Lares formados por pais solo ainda são minoria no Brasil

Getúlio Barbosa, pai solo, destaca a importância de construir uma relação baseada no respeito e no afeto com os filhos

Por Renan Ribeiro

Getúlio Barbosa, aos 77 anos, ao lado das filhas Angelina, Estefany e Isabela e dos netos: Luís Phillip,Kaio, Luiza e Aurora

O número de domicílios chefiados por mães solo no Brasil aumentou de 17,8% entre 2012 e 2022, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) contido em estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas. Uma população que passou de 9,6 milhões para 11,3 milhões de mulheres. O número de pais solo também aumentou ao longo desse período, no entanto, eles ainda respondem por menos de 4% dos dos domicílios do país.


O lar do aposentado Getúlio Barbosa é um desses casos. Ele se lembra da alegria que sentiu quando recebeu a notícia de que seria pai pela primeira vez. O aposentado casou-se com Dalva e teve três filhas, além de Cristiane, filha de outra relação. A esposa faleceu em 1992, quando Angelina tinha 7 anos, Estefany tinha 4 e Isabela apenas 2 anos. Para ele, foi o momento de assumir a criação das meninas. “Eu tive que continuar a vida, ser pai e tratar minhas filhas bem. Eu acompanho e tenho uma relação muito sadia com meus filhos. Procuro tratar todo mundo bem, resolver os problemas e consegui cumprir meu dever de pai”, reflete.


Para a filha Angelina de Lima Barbosa Ramos, gestora da qualidade, as memórias dessa construção de paternidade são palpáveis. “Ele sempre foi muito trabalhador e honesto. Sempre trabalhou fora. Quando chegava, levava queijo, doce de leite. Quando chegava de madrugada, fazia um mexidão e acordava todas nós para comermos com ele.” Com a morte de Dalva, vieram algumas mudanças. “Ele ficou mais rígido- hoje, consigo mensurar o tamanho da responsabilidade que ficou nas mãos dele- e acredito que essa era a forma com a qual ele demonstrava afeto. Não é fácil, nem comum ver um homem abandonar o trabalho para cuidar de três filhas mulheres pequenas”, conta Angelina.


As adaptações, a flexibilidade, a forma de construir confiança e segurança, foram moldando o elo entre Getúlio e as  filhas. “Então, a gente era pequena, mas recordamos que, para as roupas, realmente, ele não tinha muito bom gosto! Comprava sempre cores aleatórias, tipo azul, verde. Cabelos sempre bem curtinhos, porque um cabelo grande dá trabalho, imagina três”, diverte-se a filha.

No cuidado, Getúlio estava sempre presente. “No que tange doenças, ele sempre foi muito criterioso e cuidadoso, graças a Deus! Nós ficávamos doentes, ele fazia xarope caseiro, própolis, levava no postinho. Sempre cuidou direitinho de nós. Além disso, tinha eu, que era maiorzinha e dava uma força -do meu jeito,mas dava”, confidencia.

Hoje, Getúlio tem 77 anos e o legado que construiu, conforme Angelina conta, é fundado em valores como dignidade, lealdade e honestidade, que são repassados para os netos. “Somos mulheres que fazem acontecer. Temos nossas famílias e filhos criados em lares dignos. Meu pai ensinou pra nós a frase que hoje em dia está muito em voga, que é:’ninguém solta a mão de ninguém. Tenho irmãs muito unidas umas às outras e isso é fruto, com certeza, da criação dele.”

Para ele, é fundamental que o respeito esteja sempre na base das relações. “Eu estou satisfeito, acho que estou dando conta do recado direitinho, fazendo as coisas certinho, respeitando minhas filhas de coração”.

Para todos os pais, não apenas para os pais solo, Getúlio aconselha a ser o exemplo. “Que cuide da família direitinho, dê o exemplo, crie com carinho, sem agressão, nem com os filhos, nem com as mães deles. Esse é o conselho que eu dou.”