Dia de prevenção ao suicídio tem foco na valorização da vida em 2022

Restabelecimento de vínculos e busca de equilíbrio nos níveis pessoal, interpessoal e coletivo são caminhos de enfrentamento

Por Renan Ribeiro

Professora Anna Paula em sala de aula


O mote destacado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), na parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV) para a campanha do mês de Prevenção ao Suicídio em 2022, o Setembro Amarelo, é “A Vida é a Melhor Escolha”. No contexto de sobreposição de dificuldades, com um retorno ao contato mais próximo de outras pessoas, após o período mais crítico da pandemia de Covid-19, que envolve reatar os vínculos se coloca como um desafio, mas ao mesmo tempo, como um meio de busca do equilíbrio.

A psicóloga clínica e educacional, professora do Centro Universitário Estácio de Juiz de Fora, Anna Paula Gomes, explica que a saúde mental, como processo, não é a ausência de doenças, mas o equilíbrio. “Temos pessoas adoecidas que conseguem encontrar um ponto de equilíbrio. Então a grande mensagem deste setembro amarelo é que a crise existencial pode trazer um resgate deste ponto de equilíbrio para a pessoa que a está atravessando.”

O contexto que vivemos, incluindo o que ocorreu durante o período mais agravado da emergência causada pela Covid-19, intensificou as adversidades que já impactavam a vida das pessoas antes. “A pandemia exacerbou muitas coisas que já estavam em andamento, vivemos muitas situações de dificuldades excessivas. Se pararmos para conversar com alguém, certamente essa pessoa vai dizer que está correndo. Não conseguimos desacelerar, é como se a produção virasse uma auto exploração. A gente não consegue celebrar, a gente não consegue ter mais ritos pessoais”, exemplifica a professora.

Esse cenário faz com que as pressões aumentem e retiram do horizonte o que dá sentido à vida. “O grande recado desse setembro amarelo é resgatar aqueles elos que nos devolvem um sentido e um propósito de vida”. Isso, conforme a psicóloga, perpassa três dimensões. A primeira é o cuidado conosco (eu), que envolve práticas que devolvem o cuidado de si. “Ouço pessoas que se queixam que não conseguem se alimentar. Não conseguem dormir, não conseguem conversar com as pessoas que estão dentro da própria casa. Essas necessidades do auto cuidado. Acho que o equilíbrio consigo mesmo, no resgate desses ritmos pessoais.”

A segunda, é a nível das relações interpessoais, ou o cuidado com o outro. “A gente tem tempo de se solidarizar com quem está precisando de ajuda? A gente tem tempo para uma boa conversa? A gente tem tempo para olhar no olho, para poder estar junto, de fato?”, questiona. Nessa esfera, num momento em que há disposição para falas agressivas, novamente o equilíbrio é o foco, conforme Anna Paula, é preciso desenvolver um olhar mais cuidadoso, de modo que as pessoas entendam que não podem se impor sobre as outras.

O terceiro nível é relativo à coletividade. “Precisamos de lideranças que tenham essa sensibilidade com o outro. Lideranças que possam propor novos caminhos, que possam, de fato, cuidar das pessoas que, às vezes, estão mais vulneráveis.” Isso inclui oferecer o atendimento adequado às questões de saúde mental. “Houve uma precarização, em termos de acesso à lugares que ofertam esse tipo de atendimento. As pessoas não têm acesso a serviços de psicologia, porque é caro. Tem lugares que oferecem esses serviços gratuitamente e não conseguem atender às listas de espera, porque são muitas pessoas. A demanda cresceu muito.” Embora as ações solidárias tenham crescido, nesse último ponto, a quantidade ainda é insuficiente para atender a todas as pessoas que passam por esse sofrimento.

Chance para a vida

O suicídio é um fenômeno complexo e que, ainda hoje, envolve uma série de tabus. Anna Paula Gomes ministrou a disciplina “Psicologia da posvenção e prevenção do suicídio”, conta que há autores que abordam a temática e lançam pontos de vista importantes. “Um deles diz que : as pessoas que estão nesse processo de sofrimento têm uma fantasia de que retirando a própria vida, esse sofrimento termina. Essa visão inclui a ideia de depois disso, a vida continua.” Ela explica que, mesmo dentro desse sofrimento intenso e com a tendência de querer se livrar da dor, há a ideia de continuidade.

