Funcionária alega ter sofrido racismo dentro do Restaurante Universitário em Juiz de Fora
Uma funcionária terceirizada do Restaurante Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, de 37 anos, alega ter sido vítima de racismo na noite desta quinta (04).
De acordo com informações da Polícia Militar, a vítima relatou que estava servindo a alimentação no refeitório e o aluno, de 40 anos, não quis pegar um doce de sua mão, alegando que "não pego alimento da mão de pessoas negras".
O homem, em contrapartida, se defendeu e alegou estar sendo vítima de calúnia. Ele disse que "teria passado fome se não pegasse comida da mão de pessoas negras, já minha mãe é negra".
Ainda, de acordo com a PM, não houveram testemunhas presenciais e pelas versões das partes serem controversas "a ponto de criarem acusações mútuas de ilícitos penais" não foi possível constatar, nem mesmo de forma superficial, o que aconteceu com a mulher, bem como a materialidade dos crimes de calúnia e falsa denúncia, relatados pelo aluno.
CASO GEROU REVOLTA EM ESTUDANTES QUE ESTAVAM NO LOCAL
Em vídeo divulgado nas redes sociais o aluno, alvo da denúncia, saiu escoltado do R.U. O caso gerou revolta em diversos diretórios acadêmicos que fizeram um ato antirracismo na manhã desta sexta (05). Em nota assinada pelos Diretores de Igualdade Racial do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Pedro Arruda e Felipe de Souza Barbosa, os representantes afirmam que o ato é uma resposta não só ao caso que ocorreu ontem no restaurante universitário, mas as recorrentes situações de racismo que vem ocorrendo dentro do campus da UFJF. "Evidenciando que esse caso não ocorre de forma isolada e sim de forma sistemática tanto dentro da universidade como na sociedade no geral. Apesar do caso ter ocorrido no horário de janta do RU e alguns alunos e funcionários terem visto o ocorrido, fica evidente o despreparo tanto da administração do RU, quanto da Administração Superior da UFJF, como da PM de lidar com a situação de denúncia da violência Racial no campus."
No comunicado, os diretores reforçam que a Administração Superior da UFJF acompanhou todo o processo. Assim como membros do DCE também estiveram presentes durante todo o desenrolar dos fatos. "No entanto, o ato foi auto organizado, com a participação do DCE e outros representantes do movimento estudantil, assim como o Sintufejuf e representantes dos movimentos negros e sociais da cidade."
POSICIONAMENTO DA UFJF
Em nota, a Universidade Federal de Juiz de Fora comentou sobre o caso.
"A Administração Superior da UFJF informa que, desde o início do episódio ocorrido no Restaurante Universitário do Campus de Juiz de Fora, no dia 4 de maio, interveio e esteve presencialmente acompanhando seus desdobramentos. Naquele momento, prestou atendimento à trabalhadora terceirizada da instituição, bem como acompanhou o estudante envolvido na ocorrência. Ciente da gravidade do caso, a Polícia Militar foi acionada, considerando que se tratava de conduta potencialmente caracterizadora de crime de racismo. Durante todo o tempo em que os policiais militares estiveram no RU, realizando as diligências necessárias, membros da administração superior acompanharam o desenvolvimento das ações.
A UFJF não aceita e não compactua com ações racistas ou que expressem qualquer outra forma de preconceito. Neste sentido, tem desenvolvido políticas afirmativas e de inclusão, assim como
campanhas educativas. Da mesma forma, setores como a Diretoria de Ações Afirmativas, a Ouvidoria Especializada em Ações Afirmativas, o Comitê de Ética e a Diretoria de Controle Institucional têm tratado, de forma contundente, situações em que direitos são violados. Além de cumprir sua obrigação institucional de comunicar o ocorrido ao Ministério Público Federal, a UFJF investigará o fato em questão, por meio de Processo Disciplinar, assegurando, como é necessário nos ambientes que cultivam e valorizam a democracia, o contraditório e o direito de defesa. Em se apurando conduta imprópria no ambiente universitário, aplicará sanções conforme as normas internas e a legislação cabível.
Juiz de Fora, 05 de maio de 2023".