela equipe de produ??o da r?dio juizforana Solar AM e tornou-se pauta do programa Chamada Geral, que vai ao ar de segunda a sexta-feira pelo frequ?ncia 1010. Clique aqui para ouvir a entrevista concedida pela psic?loga no dia 5 de novembro.


Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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Sobre quais temas (da ?rea de psicologia) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A psic?loga Denise Melo aguarda suas sugest?es no e-mail psique@jfservice.com.br.