Precisamos, com urgência, da desadaptação criativa
A urgência da desadaptação criativa
A solução de toda crise carece de desadaptação criativa.
Toda crise ambiental e socioeconômica só é superada porque existe o exercício de desadaptação criativa.
A necessidade faz o sapo pular.
Dessa constatação, tenho me nutrido, principalmente, nos dias que antecedem a Rio + 20, evento que tem caráter positivo, diante da crise global.
É chegada a hora da mudança que olhávamos com olhos de lonjura.
Sabemos que precisamos modificar nossos hábitos de consumo baseados no desperdício, nossa expectativa de felicidade associada ao acúmulo de bens materiais, nossa relação antropocêntrica com a natureza e blá-blá-blá. Todo mundo sabe disso, o chocólatra sabe dos riscos do excesso de chocolate, mas continua comendo; nunca estivemos tão bem informados e nunca fomos tão destrutivos do ponto de vista ecológico, a questão não é o saber...
Entendo que uma das saídas para a crise ambiental não seja a informação pura e simples, ela tem que vir transmutada em ações cotidianas, em que a gente possa botar a mão na massa, incorporar, de forma colaborativa, comportamentos condizentes com os anseios de um mundo colapsado. A ideia é trazer para minha realidade aquilo que é preciso ser feito, dentro das minhas possibilidades e limitações, tem que fazer sentido para virar ação, senão é utopia, e viver, já dizia o poeta, é melhor que sonhar.
Talvez eu não possa salvar a Amazônia, mas eu posso, na breve influência dos meus hábitos de consumo, escolher por serviços e produtos ecológicos - pode procurar, eles já existem, e estão ficando cada vez mais numerosos. Mas acho que os grandes tratados mundiais sobre sustentabilidade devem ser mais palatáveis para nós, pobres mortais, é tudo tão complexo e distante (agora sei porque nunca aprendi matemática...).
O pulo do gato é: como, partindo de uma consciência do agravamento da saúde planetária, ir além, dar um passo adiante, em busca da almejada desadaptação criativa, única possibilidade de sobrevida? Não sabemos ao certo, se soubéssemos não faríamos encontros sobre sustentabilidade, mas sabemos que só é possível quando buscamos juntos, daí os números tão expressivos da Rio + 20.
O que estamos aprendendo, também, é que numa economia globalizada como a nossa, o fator integração dos países gera o efeito cascata para o bem e para o mal. Estamos no mesmo barco, e há quem diga, como o ex-chefe do Greenpeace, Paul Gilding, que ele já esteja furado.
Por isso, a economia verde inclusiva, única esperança de futuro, deve ser encarada como estratégia de guerra, corda guia de mergulhadores. Misturando ciência com criatividade, ela é o retrato de um Brasil que já dá certo. Veja alguns exemplos apresentados pela Coope/UFRJ na Rio + 20.
Cimento ecológico, feito também de fibra vegetal: além de reaproveitar o resíduo da agroindústria, gera emprego e renda para o homem do campo;
Plástico super resistente: pode virar matéria-prima para confecção de novos produtos, o que ainda não acontece;
Usina de ondas, que tira energia do movimento das águas marítimas: para um país costeiro como o nosso, é muito importante. Já existe no porto de Pecém, no Ceará;
Trem de levitação magnética (já tem no Japão, China e Coreia): é um meio de transporte não poluente, de pouco consumo energético e baixo custo de implantação - a era da família futurista Jetsons já chegou!
Enquanto toda essa revolução tecnológica fica nas mãos dos cientistas, dá para a gente ir fazendo nosso dever de casa. Como?
Evitando o consumo exagerado, preferindo produtos naturais, dizendo não para embalagens plásticas, separando nosso lixo, poupando água, apagando luzes, escolhendo produtos da economia local...
Esta desadaptação criativa é importante porque quando as tecnologias presentes nos estandes estiverem disponíveis nas nossas cidades, estaremos prontos para elas.
Abraços verdes!
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Cecília Junqueira é gestora ambiental, pós-graduada em problemas ambientais urbanos
e integrante da "Mundo Verde projetos ambientais".