“O que me chamou a atenção nesse estudo, nessa compreensão, é que essa dor sempre está endereçada a alguém, é uma necessidade de dizer para o outro dessa dor. Quando essas pessoas, geralmente, encontram esse alguém, seja em uma pessoa, ou uma instituição, que se solidariza, ela geralmente cede dessa tentativa, quando há um cuidado legítimo, é como se houvesse uma chance para a vida”, detalha. Desse modo, um olhar cuidadoso e os sentimentos de reconhecimento, pertencimento a uma história, a um lugar, podem contribuir para o enfrentamento do adoecimento.

“O investimento amoroso salva, protege, anima, resgata. Pessoas que estão cuidando de si, das crianças, dos adolescentes, das empresas que têm esse olhar cuidadoso para os seus funcionários, as lideranças que cuidam, de fato. Isso faz muita diferença na sociedade.” Essa alteração de ponto de vista contribui para a prevenção ao suicídio. “Uma sociedade que não se mutila, que se solidariza, é diferente. Não uma sociedade da indiferença, que mata, aniquila. A crise, em alguns momentos, é uma oportunidade. A crise existencial ela sempre aponta algo que a gente precisa mudar. Se o ambiente favorecer essa expressão, esse contato, ela pode acontecer de forma natural, fazendo com que a gente possa lidar com os imprevistos de um jeito diferente, do que impossibilitando a vida. A vida sempre é um caminho,” reflete a professora.

Projetos de atenção e acolhimento

São muitas as situações que podem levar ao adoecimento mental e as abordagens são múltiplas, conforme a necessidade de cada pessoa. A UFJF publicou um guia, com o foco em atendimento à saúde mental, que inclui diversos serviços abertos ao público, que envolvem profissionais e estudantes do Departamento de Psicologia, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) e do Centro de Atenção Psicossocial (Caps Liberdade) do Hospital Universitário, em 10 serviços. Confira:

Grupo Fora de Casa

O Grupo Fora de Casa, organizado pela Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, oferece apoio psicológico a estudantes que sentem dificuldade em se adaptarem à nova rotina universitária, distantes da cidade de origem.
Como participar:
Geralmente são abertas vagas todo semestre. Atualmente estão sendo oferecidas dez vagas aos estudantes que vieram de outras localidades para estudar na UFJF. Os sete encontros, facilitados pela psicóloga Camila Rocha Matos de Oliveira, acontecem na Faculdade de Letras, às terças-feiras, das 9h às 11h, de 27 de setembro e 8 de novembro. As inscrições são por meio de formulário on-line.
Público-alvo: estudantes da UFJF que venham de outra cidade
Contato: (32) 2102-3777, psicologia.proae@ufjf.br

Projeto Enlutar

O projeto Enlutar e o Ambulatório de Luto do HU/UFJF oferecem atendimento psicológico a pessoas que estão passando por luto devido a morte. A equipe realiza também intervenções de educação para a morte voltadas a profissionais de saúde.
Como participar:
Pode participar qualquer pessoa que estiver em luto devido a morte.
Inscrições por meio de formulário on-line.
Os grupos presenciais são realizados no Centro de Atenção Psicossocial (Caps Liberdade-HU), no bloco G da unidade Dom Bosco do Hospital Universitário, às sextas-feiras pela manhã. Já os grupos on-line ocorrem às segundas-feiras ou quintas-feiras à noite.
Contato: @projetoenlutar (Instagram)


Centro de Atenção Psicossocial (Caps Liberdade) e Serviço de Psiquiatria do Hospital Universitário da UFJF/Ebserh

O Caps Liberdade oferece uma gama de serviços de saúde mental, que envolve assistência social, atendimento psicológico individual e em grupo, terapia ocupacional, enfermagem e psiquiatria.
Como participar:
O serviço, aberto a toda a população, é voltado a moradores da Zona Oeste de Juiz de Fora, que inclui bairros como São Pedro, Nossa Senhora de Fátima, Borboleta, Cascatinha e Teixeiras. Há atendimento a moradores de outras áreas, quando há encaminhamentos.
Para ser atendido, o usuário precisa primeiro procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou estar em uma unidade de internação/leito (hospitais Ana Nery, João Penido e HPS). A partir desses locais, os profissionais de saúde encaminham o paciente para o Caps. Há também encaminhamentos internos dos ambulatórios do HU Dom Bosco.
Os atendimentos são presenciais, de segunda a sexta, das 7h às 18h. O Caps Liberdade fica na área do HU Dom Bosco (Av. Eugênio do Nascimento, s/n – Bairro Dom Bosco, Bloco G).


