Guerra contra a nicotina

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Guerra contra a nicotina
Conhe?a hist?rias de quem venceu o v?cio
e hoje tem uma vida saud?vel


Ana Let?cia Sales
04/09/02

Campanhas publicit?rias, leis e muita conscientiza??o. ? assim que a grande luta contra o cigarro est? ganhando cada vez mais adeptos. M?dia, ?rg?os de sa?de e o pr?prio governo nos mostram, quase diariamente, os males que esse h?bito causa, n?o s? aos fumantes, como a quem convive com eles.

O cigarro deixou h? muito de significar charme ou status e se tornou um grande vil?o que causa doen?as, muitas vezes fatais. Em Juiz de Fora os n?meros s?o assustadores: uma pessoa morre e tr?s s?o internadas todos os dias devido a doen?as provocadas pelo cigarro. No dia 29 de agosto, Dia Mundial de Combate ao Fumo, v?rias campanhas foram lan?adas e muitos n?meros apresentados. Mas como um fumante consegue se livrar do cigarro para sempre? Acompanhe depoimentos de pessoas que passaram uma parte da vida fumando, decidiram se libertar do v?cio e foram vitoriosos.

Choque salvador
Uma destas pessoas corajosas ? o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Vitor I?rio, de 52 anos (na foto ao lado, com a esposa e as duas filhas). Ele conta que come?ou a fumar aos 15 anos quando trabalhava na reda??o de jornal. J? no primeiro dia ele chegou ao servi?o com um cigarro na m?o, como fazia a maioria das pessoas naquele local. Vitor passou 13 anos fumando cerca de dois ma?os por dia. "Havia tentado parar de fumar algumas vezes, mas sempre acabava tendo reca?das e come?ava tudo de novo", explica.

Vitor tinha um tio, Rafael Iorio, que era diretor de um hospial oncol?gico, no Rio de Janeiro. "Certo dia meu tio me chamou para assistir a um v?deo chamado 'Os efeitos do cigarro e o c?ncer de pulm?o' e eu fui assistir sem muita motiva??o", conta. A fita mostrava os efeitos da fuma?a do cigarro desde a tragada, passando pela traqu?ia, at? chegar ao pulm?o. "O v?deo tinha imagens de um pulm?o com c?ncer que eram aterradoras. Eu sa? de l? arrasado, foi um choque tremendo", diz. Ele conta que ao sair do pr?dio do hospital entregou seu ma?o ao porteiro e nunca mais voltou a colocar um cigarro na boca.

O primeiro m?s sem cigarro foi um tormento para Vitor. A irrita??o era constante e chegou a engordar alguns quilos. Ele passou a tomar calmantes e a seguir algumas dicas preciosas. "Meu tio havia me dado uma cartilha com conselhos para quem quer parar de fumar". A primeira mandava trocar o pijama e a roupa de cama todos os dias durante uma semana. "Eu fiquei impressionado com a cor amarelada com que meu pijama e o len?ol ficavam. Era como se meu corpo estivesse se livrando de toda a nicotina atrav?s do suor", afirma. Outra sugest?o era deixar de lado o caf?, os doces e as bebidas alco?licas (principalmente a cerveja) por pelo menos tr?s meses. Al?m disso, Vitor tomava um copo de ?gua pela manh? e ? noite antes de deitar.

J? s?o 23 anos sem colocar um cigarro sequer na boca. "Eu peguei avers?o at? a fuma?a de cigarro. No local onde estou eu n?o aceito fumantes por perto", diz. Ele explica que as dicas foram muito importantes para ele conseguir se livrar da crise de abstin?ncia que causava grande mal-estar. "Mas a decis?o de parar s? aconteceu porque eu tive um choque com o v?deo. E ? isso que eu recomendo para quem quer deixar o v?cio: levar um grande susto e come?ar, realmente, a temer o fumo".

