"Cultura de Paz": projeto de extensão encerra ciclo de capacitação sobre notificação de casos de violência
Um dos objetivos do trabalho é melhorar a coleta de informações que permita uma análise mais precisa da complexidade da violência e contribua para a construção de políticas públicas
O projeto de extensão “Cultura de Paz e Prevenção das Violências: Tecendo Redes”, parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) concluiu nesta quinta-feira (17) o ciclo de 16 oficinas de capacitação de profissionais de saúde que é um dos três eixos do projeto, que corresponde à Educação Continuada. Nesse âmbito, a iniciativa visa a melhorar a forma de registro de casos de violência, evitando a subnotificação.
No âmbito da vigilância em saúde, o trabalho tem como foco o preenchimento da Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/ Autoprovocada, para alimentar o Sistema de Notificação de Informações do Ministério da Saúde (Sinan). “A partir desses dados, vão ser gerados os indicadores de violência do Município, que irão nortear as políticas públicas”, explica o supervisor do setor de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (SDANT), da Secretaria de Saúde (SS), Fabrício Luis da Silva.
O supervisor explica que as capacitações reflexivas buscam sensibilizar os profissionais de saúde, quanto à importância do acolhimento e atendimento das vítimas em suas necessidades, para que a ficha, importante ferramenta para entender a complexidade do tema violência, possa ser adequadamente preenchida.
“A capacitação me deu um olhar mais crítico, ampliou as formas de abordagem. Eu acho que me fez ter uma visão melhor, mais preparada para essas situações.”, avaliou a enfermeira Renata Oliveira, que atua no Instituto Oncológico. “Apesar de não estar numa área em que as crianças sofrem esse tipo de violência, podemos, por exemplo, ao passar pela recepção do hospital , com um olhar mais apurado, identificar alguém que está passando por violência e encaminhar essa pessoa para um psicólogo, assistente social, enfermeiro, isso vai ajudar bastante”, relatou Renata.
Para Fabrício, destacam-se os retornos positivos dos profissionais participantes. “Tanto em relação aos conhecimentos que foram compartilhados, quanto em relação à metodologia que foi utilizada. Percebemos também a melhoria na qualidade do preenchimento das fichas”, adianta. Nos encontros possibilitados pelas oficinas, conforme o coordenador do eixo de comunicação do cultura de paz, Ricardo Bedendo, além desse conhecimento, os profissionais também conseguem compartilhar experiências.
“São ocorrência do contato deles com as violências cotidianas, por meio das quais conseguimos levantar a temática da violência pelo viés social, que perpassa por várias áreas da vida”, disse Ricardo, ele também ressalta que, além de reunir profissionais, envolve professores de várias áreas, além de alunos e bolsistas de cursos como: Medicina, Enfermagem, Ciências Sociais e áreas afins, permitindo que eles tenham um complemento das suas formações profissionais.
Para a coordenadora do Cultura de Paz, Cacilda Andrade, o principal impacto da iniciativa é dar visibilidade a essas ocorrências de violência, o que permite compreender onde elas ocorrem, de que maneira e quem são as pessoas atingidas por elas. “A partir daí é possível políticas públicas para que a gente possa prevenir essa violência, então, nós vamos quebrar o ciclo de violência no Município, a princípio, por meio das notificações.”
Ela pontua que as notificações são obrigatórias, no entanto, quando mal preenchidas, causam a subnotificação, o que impede a compreensão correta dos dados colhidos. “Quando a gente traz o profissional, a gente faz ele compreender o que é violência, que é um conceito complexo, que envolve vários fatores, vários aspectos”.
Fórum e Feira da Paz
A partir da próxima segunda-feira (21), o trabalho entra em uma nova fase, com a realização de quatro fóruns online. Nessa primeira data, o trabalho reunirá instituições e pessoas que integram a rede de prevenção e enfrentamento às violências na cidade e região, voltadas para a o tema da “violência contra a mulher” e tem como convidadas a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Alessandra Azalim, e a coordenadora da Casa da Mulher (Secretaria Especial de Direitos Humanos/PJF), Fernanda Moura. As orientações sobre a participação podem ser acessadas na página da iniciativa (@culturadepazjf). http://www.culturadepazjf.wordpress.com
As outras datas: 28 de novembro, 5 e 12 de dezembro terão como temas: “Violências contra a População LGBTQI+”; “Prevenção às Violências Contra as Pessoas Idosas” e “A violência silenciosa na infância e adolescência”. Esses debates estão agendados para os dias 28 de novembro, 5 e 16 de dezembro respectivamente.
No dia 19 de dezembro, o projeto realiza o primeiro fórum presencial, que ocorrerá no Cine -Theatro Central. Na mesma data, a ação leva todo o trabalho construído para apresentar para a população em uma feira que será realizada na Praça Doutor João Pessoa, em frente ao Central, das 13h às 17h.
“Todos os meses são setembro”
No eixo de comunicação da iniciativa, há duas campanhas em andamento, uma delas, expande a discussão sobre a saúde mental e a prevenção contra o suicídio, por meio da campanha "Todos os Meses São Setembro". A iniciativa é desenvolvida pelo Departamento de Saúde Mental, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A equipe esteve nesta quinta-feira (17), na Escola Municipal Fernão Dias Paes, no Bairro Bandeirantes, levando o debate sobre o suicídio na adolescência e a saúde mental.
Dentro dessa perspectiva, será apresentado nesta sexta-feira (18) no Anfiteatro João Carriço, no prédio do antigo Paço Municipal, que atualmente é a sede da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), no Centro, o documentário "Arthur Bispo do Rosário". O longa traz a história do sergipano Arthur Bispo do Rosário, que, com esquizofrenia, passou por instituições psiquiátricas entre 1938 e 1989. Ambos os eventos serão retratados pelo podcast "Cultura de Paz Entrevista", que também pode ser acompanhado pela página do projeto nas redes sociais.