Os cinco sentidos
Artigo
|
::: 30/06/2007
Trabalhando com depend?ncias, a primeira coisa que pergunto, quando pais aflitos me procuram, ? quais s?o os sintomas que os filhos v?m apresentando diante do computador, antes mesmo de saber a causa da queixa inicial.
Normalmente, os sintomas s?o os seguintes: desinteresse escolar, troca do dia pela noite, comportamento anti-social, fissura diante da telinha, tique- taque incessante do teclado, dist?rbio alimentar, tonteira, cefal?ia, aumento da agressividade - principalmente quando lhe ? tirado o computador -, que considero crise de abstin?ncia id?ntica a das drogas, pressa de ir ao banheiro - quando vai! E quando se lembra de acionar a descarga, a reten??o de urina ? comum nesses casos, problemas de vista, na coluna, mentiras, manipula?es, etc. N?o resta d?vidas este (a) jovem est? transferindo suas car?ncias e dificuldades para o computador.
Ouvindo os pais, podemos perceber que diante das dificuldades atuais saber que o filho chegou da escola e foi para o computador ao inv?s de ir para a rua ? mais tranq?ilo e passa mais seguran?a; sempre escuto: "Pelo menos sei onde ele est?". S? n?o sabe com quem...
Outra vantagem ? que estes jovens obrigam os pais a entenderem de computador para saber onde est?o acessando e com quem est?o falando. E tamb?m para entenderem o porqu? de tanta fissura diante de uma m?quina.
Normalmente sabe o que acontece? Estes pais tornam-se concorrentes dos filhos na utiliza??o dessa fascinante m?quina. A partir da?, as brigas ser?o para escalas de hor?rio no computador, ou seja, ao inv?s de tirar seus filhos, eles entram tamb?m neste fascinante e sedutor universo.
S?o ineg?veis as vantagens da utiliza??o como tamb?m s?o ineg?veis as desvantagens, e a? fico me perguntando: ? uma fuga t?o prazerosa a ponto de liberar serotonina, endorfina e adrenalina no organismo?
Comecei a conversar bastante com adolescentes e pr?-adolescentes e percebi que ? mais do que isso. Este apego deles pelo computador vai muito mais al?m, no ?mbito psicol?gico, do que podemos imaginar.
Atualmente os pais ficam fora o dia todo para trabalhar e quem os acolhe, lhes faz companhia e lhes supre a solid?o ? o computador .
Outro motivo tamb?m bastante forte ? a fobia social, caracter?stica dessa fase, principalmente para lidar com sexo oposto - onde entra tamb?m o computador como facilitador.
Outro fator ? poder falar com a turma sem maiores gastos ao telefone.
Matar a curiosidade de saber o que se passa com as pessoas atrav?s do "orkut" on line para que seja notado e off line para que ningu?m perceba. E por a? rela?es come?am e terminam com a participa??o global ou n?o. ? dram?tico! Aprende-se a jogar em todos os sentidos, aten??o e concentra??o ficam bastante agu?ados.
A auto-estima se eleva quando o mundo inteiro fica sabendo que ele (a) manda bem nos jogos. Trabalhos de pesquisa com boa apresenta??o tornam-se f?ceis e r?pidos, al?m do fato das reuni?es de grupos serem por confer?ncia.
Por que conversar com a ajudante da casa, na aus?ncia dos pais, quando se pode conversar com o mundo inteiro? E tamb?m quando a solid?o pesa?
Alertando aos pais que evitam que os filhos criem anticorpos da rua, alegando perigos infind?veis, deixando-os em casa e de prefer?ncia trazendo os amigos para perto - ou seja - estimulando ainda mais o uso do computador.
Enfim, quando o abuso no uso do computador torna-se uma depend?ncia que atua como um depressor ou estimulante perturbador, ? chegada a hora da reabilita??o.
Reabilita??o esta que enfoca novos h?bitos de vida, como atividades laborais e recreacionais, ou seja, reabilita??o f?sica, psicol?gica e social . ? preciso muita energia diante dos sintomas de abstin?ncia, que variam da apatia ? agressividade intensa e uma verifica??o m?dica para se detectar doen?as secund?rias antes n?o percebidas, como depress?o, etc.
Exigir? muito dos pais ou respons?veis e estes, se sentirem muita dificuldade, dever?o buscar ajuda, at? mesmo para verificar por que era c?modo deixar chegar neste ponto.
Caso queiram iniciar o processo de resgate com maior tranq?ilidade e paci?ncia, sentem-se do lado deste (a) jovem em sil?ncio e tentem entrar no mundo dele devagar e com muito respeito e carinho. Sem cobran?as - esta ? a forma de traz?-lo de volta.
Veja bem, entrar interagindo e n?o cobrando com desconfian?a.
Este jovem j? est? s? demais para ter que ainda justificar em cima de maldades condenat?rias, sendo que foi empurrado para o computador de forma consciente ou inconsciente pelos pr?prios respons?veis.
Fique alerta e n?o se assuste se descobrir que a causa de tudo isso ? a sua aus?ncia.
Ana Stuart
? psic?loga e terapeuta familiar
Sobre quais temas (da ?rea de psicologia) voc? quer ler novos artigos nesta se??o? A psic?loga Ana Stuart aguarda suas sugest?es no e-mail viver_psique@acessa.com.