A for?a no momento dif?cil
A webdesigner, Elza Vandanezi Brasil (foto ? direita), de 45 anos, ? outro exemplo de for?a de vontade. Ela fumou durante 28 anos cerca de um ma?o por dia. "Comecei aos 15 anos como todas as pessoas come?am. Pensava que apenas dando uns tragos jamais iria viciar. Tamb?m achava charmosiss?mo", conta. Ela explica que ao contr?rio da campanha contra o cigarro de hoje, na ?poca todas as pessoas de destaque (atores e m?sicos) fumavam. "Diferente do que acontece atualmente havia muito est?mulo", diz.

"Tentei parar v?rias vezes e era dific?limo! As tentativas foram frustradas, mas eu sempre insistia, o que para mim era um bom sinal", conta. Ela acha que os fumantes que nem sequer pensam na possibilidade de parar s?o pessoas com total falta de amor pr?prio. "Al?m disso, dependendo da idade do fumante, ele pode enfrentar o risco de doen?as irrevers?veis", alerta.

H? dois anos, o marido de Elza teve um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou 11 dias em coma. "Neste tempo eu consumi toda minha energia e fumava de dois a tr?s ma?os por dia. Resolvi que no dia que ele sa?sse do CTI, eu pararia de fumar, e assim foi", revela. "Como eu poderia cuidar de algu?m se eu tamb?m ficasse doente? E o que teria acontecido comigo? No final a combina??o do cigarro com o estresse mais a depress?o seriam a receita para doen?as e at? para um infarto", explica. Elza afirma que n?o fez nenhuma promessa, mas ela teve a certeza da ajuda de Deus. "Eu pude ver claramente que n?o s? a minha vida dependia desse ato como a de meu marido tamb?m", revela.

Ela parou dentro do hospital. "N?o lembrei que existia cigarro e n?o passei mal algum sem ele. Ao contr?rio, a cada dia me sentia menos intoxicada. A conclus?o que cheguei foi de que o h?bito ? maior que o v?cio", diz. Ela relembra que durante um bom tempo abria a gaveta pensando em pegar um cigarro, e s? depois se dava conta de que n?o fumava mais. "?s vezes, quando algu?m fumava perto de mim, eu quase pegava o cigarro pra dar um trago, mas logo a vontade passava", afirma. Ela lembra que n?o existe glamour algum em fumar, esqueceu o prazer que ele lhe dava e s? pensava nos in?meros males que a nicotina causa. "Hoje tenho nojo do cheiro do cigarro! Foi uma fase que passou", revela.

Os males ajudam na decis?o
Luciana Arcuri (foto ? esquerda) tem 42 anos e por 25 fumou um ma?o ao dia. "Sempre falei que gostava de fumar e que n?o queria parar, at? que o cigarro come?ou a me fazer mal", conta. O fumo provocava tosse pela manh?, al?m de sentir que quase n?o tinha mais f?lego. O paladar e o olfato tamb?m estavam desaparecendo.

"Um dia eu acordei e resolvi n?o fumar o primeiro do dia, passou a manh? e eu n?o fumei, a tarde e tamb?m n?o peguei no cigarro. E estou at? hoje, h? exatamente dois anos e dois meses, sem fumar", conta. Luciana afirma que nunca havia tentado parar antes e que o in?cio foi dif?cil. "Principalmente quando algu?m acendia um cigarro do meu lado. Com o tempo essa vontade foi passando. Mas at? hoje, quando vou tomar minha cervejinha no final de semana, a vontade volta. ? uma vontade diferente da que eu sentia no in?cio. Agora a intensidade ? muito menor. Mas o desejo ainda bate...", diz.

Luciana acredita que se a pessoa tomar a decis?o de parar por ela mesma, sem sofrer nenhum tipo de press?o, a crise de abstin?ncia pode ser menor. "N?o acredito em f?rmulas m?gicas para parar de fumar. S? depende da pessoa querer e ter muita for?a de vontade. Quando a pessoa sente o desejo de fumar, o melhor ? se ocupar com alguma coisa. E nunca substituir por comida, para n?o engordar muito" adverte. Logo que parou, Luciana conta que come?ou a comer demais, pois ficava muito ansiosa. "Tive que me controlar, engordei tr?s quilos e at? hoje n?o voltei ao me peso ideal. Mas depois de mais ou menos oito meses a ansiedade foi melhorando at? passar", afirma.