A sociedade l?quida do selfie
A sociedade líquida do selfie
Neste sentido, venho relembrar um episódio que ficou famoso também nas redes sociais nos últimos dias. Na Argentina, um grupo de turistas encontrou um filhote de golfinho fora da água e, ao invés de devolvê-lo ao mar, tratou de realizar uma série de selfies com o animal, que acabou morrendo. Outras versões vieram à tona dizendo que o animal já chegou morto na praia. Não importa. A verdade é que naquele momento, aconteceu um absurdo. Quase ninguém se compadeceu do filhote. A empatia estava longe daquele cenário. A reflexão ética, a compaixão, a vontade de ajudar, nada disso fazia parte do episódio. Predominava a necessidade de registrar, de aparecer, de se expor, tudo em ampla velocidade, para logo seguir para uma nova “fast-fake-aventura”.
Foi deprimente no que se refere às noções de ecologia. Não houve nenhuma identificação com à natureza. Fico pensando que muitos ali no mínimo viram o filme Avatar em que há uma mensagem de certa reverência natureza. No filme ela passa longe da ética ideal, mas já representa um enorme passo se comparado ao atual comportamento que temos com Gaia, a Terra, nossa casa e seus demais inquilinos. Ao mesmo tempo, o episódio do golfinho morto na praia representou todo um modo de viver sobre o qual estamos nos baseando. Só que este modo é líquido, e como tudo que é líquido, não sustentará a construção sólida de nenhum de nós. Este episódio me fez pensar para onde estamos indo como espécie biológica. Me fez sentir vergonha moral. Sentir dúvidas quanto ao modo como estamos educando as pessoas. Refletir sobre como as tecnologias atuais alimentam esse já intrínseco comportamento egoísta que possuímos. Sim, porque a culpa não é do smartphone, nem do Facebook ou do Instagram. A culpa é nossa. Estamos emburrecendo, falhando como possível espécie pensante. E isso é muito triste...
- Ah, o verão...
- Por um 2016 mais vivo!
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Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.
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