Exposição ‘Metáfora das coisas belas’ reúne aquarelas com reflexões sobre sentimentos
Professora e pesquisadora Sthefane D’Ávila trabalha trabalha com a expressão de sentimentos por meio das imagens em 43 obras em exposição da Galeria Espaço Reitoria
Sentimentos que não encontram expressão verbal no cotidiano ganham cor e forma nas aquarelas da professora do Departamento de Zoofilia e curadora do Museu de Malacologia Prof. Maury Pinto de Oliveira, Sthefane D’Ávila, em sua primeira exposição: “Metáfora das Coisas Belas”, que será inaugurada na próxima quinta-feira (13) na Galeria Espaço Reitoria, no Campus da UFJF.
Em 43 aquarelas, a artista procura traduzir em imagens sentimentos que não encontram expressão verbal no cotidiano. “A força invisível que nos move quando não podemos andar, as horas de paz, o céu azul evocando os dias felizes da infância” descreve a docente. É a essa busca que se refere o título da mostra. Segundo a professora, cada obra é permeada por memórias e sentimentos que geraram o próprio impulso de pintar.
A técnica empregada, a aquarela, é conhecida pelas dificuldades que impõe aos que trabalham com ela e que se devem à instabilidade da água, seu elemento essencial. Sthefane, porém,converte esses supostos desafios em vantagens, reforçando que, as características da técnica permitem uma conexão ímpar entre a mão que move o pincel, a fluidez da água e a inesperada interação entre os pigmentos, de forma que a imagem resultante tem sempre algo de inesperado e surpreendente.
Sthefane explora a transparência, a delicadeza da técnica, em traços que destacam um colorido alegre e em geral suave de cenas e paisagens bucólicas e nostálgicas, que ficam situadas entre o real e o ficcional, como memórias imaginadas ou “imagens que evocam a
atmosfera simbólica dos sonhos”.
Outro elemento presente nos trabalhos artísticos é a natureza, representada não como cenário de fundo de uma ação ou um gesto humano, mas como parte indissociável de memórias e sentimentos. Característica que tem relação com a vivência da professora na sala de aula e na pesquisa em Ciências Biológicas, canais por meio dos quais, retrata a
poderia ser diferente, visto que, além da docência e da pesquisa em ciências biológicas,
a biodiversidade natural em um campo bem específico – a ilustração científica.
A arte, portanto, a acompanha também na carreira acadêmica e na divulgação da
ciência. Ao transitar entre duas formas tão diversas de ilustração – a científica, que requer
exatidão e tem caráter didático, e a artística, subjetiva e livre – Sthefane não distingue ou
delimita o lugar que elas ocupam em sua vida.
“A ilustração científica se presta a transmitir uma informação que, necessariamente, deve ser precisa e retratar a realidade. Muitas vezes é preciso diminuir a complexidade daquilo que se observa para ressaltar as informações mais pertinentes”, explica a artista. “Não há tanto espaço para a subjetividade, mas ela acaba emergindo de qualquer forma, uma vez que o ‘traço’ do artista, ou seja, as características da obra que permitem reconhecer que a ilustração foi feita por aquele determinado artista, é sempre evidente”, prossegue Sthefane. “E o que é esse ‘traço” se não um reflexo da personalidade, do olhar, do próprio ser do artista? Acho que é impossível remover a subjetividade de uma construção artística, mesmo na ilustração científica”, afirma.
“Assim, embora apresentem características diversas, a ilustração científica e a ilustração livre são igualmente fontes de realização pessoal na minha vida. Com elas, eu aprendo sobre mim mesma e sobre o mundo ao redor”, conclui.
Sthefane D´ávila acredita, inclusive, que o olhar científico se reflete em seu trabalho artístico
propriamente dito: “O biólogo, assim como o artista plástico, tem um olhar ao mesmo tempo
panorâmico e minucioso em direção ao mundo natural. Enxerga elementos que passam
despercebidos para a maior parte das pessoas, os diferentes "microcosmos" as conexões
entre os seres, os detalhes que os distinguem. Acho que esse olhar influencia, sim, aquilo que eu ilustro e como eu ilustro”, afirma.
Autodidata e filha de pais pintores, Sthefane atribui à influência deles sua “necessidade de
expressar em cores e formas o que se passa dentro de mim, o senso estético, o olhar generoso para o mundo e a natureza, que vê sentido, beleza, razão em todas as coisas”. A artista lembra que cresceu folheando os livros de arte que os pais se esforçavam para comprar e que deixavam ao alcance das crianças. “O trabalho de alguns artistas influenciaram meu olhar e imaginário desde a infância. Os artistas que falam mais alto à minha emoção são Henri Rousseau, Vincent Van Gogh e Marc Chagall”, ressalta.