Sem apoio político, BR-440 se torna mais uma obra inacabada em Juiz de Fora
Com erros de execução e impactos negativos para o trânsito, para o meio ambiente e para a população, solução para a via precisa ser atualizada para atender as demandas da região
A concepção da BR-440 atravessa décadas sem um ponto final. Desde 2020 totalmente suspensas, as intervenções e o uso da via caminham em uma direção diferente do projeto inicial. O desafio, no entanto, é estabelecer uma solução razoável, que se trace entre o projeto original, a estrutura existente, o que compreende todos os erros na execução da obra, o uso atual dado à via e o impacto que a finalização da interligação pode provocar na região.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o viaduto de interseção da BR-440 com a BR-040 estará na nova concessão da BR-040/495/ MG/BR. O DNIT ressalta que a intenção é dar funcionalidade ao segmento que já é pavimentado por meio desta obra. No entanto, não detalha como a intervenção será feita. Por outro lado, a Prefeitura de Juiz de Fora, por meio de nota, informa que, devido à complexidade da definição do que será realizado pelo DNIT, ainda não há como anunciar qualquer ação na via.
O mestre em Engenharia de Transporte e observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Luiz Britto Bastos, explica que a ideia inicial era a via fazer a ligação entre a BR-040 e a BR-267, onde o tráfego de veículos pesados ocorreria. Sobre a interferência no tráfego da região, segundo Britto, há experiências semelhantes em outras cidades brasileiras.
“Quando, de repente, a cidade cresce muito e você não tem outra alternativa, é preciso criar uma alternativa. No caso da BR-040 e da BR-267, o tráfego gerado por elas no centro da cidade é um problema sério. A gente tem caminhões circulando pelo centro da cidade, onde a gente não deveria. O objetivo dela, na época em que foi criada, era esse”, explica Britto. O mestre em Engenharia de Transporte pontua que Juiz de Fora deveria contar com um anel viário, mas isso não ocorre. Ele ainda reitera que além de não resolver os problemas, a construção criou outros, como os alagamentos e a falta de nivelamento, que coloca a BR-440 acima das demais vias da região.
“Será preciso fazer um estudo de como ela será usada. É uma via larga, será preciso verificar como será o fluxo nela. O que vai ser um trabalho para a Engenharia de Tráfego. Vai haver um binário com outra via? Temos alguma via com capacidade igual a dela para servir de binário no São Pedro? Qual vai ser o aproveitamento dado a essa estrutura?”, dessa forma, Britto dimensiona o desafio.
O observador acredita que a via deverá ser municipalizada. “Ela perdeu todas as características de quando ela foi projetada, há 20 anos. Se tivesse finalizada desde aquela época, estaria funcionando. Mas hoje é um elefante branco.” Com a ligação com a BR-440, conforme propõe o DNIT, os impactos, conforme Britto, podem ser ainda maiores.
“Grande parte do trânsito da BR-040 destinado à cidade vai cortar caminho por ali. E, desse modo, conseguimos fazer um funil. Vai chegar certo ponto lá em cima, que ela não tem para onde ir. Precisa, necessariamente, descer a Estrada Engenheiro Gentil Forn. Vai afunilar tudo e não haverá fluidez do trânsito ali naquela região por causa disso”, avalia. O estreitamento da pista, deve concentrar ainda mais o trânsito em direção ao centro da cidade. Esse é um estudo que, para Britto, vai precisar ser feito, antes de qualquer intervenção, para que a solução seja efetiva.
Discussão no campo político
Para o presidente da Comissão de Urbanismo, Transporte, Trânsito, Meio Ambiente e Acessibilidade da Câmara de Vereadores de Juiz de Fora, José Márcio Lopes Guedes (Zé Márcio Garotinho-PV), o maior dano que a obra da BR-440 causa é permanecer inacabada. Garotinho, que exerce a função de legislador desde 2013, conta que o assunto vem e volta na Câmara desde então.
“Vemos que o trânsito lá é completamente desorganizado. Há desrespeito a toda norma e regra de trânsito lá. O DNIT se omite em assumir aquela obra. A Prefeitura não pode assumir, porque ainda é uma obra do DNIT. Há problema de limpeza, há problema de sinalização, há problema de manutenção. É uma vergonha o DNIT não dar uma posição”, declara o vereador.
Ainda segundo Garotinho, a municipalização só pode ser considerada, depois que a obra estiver finalizada. ”Ela ainda não foi municipalizada, porque se fosse, quem teria que concluir a obra é a prefeitura e a prefeitura não tem esse recurso.” Outra consideração do vereador sobre o caso da BR-440 é a respeito da possibilidade de finalização de interligação com a BR-040. “Precisaremos estabelecer limites, o acesso deverá ser restrito, porque se tivermos veículos muito pesados, o tráfego na região pode ficar ainda mais conturbado.”
José Márcio ainda chama a atenção das pessoas que os deputados federais, que têm maior acesso ao DNIT, devem ser chamados a agir, em prol de uma solução definitiva para a via. Na Câmara dos Deputados a última iniciativa que tratou da BR-440 ocorreria no dia 6 de julho, quando uma audiência foi requerida pelo deputado federal Charlles Evangelista (PP) para tratar o assunto. Porém, a Comissão de Viação e Transportes da Casa cancelou o compromisso e, até o momento, não foi divulgada uma nova agenda para abordar a situação.
Esta é a terceira matéria da série sobre os impactos causados pela construção da BR-440. Leia também "Obras da BR-440 paradas há 11 anos causam transtornos para a Cidade Alta" e "Erros nas obras da BR-440 afetam a qualidade de vida da população".