No mais tradicional estilo gaúcho
O gaúcho Adão Quadros vive há 45 anos em Santa Catarina, nem por isso abandonou hábitos como o do chimarrão e da bombacha
O gaúcho Adão Quadros vive há 45 anos em Santa Catarina, nem por isso abandonou hábitos como o do chimarrão e da bombacha
Um legítimo gaúcho. Não apenas de sangue, mas um grande observador das tradições campeiras. Veste bombachas todos os dias, toma chimarrão e é um grande conhecedor de cavalos. Adão Quadros é natural de Lagoa Vermelha, a capital sul-riograndense do churrasco, e vive em Gaspar, no bairro Margem Esquerda há 18 anos. O gauchão é dono de uma vasta cabeleira branca, sinal da experiência que acumulou ao longo de seus 76 anos. De seus olhos azuis e sua voz carregada de sotaque gaúcho emanam tranqüilidade e boas histórias.
Adão e a esposa Jovita, também gaúcha, escolheram Santa Catarina, há 45 anos, acreditando que o estado fosse o melhor para criar os cinco filhos. Eles não se arrependem, adoram a terra catarinense que adotaram, primeiro vivendo no alto Vale, em Lontras, depois descendo para Gaspar. "Essa terra é ótima, o povo muito acolhedor. Mas não escondo que sinto saudades dos costumes de minha terra", confessa Adão. Ele admite que não volta por conta da família. Os cinco filhos e os dez netos moram em Gaspar.
No Rio Grande do Sul Adão ganhava a vida com as lavouras de trigo e foi justamente uma crise na agricultura que o levou a abandonar o rincão gaúcho. Chegando a Santa Catarina, Adão passou a comercializar cavalos. "Era um tropeiro moderno", conta Adão, moderno porque as tropas vinham para o estado em caminhões e não mais tocadas pelas estradas como antigamente. "Cavalos são minha especialidade e paixão, é provavelmente o assunto que mais conheço". Ele já domou muitos potros e hoje em sua propriedade, na rua Pedro Simon, mantém alguns cavalos para montaria. Ninguém mais estranha ao vê-lo passeando pelas ruas do bairro montando num cavalo crioulo selado no mais puro estilo gaúcho.
Tradicionalista de corpo e alma, ele e os filhos participaram de muitos rodeios, e foram eles, inclusive, que promoveram o primeiro rodeio no alto Vale, na cidade de Lontras no ano de 1978, no CTG Presilha do Vale, também fundado pela família Quadros.
"Trabalhar o couro é como compor músicas"
Um segredo que Adão Quadros faz questão de mostrar é sua habilidade de trabalhar o couro. De uma tira de couro cru, chamada de guasca, Adão faz verdadeiras obras de arte, peças para serem usadas nos apetrechos de montaria. Essa habilidade lhe rende o título de guasqueiro, profissão raríssima na região, tanto que Adão é o único em Gaspar. O gaúcho exibe satisfeito o seu trabalho. São cabrestos, rédeas, travessões de chincha, maneias e uma série de outros objetos. Adão faz tudo, desde o preparo do couro, o corte dos tentos (tiras de couro que são trançadas) ao acabamento final. Até mesmo as argolas metálicas utilizadas são feitas por ele e soldadas por um de seus filhos.
Ele explica que aprendeu o ofício por conta própria, observando as peças feitas pelos guasqueiros mais antigos de sua região, e hoje conhece praticamente todos os tipos de tranças e tramas. Ele é capaz de fazer tranças com até 21 tentos. "Trançar os tentos é como compor uma música, existem formas infinitas de combinar as notas", diz.
Recentemente ganhou um livro argentino sobre o trabalho com o couro e diz que se fosse alguns anos mais joven iria para a Argentina aprender novos tipos de trançados.
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