Programa Álcool e Saúde – Crepeia


O programa oferece tratamento psicológico, realizado on-line, para homens e mulheres, acima de 18 anos, usuários de álcool de Juiz de Fora e de qualquer outra cidade brasileira.
O projeto integra o Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e outras Drogas (Crepeia/UFJF).
Como participar
O cadastro é feito por meio de formulário on-line, disponível no perfil do programa no Instagram (@alcool_saude) e no site alcooolsaude.com.br.
Contato:
alcoolesaude.com.br
@alcool_saude (Instagram)
linktr.ee/alcool_saude
alcoolesaude@gmail.com


Centro de Psicologia Aplicada (CPA)


Os projetos a seguir são desenvolvidos no Centro de Psicologia Aplicada, que está localizado no Bloco C do Instituto de Ciências Humanas da UFJF, no campus. Os contatos são (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf.


Grupo de Tímidos

Atendimento grupal com base na terapia cognitivo-comportamental com o intuito de colaborar na melhoria das relações de quem sofre com a ansiedade social.
Como participar
O usuário deve entrar em contato diretamente com a secretaria do Centro de Psicologia Aplicada, para assim integrar a lista de espera para o atendimento. É necessário ser maior de 18 anos e não estar em terapia no momento.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)


Ambulatório Trans


Ambulatório de atendimento psicológico para pessoa transgênero.
omo participar
É necessário entrar em contato diretamente com a secretaria do Centro de Psicologia Aplicada, para assim integrar a lista de espera para o atendimento. Em caso de menor idade, a inscrição deve ser feita por um responsável legal, o qual também deverá comparecer a uma primeira entrevista.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)
7 – Homens Agressores
Grupos de reflexão de homens que tiveram episódio de violência contra a mulher e a família.
Como participar
Apenas participam homens encaminhados pelo Poder Judiciário de Juiz de Fora.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)

 Clarices

Atendimento psicológico para mulheres usuárias de álcool e outras drogas. O estigma associado à mulher que faz uso de drogas muitas vezes dificulta o acesso ao tratamento e a prevalência do público masculino nas instituições acaba por reforçar a invisibilidade das especificidades das mulheres.
O projeto oferece atendimento psicológico para mulheres usuárias de álcool e outras drogas em modalidade grupal e individual.
Como participar
A usuária deve entrar em contato diretamente com a Secretaria do Centro de Psicologia Aplicada, para assim integrar a lista de espera para o atendimento. É necessário ser maior de 18 anos.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)


Intervenção Neuropsicológica (para crianças)


O projeto tem como público-alvo estudantes da Educação Infantil com problemas de linguagem oral e em risco de desenvolverem dificuldades de leitura e escrita, encaminhados ao CPA/UFJF. Também atende alunos dos primeiros anos do Ensino Fundamental com dificuldades de leitura e escrita e que tenham sido encaminhados ao CPA.
Como participar
Poderão participar as crianças que forem encaminhadas ao CPA com queixas de dificuldade de aprendizagem e que forem selecionadas após uma avaliação inicial, conforme lista de espera.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)


Psicoterapia individual


O Centro de Psicologia Aplicada presta atendimento psicológico, individual ou grupal, gratuito.
Como participar:
Quando novas vagas forem disponibilizadas, o Centro de Psicologia Aplicada informará em seu site (ufjf.br/cpapsicologia) e em seus perfis em redes sociais, os dias e os horários para agendamento de entrevista para triagem, que é o momento inicial de escuta e identificação de prioridade de atendimento.
Contatos: (32) 2101-3121, ufjf.br/cpapsicologia e @cpaufjf (Instagram)
O foco neste serviço de psicoterapia do CPA é a comunidade externa. O atendimento a alunos da UFJF é realizado pela Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae). Informações podem ser obtidas pelo telefone psicologia.proae@ufjf.edu.br ou 2102-3887.