Sobre ?gua em p? e outras maluquices leg?timas

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Sobre ?gua em p? e outras maluquices leg?timas
Juliana Machado 26/11/2014

Sobre água em pó e outras maluquices legítimas

Quem me conhece de perto sabe o quanto tenho ideias malucas envolvendo questões ambientais. Uma das ideias que mais circulam pelos meus neurônios é a possibilidade de produção de água líquida a partir da água em pó. Não sei se isto já existe, nem sei se isto é quimicamente possível. Mas só sei que é uma ideia que mora em minha mente há um bom tempo. Não tenho competência técnica para colocá-la em prática, assim como não tenho competência técnica para tornar real a maioria das minhas ideias malucas para salvar a natureza. Mas não posso deixar de dizer que acho a ideia sensacional (modéstia à parte). Se por acaso algum leitor souber que esta ideia já se tornou real e que funciona em algum lugar do planeta, por favor, converse comigo, quero saber mais.

Não seria sensacional você ir ao supermercado comprar uma latinha de água em pó, abrir e deixá-la exposta ao calor do sol enquanto lentamente aquele sólido pó vai se tornando um translúcido e precioso líquido? Talvez meus amigos químicos queiram me matar neste segundo, mas, desculpa gente, eu ainda tenho umas viagens científicas bem infantis. Eu acho que resolveria grande parte dos problemas do mundo. E se organizações internacionais patrocinassem o glorioso "pó de água" de modo que sua aquisição se tornasse grátis? Olha que maravilha! Bem, tenho um amigo que me chama de Poliana, mas enfim... Às vezes eu gosto de olhar a vida com óculos mais coloridinhos, você não?

E se todos nós botássemos para fora esse cientista maluco pirado lélé da cuca que com certeza existe dentro de cada um de nós? Ia ser uma grande tempestade de ideias tortas que aposto que dariam alguns bons resultados. Mas a gente deixa a ciência ser mesmo essa coisa cinza em laboratórios gelados com luz branca de Led. E quando eu digo "a gente" bato no peito e faço um grande mea-culpa. Porque embora eu fique devaneando sobre água em pó e outras doideiras, continuo dentro do sistema, esse entendido muitas vezes como lento e sem graça. Nada de rebeliões mentais, é preciso manter uma imagem. As agências de fomento, pesquisadores renomados, revistas de grande fator de impacto e universidades tradicionais não tolerariam essa anarquia científica... Será?

Essa semana um pesquisador austríaco criou um acessório que transforma a água que está em forma gasosa no nosso ar, em água em estado líquido. Isto é feito em um pequeno e elegante aparelho movido à energia solar e que pode ser acoplado em bicicletas. Quando você pedala por aí curtindo a paisagem, o aparelho resfria o ar em um condensador resultando em água líquida potável. Eu fiquei apaixonada por essa proposta. Já pensou nisso em grande escala que sucesso? Fiquei orgulhosa, mas senti um tapa na minha cara: Esse pesquisador aí com certeza pensa diferente da gente. As luzes de Led do laboratório mental deste cara são com certeza bem coloridas... Que haja muita ideia torta colocada em prática ainda por aí, porque penso que talvez só assim muitos abismos poderão ser evitados na história nada natural do nosso planeta.


Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.