Esporte mais lucrativo do pa?s tem dificuldade de florecer em Juiz de Fora

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Juliano Nery 20/4/2011

Time favorito

O Tupi Futebol Clube completa 99 anos em maio. O que é motivo de comemoração, já que quantas agremiações se perderam no percurso de quase um século e o fato de existir já merece, portanto, congratulação: deixa um gosto de quero mais na boca do torcedor. Além de juiz-forano, o torcedor do Galo Carijó é brasileiro e, como tal, apaixonado pelo esporte bretão. Basta ver a quantidade de camisetas de times exibidas nas ruas, principalmente, a dos clubes cariocas, para ver o quanto a cidade respira futebol. E o quanto merecia um time melhor...

O sexto lugar deste ano no Campeonato Mineiro e a não classificação são entes sintomáticos na história de um clube que sempre fica no quase. Este ano, quase se classificou para a Série D do Campeonato Brasileiro. No ano passado, quase ganhou do Ipatinga no Estádio Radialista Mário Helenio e, consequentemente, ficaria entre os quatro melhores times de Minas. Em 2007, quase Romário jogou por aqui. Quase, quase, quase... E em quase um século, o máximo que conseguiu foi chegar perto da Série B do Brasileiro, em 1997, quando precisava de dois pontos em três jogos, sendo dois em casa e, conseguiu perder a vaga no quadrangular, que teve como epílogo, a derrota para o Sampaio Correa, time do Maranhão, dentro de casa. Chegou perto, é verdade, em alguns mineiros, como em 1987 e 2003, é verdade. Isso sem contar o episódio do "Fantasma do Mineirão", que assombrou Cruzeiro, Atlético e América, em 1966. Mas, nunca chegou lá, na faixa de campeão estadual.

Culpa dos técnicos, dos jogadores, das diretorias, dos torcedores, da falta de investimento das empresas e da municipalidade? — Acompanho a equipe "quase" sempre nos últimos dez anos, um décimo da história do clube, mas pelo que pude apanhar desta síntese é que o quase vale para todo mundo: já vi time mal escalado, alguns atletas despreparados, má gestão do clube e falta de apoio em todas as escalas. Estádios vazios, aportes de patrocínio em valores muito aquém do necessário são itens comuns, para um clube que podia ser maior.

Estranho pensar que o esporte mais lucrativo não floresça, como as orquídeas de outubro, em uma cidade próxima do eixo Rio-Sampa-Beagá. Os principais times estão nessas rotas e as empresas patrocinadoras, também. A cidade tem boa estrutura de serviços, gente bonita e boas casas noturnas. Tudo que jogador de futebol deseja para escolher onde vai atuar. Por que, então, o Tupi não é atrativo? — Acho que sinergia, embora, sintético, pode ser o melhor termo que responde a pergunta. Falta articulação para que o futebol seja melhor valorizado por aqui. Isso vale para o Sport e para o Tupynambás. E vejo como louvável, a iniciativa dos clubes pleitearem recursos mais substanciais para que as atividades sejam mantidas durante o ano todo e não só na disputa do Campeonato Mineiro. É necessário lutar para que o esporte possa ser mais importante em nossa cidade.

A capacidade do futebol em mover o torcedor ao estádio passa pela formação de uma identidade com o time. Para tanto, é necessário constituir ídolos, divisões de base mais fortes e investimento para que tudo isso aconteça. É assim que um clube se torna o favorito do torcedor. Daí para a frente, é paixão, e aí, já deixa de ser somente razão.

Juliano Nery comprou uma camisa do Tupi Futebol Clube em 2011 e espera
que no centenário existam boas ocasiões para usá-la.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.