Recebendo visitas

Por

Juliano Nery 3/12/2010

Recebendo visitas

Os acontecimentos que transformaram o Rio de Janeiro em uma praça de guerra na última semana, ainda proporcionam consequências não catalogadas nos registros de mais um capítulo das páginas da segurança pública brasileira. Seja pela instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ou pela tomada dos pontos de tráfico em inúmeras favelas cariocas, existem diversos pontos a se descortinar até abrirmos a segunda página desta saga.

Juiz de Fora e região, neste sentido, podem ganhar uma nota de rodapé nessa história, sem que muitos cheguem a perceber. A pecha de país sem memória, que acostumamos a nos auto-credenciar, pode nos fazer esquecer que os evadidos dos morros e favelas do Rio de Janeiro, que não foram mortos e nem presos durante a ação policial, precisam de um novo local pra se estabelecer...

Pense bem, caro leitor. Nossa cidade tem todo o aparato necessário para atender à demanda do tráfico de drogas. Estamos próximos da cidade maravilhosa, temos um clima louco, porém, agradável, um considerável número de usuários de droga, como em todo lugar, e alguns pontos de venda já consolidados em alguns bairros. Temos montanha, gente bonita, queijo e goiabada. O que mais querer da vida? — distância da tropa de elite do Batalhão de Operação das Polícias Especiais (BOPE) e do foco das ações repressivas do estado, bastante interessado em retirar o problema do Rio de Janeiro, cidade do futebol de 2014 e olímpica, de 2016.

O que temo com toda essa conjuntura é que o rigor e o requinte apresentado na última semana no Rio de Janeiro não seja levado a cabo no que sobrar da violenta estrutura do tráfico. Afinal de contas, não é todo dia que se coloca o exército na rua e tanques de guerra a serviço do estado. A geração de novas células, descentralizadas e pulverizadas em regiões próximas ao Rio, podem representar uma ameaça para cidades como Juiz de Fora, onde a força policial contará com os recursos peculiares a essas corporações. Torço para que as medidas preventivas tomadas pela ação conjunta das Polícias Rodoviária Federal e Militar possam surtir o efeito de evitar que novas roupagens sejam adquiridas para este tipo de ação criminosa. Serão necessárias preparação e alternativas adequadas para receber este tipo de visita.

Somente nos últimos dias, nossa cidade registrou atuações importantes da força policial no combate ao tráfico de drogas, concedendo mostra de que as ações ocorridas na capital fluminense tiveram prosseguimento por aqui. Principalmente, neste momento inicial e de "pós-guerra", é necessário um acompanhamento cuidadoso e incisivo, para que o vértice das causas não desvie demais do saldo das consequências. E o que é pior, gere um novo problema... Aqueles que podem virar a nota de rodapé lá do primeiro parágrafo.

O sucesso das ações no Rio de Janeiro é louvável e merece honrosa menção. Fica a expectativa que esta efetividade alcançada por lá se estenda em todo território nacional. Não se tem tropas de elite em todos os lugares. Cedo é para se ter acesso às páginas de mais este capítulo da história da segurança pública nacional. E é preciso cuidado com as visitas que podemos receber neste período, recebendo com a gentileza por vocação dos mineiros, mas, com a devida cautela, que também nos é peculiar.

Juliano Nery adora receber visitas. Mas, só abre a porta, depois de conferir o "olho mágico".


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.