Ônibus voltam a circular de forma parcial, mas normalização do transporte público ainda é incerta
Comitê Gestor foi convocado para uma reunião extraordinária nesta quarta-feira (17), na qual serão discutidas as soluções para esse problema
Alguns ônibus foram flagrados pela equipe do ACESSA circulando no início da noite desta terça-feira (16), após os rodoviários de Juiz de Fora paralisarem as atividades no Centro da cidade em manifestação contra a extinção da função de cobrador. Os ônibus ocuparam toda a faixa exclusiva, em uma extensão que vai da Avenida Getúlio Vargas, e toma boa parte da Rio Branco em direção ao Bairro Manoel Honório, por mais de 4 horas, até começarem a retornar para as garagens.
A reportagem entrou em contato com o Consórcio Via JF para saber quando se normalizará toda a frota e aguarda retorno. Conforme a PJF, o Comitê Gestor, formado por sete representantes da categoria, foi convocado para uma reunião extraordinária nesta quarta-feira (17), na qual serão discutidas as soluções para esse problema.
Durante a manifestação desta terça
Como os ônibus estavam estacionados nas ruas centrais, outros trabalhadores se concentram nas garagens dos ônibus, sem ter como iniciar a jornada.
A faixa para carros se moveu com lentidão também em função do congestionamento causado pelo ato. Passageiros desceram dos coletivos e continuaram seus percursos a pé. Agentes da Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) acompanham o movimento e direcionam o tráfego em alguns pontos. Como a Avenida dos Andradas, que está em mão dupla na pista de subida para garantir a passagem dos veículos. Equipes da Polícia Militar também estão presentes. Por volta das 16h30, os trabalhadores começaram a retornar com veículos para as garagens. O ato permanece, enquanto uma comissão formada por sete cobradores participam de uma reunião para discutir a situação. Ainda não há previsão para o término do movimento.
Para os trabalhadores, o ponto central da reivindicação é a ideia de eliminar a função de cobrador e o acúmulo de função que os motoristas sofrerão com essa decisão. "É um acúmulo de função que gera uma sobrecarga imensa. Eles aumentam apenas R$200 no salário. Disseram que iriam promover os cobradores dentro das empresas e não é o que está acontecendo. Tem muita gente para trabalhar em um almoxarifado só", relata um trabalhador que terá a identidade preservada.
Os trabalhadores também criticam a postura do sindicato em relação à essa situação. "O próprio Sindicato disse que não lutaria mais pelos cobradores porque a função já estaria extinta. Sendo que continuam descontando do dinheiro da galera. Temos muitas mães e pais de família nessa situação. Estamos lutando para reverter, porque estamos sem suporte. Somos obrigados a sair com o carro mesmo com problemas. A Prefeitura também aceitou isso."
De acordo com os trabalhadores, isso inviabiliza, até mesmo, o cumprimento de horários, o que prejudica a população. "Estamos sozinhos. O motorista está sendo submetido a sacrifícios. Tem que cobrar a passagem, dirigir, olhar as portas lá atrás, atender às pessoas que usam cadeiras de rodas. O transporte coletivo está totalmente destruído. Nós que estamos na linha de frente é que sofremos as ameaças dos passageiros, sofremos as consequências que estão surgindo."
Segundo a cobradora Beatriz Alexandra Rodrigues, de 26 anos, uma comissão formada por sete trabalhadores participantes do movimento foi formada para representá-los em uma reunião com a empresa. Inicialmente, pela manhã, correu o boato de que 40 trabalhadores seriam demitidos. "Ficamos preocupados porque há muitas mães e pais de famílias que dependem desse emprego. A posição da empresa é de que não vão mandar ninguém embora".
Na reunião, conforme Beatriz, a comissão foi informada de que a ocupação de cobrador será, de fato, extinta, porém, esse processo deve durar de três a quatro anos, até ser concluído. Nesse período, como foi dito na reunião, oferecem cursos e outros meios de ingresso no mercado de trabalho.
"Vamos nos reunir, estamos tentando entrar em acordo, porque precisamos apoiar a categoria. Vamos continuar paralisados até termos um consenso", afirmou Beatriz. Ela também reiterou que a manifestação ocorreu de forma independente. Sem o consentimento nem do Sindicato e nem da empresa. "Não temos apoio do sindicato. Somos nós por nós".
Mobilização para o protesto
Em mensagem compartilhada pelo Whatsapp a categoria convocou a população e em especial os cobradores para o movimento. "Atenção população de Juiz de Fora, em especial aos mais De 1200 cobradores que estão em risco total de estarem nas estáticas de desemprego do país, graças a sanha predatória do empresário que detém todo o Transporte da cidade (Monopólio) com a permissão ou omissão da PJF, vereadores e entes que deveriam defender e lutar pela classe.", diz um trecho da mensagem.
Posicionamentos do VIA JF, Sinttro e PJF
Ao longo da tarde, o Consórcio VIA JF publicou uma nova nota à imprensa, na qual reitera o veemente repúdio ao movimento. Alegando que se trata de uma ação ilegal. "O Consórcio considera essa ação altamente prejudicial à população e contrária aos princípios legais que regem o funcionamento do transporte público.
O transporte coletivo desempenha um papel fundamental na vida dos cidadãos, garantindo o deslocamento seguro, eficiente e acessível para milhares de pessoas diariamente. É inaceitável que um grupo de indivíduos tente impor suas demandas por meio de uma paralisação que ignora os canais legítimos de negociação e diálogo."
Destacando os prejuízos para a população e o comprometimento do acesso, o Consórcio reiterou que reconhece a importância da valorização dos direitos trabalhistas e das condições dignas de trabalho. " Entretanto, enfatiza que as negociações e reivindicações devem ser realizadas dentro dos limites estabelecidos pela legislação vigente e pelas instâncias competentes, a fim de evitar transtornos desnecessários para toda a comunidade. Assim, o Consórcio Via JF reconhece o direito de greve constitucionalmente garantido, desde que seja exercido em conformidade com a lei e respeitando os princípios básicos do bom senso e da responsabilidade social."
O comunicado também frisa o compromisso de promoção do diálogo aberto e transparente com os sindicatos e representantes dos trabalhadores, visando a busca de soluções equilibradas que atendam tanto às necessidades dos profissionais do transporte coletivo quanto às demandas da população."
O texto ainda reconhece a necessidade de valorização dos direitos trabalhistas como fundamental para garantir a qualidade de vida dos colaboradores, buscando oferecer salários justos, benefícios adequados e um ambiente seguro e saudável. "Além disso, a empresa está comprometida em proporcionar condições dignas de trabalho, incluindo investimentos em capacitação profissional e a implementação de medidas que promovam a segurança e o bem-estar dos motoristas e cobradores." Por fim, a nota ainda confirma que a empresa já instou as autoridades competentes a tomar as medidas necessárias para coibir a paralisação ilegal e garantir o restabelecimento imediato do transporte coletivo em Juiz de Fora.
O Sinttro-JF comunicou que vai acompanhar o movimento até o fim do dia e que não está promovendo a paralisação. A Assessoria de Imprensa do Sindicato informou que os diretores estão avaliando o que vai acontecer para que ele possa se posicionar e que até o momento o Sindicato está buscando o diálogo com os atores para não prejudicar a população com um movimento desordenado.
Também por meio de nota, a Prefeitura pontuou que sempre esteve em contato com os trabalhadores rodoviários por meio de sua representação institucional, que é o seu sindicato, o qual, inclusive, possui assento no Comitê Gestor do Transporte na cidade.
"A Prefeitura acompanha atentamente o movimento em curso, comprometida que a população de Juiz de Fora não seja lesada em seu direito ao transporte público".
No fim da tarde desta terça-feira (16), o secretário de Comunicação, Márcio Guerra, em vídeo divulgado pela Prefeitura, reiterou que o protesto foi feito por uma parcela dos trabalhadores do transporte rodoviário, que estão descontentes com as tratativas firmadas entre o Sindicato e a representação patronal. "Importante ressaltar que esses entendimentos são de natureza trabalhista, nos quais a Prefeitura não é parte."
O secretário de Comunicação também pontuou que não foi informado oficialmente à Prefeitura ou ao Comitê Gestor do Transporte Público, sobre a circulação de ônibus sem cobradores no domingo. Embora o secretário de Mobilidade Urbana, Fernando Tadeu David, na posição de presidente do Comitê Gestor, tenha informado em vídeo publicado na página da Prefeitura de Juiz de Fora, no dia 19 de janeiro, sobre a anuência do Sindicato, dos usuários do sistema e da Prefeitura sobre essa decisão.
"A Prefeitura reitera o compromisso de exigir o cumprimento da Lei 14.209/2021, que assegura a manutenção dos postos de trabalho e também informa que o Comitê Gestor foi convocado para uma reunião extraordinária nesta quarta-feira (17), na qual serão discutidas as soluções para esse problema".